.MUITO antes de a bola rolar ontem à noite, entre Fortaleza e Corinthians, fluiu a informação segundo a qual Marlon, do Fortaleza, havia acertado sua transferência para o Ceará. Os efeitos foram de um traque molhado, apesar do enxame de interrogações na tentativa de explicar o que, aparentemente, nem tem como.

.CRAQUE, por exemplo, Marlon não é, tanto que, durante todo este tempo vestindo a camisa tricolor, jamais foi titular. Menos que seja um perna de pau, que não é, mas craque jamais foi. Nunca passou de um jogador de elenco, também conhecido como polivalente. No linguajar das antigas, espécie de coringa.

.QUAL, então, a diferença do coringa de ontem para o polivalente de hoje? Fácil resposta — é o jogador que atua, indistintamente, em todas as posições, sem se fixar em nenhuma delas. Com Ceni, por exemplo, chegou a atuar como lateral-direito. Titular, entrando de saída, nenhuma, se a memória não falhar.

MOEDA FURADA

.NESSE caso, para que servirá o Marlon ao Ceará, se jogador de meio campo no alvinegro, contam-se às rumas? Duas vertentes da questão. Número um — o Ceará queria dar o troco pelo Fortaleza por ter desviado o caminho do Bergson, da Ponte Preta para o Pici. Tipo do troco com moeda furada.

.NÚMERO dois. Como o contrato de Marlon se encerraria no final do ano, o Fortaleza teria esquecido de procurar o atleta, de propósito ou não, para, ao menos, prorrogá-lo até o final do Brasileirão em fevereiro. Tem gente sofrendo de amnésia pelos lados do Pici.

. INSTILE-SE mais outro dado. Qual? Como ganhava relativamente pouco, o Ceará lhe ofereceu, digamos, R$ 20 mil a mais, elastecendo-lhe o contrato até o ano de 2022. Caiu do céu para um jogador sem tanta perspectiva assim, sem muita serventia, a não ser compor o elenco. Quem se lembra de um gol do Marlon com a camisa do Fortaleza? Favor levantar os dois braços.

.SE a intenção do Robinson de Castro foi o de pisar de propósito nos calos do Marcelo Paz, também não surtirá tanto efeito assim. Paz sentiu-se aliviado. Será menos um na alentada folha do Pici.

SEMELHANÇAS

.NOVE entre dez torcedores do Ceará, em coro, fazem a mesma pergunta — quer dizer, então, que o que não serve para o Fortaleza serve para o Ceará? Qualquer semelhança com o caso Bergson não é mera coincidência. Impacto zero. A torcida alvinegra esperava algo bem melhor.

. OUVIDO no elevador do vizinho. A próxima investida do Ceará será no goleiro Boeck, que Ceni tratou de enterrá-lo numa eterna reserva.

.TAMBÉM, quem mandou o Fortaleza, fazer com o Boeck um contrato quilométrico de 5 anos? Virou figurinha carimbada, cansou a beleza de todos, inclusive a dele...

O INTELECTUAL

.CHAMUSCA é um técnico letrado. Ou seja — sabe lidar muito bem o português, o que, de há tempo, se sabia. Entrevistá-lo, então, é um prato cheio. Ele aproveita o espaço para mostrar o seu saber, acima da média dos demais colegas.

.PINÇADAS de uma de suas últimas longas entrevistas, pois fala feito uma matraca. Algumas joias raras da língua pátria, cuja intenção era a explicar por qual razão queria dar ao Fortaleza uma nova cara, afugentando para longe o fantasma do Ceni, que ainda ronda o Pici.

.QUEIRAM, por favor, recortar — "A gente precisa ter melhor jogo de entrelinhas para furar pelo lado. Na nossa equipe não temos entrelinhas". Que maravilha!

. MAIS uma joia — "Quando enfrentarmos um bloco baixo teremos alternâncias para usar corredores e jogar também por dentro". Mas que beleza!

.TEM mais, cara pálida? O material é farto —"Estou dando ênfase na pressão pós-perda, pressão no campo do adversário. Isso posto, os pontos de mudanças envolvem a consciência coletiva. Isso só pode acontecer se tivermos melhor compactação dos blocos em evolução. Ou quando sair para transitar, ao lograr roubar a bola e sair jogando...". Machado de Assis tremeu nas catacumbas.

. MORAL da história. Chamusca está na profissão errada. Nasceu para ser orador da turma do Sorbonne ou então candidato, futuramente, a uma vaga na Academia Brasileira de Letras...

. TEVE jogador, atento a entrevista do "professor", após um belo cochilo, saiu-se com esta -"Não entendi nada do que ele disse, só sei que foram palavras que nunca tinha ouvido na minha vida".

RASTILHOS DE PÓLVORA

.COVID não respeita cara, quanto mais apito. Árbitro de jogo de ontem à noite, Ricardo Marques Ribeiro, contraiu o vírus. Ás pressas foi substituído por Bráulio Machado ... /// CORINTHIANS mudou de presidente. O anterior deixou o clube uma terra arrasada. Mudar de presidente em pleno andamento de uma competição, que herança maldita ... /// CENI em queda livre no Flamengo. De cara, perdeu duas decisões. Seu fã-clube da terrinha já começou a entoar o hino da volta — "Mito, mito". Tremei, Chamusca!