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O gênio, a cidade e a luz
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

O gênio, a cidade e a luz

Neste último 29 de maio, um evento ocorrido em Sobral, há cem anos, mudou para sempre a visão que o homem tinha do universo a partir de uma nova relação estabelecida entre tempo e espaço. Há uma centena de janeiros, cientistas de renome aguardavam pacientemente na Princesa do Norte, bem como em São Tomé e Príncipe, um minúsculo arquipélago lusófono situado no Golfo da Guiné, na África, por um eclipse solar que pudesse servir de comprovação à Teoria Geral da Relatividade. Proposta por Albert Einstein em 1905, foi aperfeiçoada por ele em 1915, quando sua cabeça genial sugeriu o espaço-tempo curvo. Um simples funcionário alemão de 26 anos, com um lampejo, botou abaixo todos os conceitos elaborados até então na Física, iniciando pela demolição do museu de velharias científicas criado por Isaac Newton, onde tempo e espaço eram fixos.

Naquele dia do final do mês de Maria, um grupo de estudiosos ingleses, norte-americanos e brasileiros, vestidos com roupas claras sob a canícula sobralense e a nebulosidade de São Tomé, olhavam ansiosamente para o céu em busca da confirmação cósmica para a célebre equação (E = mc²) escrita pelo maior físico de todos os tempos. Súbito, na Praça do Patrocínio, entre 8h58min e 9h03min da manhã, em longos e inesquecíveis cinco minutos, o sol se apagou na abóbada celeste e a temperatura caiu. Muita gente se refugiou nas seculares igrejas da cidade, rezando e chorando, temendo pelo fim do mundo. Galos se entreolhavam, confusos, perguntando-se se teriam que anunciar novamente o dia, o que tinham feito há pouco. Contudo, tão rápido quanto sumiu, o astro-rei surgiu de novo, aos gritos de "viva!" dos cientistas. Em São Tomé, o céu encoberto eclipsou o eclipse. É Sobral!

Mas, o que haveria de tão cerebral em tão formulação teórica? Para quem, como eu, estudou no Colégio Cearense, a coisa toda é de simples compreensão (aí, dentro, Guarany!): O campo gravitacional de astros de grande massa, como o Sol, distorce o percurso dos raios de luz, fazendo com que esta passe a ter uma natureza dual de onda e partícula. Um grupo de estrelas fotografado durante o eclipse solar, melhor momento para se comprovar esse fenômeno, apresentou posições distintas no claro e no escuro. Com isso, a velocidade, antes medida pela multiplicação do tempo pelo espaço, inalterados segundo Newton, seria agora, na versão constante da velocidade da luz, o produto de duas grandezas variáveis. Não entendeu, caro(a) leitor(a)? Primário mal feito é osso. Sem a tal teoria não teríamos a transmissão sem fio, os celulares e GPSs, satélites. Captou aí?

Ao saber do ocorrido, Einstein, emocionado, declarou: "A questão que minha mente formulou foi respondida pelo radiante céu do Brasil". Aliás, pelo de Sobral, não é, Herr professor? Enquanto o mundo da ciência comemora o centenário do grande feito, vive-se neste país um obscurantismo de dar dó. É um tal de terraplanismo para lá, um tal de criacionismo para cá, negação do saber, satanização da universidade pública, olavismos absurdos (pleonasmo), uma doideira só. Enquanto o m(s)inistro da Educação patina na chuva da própria ignorância e recalque, seu mais ajuizado colega dá uma de astronauta perdido no espaço. Recém-instalada na margem esquerda do Rio Acaraú, a estátua reluzente de Einstein parece gargalhar dessas patuscadas. Passa um menino com a mãe e pergunta: "Quem é esse aí?". A mulher responde: "Sei lá. Parece que é Montalverne...".

Foto do Romeu Duarte

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