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Uni duni tê, salamê minguê, um sorvete colorê, o vereador escolhido foi ...
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Adailma Mendes é editora-chefe de Economia do O POVO. Já foi editora-executiva de Cidades e do estúdio de branded content e negócios, além de repórter de Economia

Uni duni tê, salamê minguê, um sorvete colorê, o vereador escolhido foi ...

Se a pandemia já nos faz viver vários momentos com certo distanciamento, imagina quando ela agrava uma realidade já posta. Quem de fato escolhe um vereador munido das informações certas e com a segurança de que aquele é o candidato com o qual se identifica e com “bandeiras” que apoia? Poucas vezes na vida ouvi alguém defendendo com propriedade porque votar neste ou naquele candidato a vereador, quem soubesse enumerar iniciativas do pretenso ocupante a uma cadeira no legislativo municipal.

Lembro na mocidade, no São João do Tauape, bairro em que cresci, sempre ouvir o nome de um candidato que por fim foi eleito a vereador. Muitos até sabiam dizer o que ele já fazia pela região e como se propunha a representar a comunidade na Câmara Municipal de Fortaleza. Hoje, até entre os amigos mais cuidadosos com o direito ao voto, há quem não tenha a menor ideia em quem vai votar no dia 15 de novembro de 2020.

Em uma busca simples pela internet, também não se encontram muitos recursos para ajudar nessa missão de escolher um vereador para Fortaleza. São 1.352 candidatos aprovados para concorrer às cadeiras no legislativo municipal - com 43 ocupantes hoje. Quem pode escolher em tamanho universo se não tiver bem próximo a um dos candidatos? Alguns sites até ensaiam buscas de candidatos por alguns critérios, como gênero, formação educacional e profissão. Mas depois de fazer a tímida busca, pasmem: não encontrei indicação, dentre os nomes que foram selecionados, sobre o que cada um propunha como atuação, fosse um traçado geográfico na Cidade ou de âmbito de políticas públicas - educação, diversidade, mobilidade?

Voltando ao candidato lá do São João do Tauape, sinto o abismo entre a sociedade e os candidatos a vereadores - ainda mais com cada partido tendo agora que responder pelos seus, sem a opção de pretendentes com junção de siglas. Se o Prefeito é o grande síndico da nossa Cidades, cadê os zeladores dos bairros ou de áreas da Capital? Vereador é pra ser aquele que a gente tem perto da gente. Que olha pra rua, pra praça, pra pequena creche. Que ouve moradores e faz propostas de melhorias. Capaz de propor projetos e também de derrubar outros. O cargo no Brasil não é pouca coisa. Além do papel social que tem, pode ainda custar até quase R$ 19 mil mensais à sociedade - teto salarial do cargo no Brasil é de R$ 18.991,68.

Se a opção for por tentar escolher pelas mídias sociais, o caldo engrossa ainda mais. São bizarrices atrás de bizarrices. Circo de horrores. Muitos que viralizam - termo na moda há alguns anos - são às custas de imagens desrespeitosas e preconceituosas. Candidato com arma na mão, mulheres com os seios à mostra chamando para eventos dos candidatos pela Cidade, gritos, berros e todo tipo de despautério.

Quando vivemos com foco só nos cargos maiores de liderança ou com uma nuvem de desconhecimento e pouco acesso a mais informações sobre os representantes que deveriam ser mais próximos das comunidades, que representatividade teremos realmente nas decisões do futuro da nossa Cidade e dos nossos bairros? No uni duni tê salamê minguê, sorvete colorê, o escolhido foi ... NÃO DÁ.

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