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Stock Car: a maior mentira das pistas brasileiras
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Stock Car: a maior mentira das pistas brasileiras

A Stock Car é uma disputa emocionante com automóveis especialmente preparados e que tem como ponto alto o equilíbrio de desempenho. O público vibra com pilotos do naipe de Rubens Barrichello, Ricardo Zonta, Cacá Bueno, Daniel Serra, Nelson Piquet Jr e muitos outros disputando palmo a palmo o pódio da mais prestigiada categoria do automobilismo brasileiro.

A Stock Car existe desde 1979. As primeiras temporadas contavam com organização e patrocínio da GM e só corriam Opalas especialmente modificados para as pistas. Depois, vieram outros Chevrolets mas abandonada a ideia do carro original preparado: tornou-se uma "casca" envolvendo um carro de corrida.

Em 2003, a GM se afasta da organização abrindo espaço para outras marcas. Além dos "pseudo" Chevrolets, entraram também no esquema mentiroso simulacros de Peugeot 306, Mitsubishi Lancer e VW Bora. Todos com as entranhas rigorosamente idênticas, escondendo sob uma carroceria de plástico num chassis tubular, motor (V-8 norte-americano), câmbio, suspensão, freios e direção preparados por empresas especializadas. Nenhum parafuso sequer semelhante ao modelo original, apenas seu logotipo na grade.

O equilíbrio da disputa deu relevância à Stock Car e incentivou o público (nas arquibancadas ou pela tevê) a torcer por suas "marcas". Na verdade, eram carros de competição procurando levar ao mercado a ideia de estar na pista o mesmo modelo do showroom com algumas adaptações.

As outras marcas desistiram mas a GM voltou - em 2017 - a investir pesado na categoria, com todos os pilotos ao volante do mesmo "Cruze" com motor V-8 de 5,7 litros, 550 cv, e que, de Chevrolet, só tem a gravatinha na grade.

A grande novidade para a temporada de 2020 que teve início no último fim de semana no autódromo Ayrton Senna (Goiânia), foi a adesão de uma nova marca, a Toyota. A partir de agora, todos os pilotos continuam dirigindo o mesmo carro, alguns mascarados de Cruze, outros de Corolla. Um novo motor V-8 foi desenvolvido nos EUA pela Triad para a Gazoo Racing, a divisão de competições da marca japonesa. Mas os motores do Cruze (V-8, com a mesma cilindrada e potência de 550 cv) são também calibrados pela Giaffone Racing.

Não deixa de ser curioso que pistas e competições sempre representaram um verdadeiro contraponto à imagem da Toyota no Brasil, com modelos "bem comportados", estilo e mecânica "caretas". O capricho da marca sempre foi uma inegável qualidade, mas o Corolla, de tão insosso, foi apelidado de "Vovôrolla". Enquanto a Honda, pelo contrário, tem o Civic Si, um esportivo entre os mais rápidos nacionais.

O que aconteceu em Goiânia foi o reinício de um show nos autódromos baseado numa propaganda enganosa que pretende iludir o público (só na tevê, por enquanto), levando-o a acreditar numa disputa entre carros Chevrolet e Toyota. Além de duvidosa, quase desnecessária, pois a Stock Car independe das fábricas: as equipes contam com poderoso apoio publicitário de fortes empresas das áreas farmacêutica, autopeças, combustíveis, lubrificantes, pneus, baterias e outras. E a presença dos mais festejados pilotos brasileiros (neste ano, também argentinos).

Algumas fábricas (como a Peugeot) já tiveram a cara-de-pau de anunciar a vitória de "seu carro" na Stock Car como resultado do bom desempenho e resistência do modelo.... Outras investem acreditando que o bom resultado do carro ostentando seu logotipo na grade alavanque vendas. Como dizem nos EUA em relação às corridas de carros turismo: "Win Sunday, Sell Monday" (Ganha no domingo, vende na segunda-feira).

Aqui, ficaria mais adequado: "Win Sunday, Lie Monday" (Ganha no domingo, mente na segunda)....

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