Locutor esportivo da Rádio O POVO CBN. Radialista formado e acadêmico em jornalismo pela Universidade Estácio, já trabalhou em diversas rádios de Fortaleza, atuando como narrador e em outras funções, incluindo a parte técnica. Esta coluna trata sobre mídia esportiva e analisa os avanços das transmissões esportivas em todas as plataformas
Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Jogadores da seleção brasileira comemoram gol em amistoso contra a Tunísia
A tecnologia ampliou o acesso às transmissões, mas trouxe um novo vilão para a experiência: o delay. Hoje, o gol pode nascer três, quatro, cinco vezes no mesmo ambiente, dependendo do app, da TV ou da conexão. O “ao vivo” nunca foi tão relativo.
Há alguns anos, acompanhar um jogo ao vivo significava basicamente uma coisa: todos viam o lance ao mesmo tempo. A diferença entre quem estava na TV aberta e na TV por assinatura era mínima — alguns segundos, nada que comprometesse a experiência coletiva. Hoje, essa lógica acabou. O delay dos serviços de streaming transformou o ato simples de assistir a uma partida em um exercício de paciência… e, às vezes, de frustração.
Em muitos lugares, especialmente bares e restaurantes, a cena se repete: o mesmo jogo em diferentes telas, mas com cada uma “vivendo” um tempo próprio. Em uma TV, o gol sai. Na outra, a jogada ainda está no meio de campo. Em outra, o time ainda está batendo o lateral. Já presenciei discrepâncias que chegavam a quase um minuto. E o mais curioso: todas as TV estavam ligadas à internet, mas cada uma usando um aplicativo, um sistema, um modelo de smart TV ou uma configuração de rede diferente.
O resultado é um caos para quem quer viver o futebol como sempre viveu: coletivamente. O gol deixa de ser um momento único — vira um anúncio. Alguém grita antes, alguém descobre antes, alguém perde a surpresa. E, no esporte, a surpresa é uma parte essencial da emoção.
Claro, o delay sempre existiu. Mas ele nunca foi tão perceptível, tão variável e tão determinante como agora. Antes, havia basicamente três caminhos: TV aberta, TV por assinatura e o clássico sinal via satélite — todos com diferenças pequenas.
Hoje, há dezenas: Globoplay, Prime Video, YouTube, CazéTV, Premiere no streaming, apps de TVs, players embutidos, transmissões digitais independentes… cada uma com sua cadeia técnica própria, seus buffers, seus servidores, seus gargalos…E a experiência do torcedor vira refém disso.
O curioso é que estamos, ao mesmo tempo, no melhor e no pior momento da transmissão esportiva. O melhor porque nunca se transmitiu tanto, com tanta variedade, qualidade e alcance. O pior porque essa abundância fragmenta o tempo real — um conceito que sempre foi a alma do esporte ao vivo.
A pergunta é: dá para resolver? Sim, tecnicamente é possível reduzir o delay. Algumas plataformas já trabalham com transmissões de baixa latência, que diminuem drasticamente o atraso. Mas isso exige padronização, investimento e, principalmente, vontade das empresas — porque reduzir o delay pode encarecer a operação ou limitar algumas funcionalidades.
O fato é que, enquanto o problema não é encarado de frente, continuaremos vivendo esse “descompasso” coletivo. Um gol que nasce várias vezes. Uma emoção que chega picotada. Um futebol que, em vez de unir, acaba dividindo segundos, telas e experiências.
O esporte é ao vivo. E o delay, hoje, é o maior inimigo dessa essência.
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