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Mulher Honoris Causa
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Escritora. Estreou como romancista em 1989, com Boca do Inferno (prêmio Jabuti de revelação). É autora de Dias & Dias (2002, prêmio Jabuti de romance e prêmio da Academia Brasileira de Letras)

Ana Miranda crônica

Mulher Honoris Causa

Tipo Crônica

Acordei, hoje, com uma frase na cabeça, uma frase impressionante, um verdadeiro ovo de Colombo que me mandaram no celular: Metade da humanidade são mulheres e a outra metade são os seus filhos. Claro! Óbvio! Como nunca pensei nisso? Não canso de repetir. Metade mulheres, metade seus filhos. Como as mulheres são importantes! Bem dizia a Virginia Woolf, musa do feminismo: as mulheres ficaram durante séculos gerando, criando, educando a humanidade.

Sinto ao mesmo tempo orgulho e um frio no peito, de imaginar a nossa responsabilidade como mulheres e mães da humanidade inteira. Recebi a frase porque segunda foi o Dia das Mulheres. Os nossos telefones se encheram de mensagens bonitas, desenhadas, animadas, originais, floridas, afetuosas, ensaios de admiração. Mas não me mandaram dizer nada que tenha sido feito, nesse dia: uma lei, um novo hospital para mulheres, um índice menor de violência, a premiação de uma heroína, o aumento dos salários femininos, o desvendar de um assassínio... Como diz uma amiga juíza do civil e criminal, muito brava: Não queremos flores, queremos que não nos matem. Ela é fantástica, não tem medo de nada.

Sei que as mulheres estão fantásticas. Acho que são elas que vão salvar o mundo. Antes da pandemia eu viajava pelo Brasil adentro e em cada cidade, em cada aldeia, tribo, em cada teatro, casa ou sala de aula eu encontrava mulheres à frente de algo bom que estava acontecendo. Nas profundezas do país, nos jornais, nas revistas, na tela de meu pequenino celular de onde me vem o mundo, são mulheres a realizar, criar, mulheres verbos, ação, mulheres guerreiras. Mulheres fortalezas, sacerdotisas, deusas, amazonas, elas têm um raio nas mãos: saem pelo mundo como aves, como feras, e estão mostrando do que são capazes. E ainda vão para a cozinha, trocam fraldas.

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Hoje dominam a razão e a intuição. Sabem pensar e sabem sentir. Sabem sair de casa e ficar dentro de casa. Parece que o mundo agora só aceita a visão feminina, o mundo precisa dessa suavidade e doçura, dessa fluidez, sutileza, dessa mente tão complicada que entende a complicação do mundo, desse coração tão cálido que lança chamas de amor, afeto, compreensão. O mundo está precisando das mulheres. A postos! Claro, existem as que nem merecem o título de Mulher.

Deveríamos dar o título de Mulher, tanto a mulheres como a homens. O poeta Mempo Giardinelli, do Chaco, recebeu-o e o pendurou numa moldura dourada na sua sala, é o título de que ele mais se orgulha, até mais do que ser poeta. Para receber o título de Mulher é preciso ser contra a guerra, contra as armas, contra a violência. Ter a generosidade de uma mãe, a paciência de uma flor, a esperança de um sonho. Tentar ser feliz e fazer os outros felizes, como dizia a minha mãe. Saber ser livre e libertar as outras pessoas. Ter suor para a luta, sangue para a indignação, lágrimas para o sentimento e a dor do outro. Como a amada escritora Carolina Maria de Jesus, que recebeu o título de Doutora Honoris Causa, após passar a vida catando lixo para dar de comer aos filhos. Ter asas como uma sabiazinha, aprender a voar.

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