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Há chance de "zebra" em Fortaleza?
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Há chance de "zebra" em Fortaleza?

Tipo Opinião
APESAR de resistência de alas dentro do PT que defendem aliança com PDT, Luizianne deve ter candidatura anunciada dia 13 (Foto: Marília Camelo/Especial para O POVO)
Foto: Marília Camelo/Especial para O POVO APESAR de resistência de alas dentro do PT que defendem aliança com PDT, Luizianne deve ter candidatura anunciada dia 13

Qual o cenário mais provável para um possível segundo turno em Fortaleza? Zebras à parte, é difícil imaginar hoje qualquer situação diferente da polarização entre os dois principais grupos políticos do Estado: um representado pelo governismo, ligado ao prefeito Roberto Cláudio (PDT), o governador Camilo Santana (PT) e os irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT), e outro pela oposição do Pros, fortemente atrelada às corporações militares do Estado. Este último já possui candidato definido, o deputado federal Capitão Wagner (Pros), enquanto a base aliada ainda trava disputa interna para definição da chapa.

Mas é impossível, a preço de hoje, "dar zebra" - termo pelo qual se convencionou chamar, na política e no futebol, resultados inesperados - em Fortaleza? De forma alguma. Como os próprios candidatos menores fazem sempre questão de lembrar, a Capital cearense gosta de ser rebelde e "surpreender" no quesito eleições. O exemplo mais lembrado é o da primeira vitória de Luizianne Lins (PT) em 2004, quando a então deputada saiu de um percentual minúsculo nas pesquisas para uma eleição totalmente fora do script.

Agora, se uma disputa fora do cenário previsível não é impossível, há de se dizer que ela é, pelo menos, difícil e muito pouco provável. Desde os anos que culminaram nas muitas surpresas de 2018, o Brasil tem aprofundado processo de polarização que transformou quase todos os palanques locais do País em uma disputa entre continuísmo - o "tudo isso que está aí" - e uma oposição radicalizada. Na maioria do País, essa relação está expressa na disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o PT do ex-presidente Lula. O Ceará, no entanto, tem caso sui generis, onde Ciro Gomes e seu grupo político ainda mantém a frente.

PMs e retroescavadeiras

É difícil imaginar, portanto, que prospere justamente agora - ano em que Cid Gomes avançou com uma retroescavadeira sobre PMs que realizavam motins e fechavam comércio - qualquer candidatura de fora dessas duas forças. Ainda que Capitão Wagner tente negar ser candidato de Bolsonaro, é mais que óbvio que a pecha será colada nele por seus adversários. Isso sem nem entrar no mérito do recall que o deputado já possui, por ter ido ao 2º turno em 2016, e da força que as máquinas da Prefeitura e do Estado emprestarão ao candidato apoiado pelo PDT.

Ainda que se leve em conta o peso dos pré-candidatos no páreo, como o sempre surpreendente Célio Studart (PV) e os experientes Heitor Férrer (SD) e Renato Roseno (Psol), além da própria Luizianne, o cenário parece bem menos provável. Repito: Nada é impossível. Mas é importante destacar o que é fato. O cenário não é nada favorável.

Luizianne, uma das candidaturas fora da polarização previsível em Fortaleza
Foto: Marília Camelo/Especial para O POVO
Luizianne, uma das candidaturas fora da polarização previsível em Fortaleza

Rebelde, mas nem tanto

Até mesmo o argumento dos candidatos menores, da tal "rebeldia" de Fortaleza, não encontra tanta sustentação fática no histórico da cidade. Quando Luizianne venceu em 2004, ainda que a então deputada fosse "pequena" e não contasse com apoio da cúpula do PT Nacional - que apoiou Inácio Arruda (PCdoB) na disputa -, ela ainda representava junto à população tanto o partido quanto a mudança de postura que levou Lula à Presidência da República. Ainda que sem o aval da burocracia petista, Luizianne fazia parte de uma lógica que já vinha crescendo em todo o Nordeste. Não era, portanto, uma completa "outsider".

O próprio Heitor Férrer, quando ficou a 2,3% dos votos de tirar Roberto Cláudio do segundo turno em 2012, não era de forma alguma um neófito. Ex-vereador da Capital e deputado por vários mandatos, Férrer era também o principal opositor do então governador Cid Gomes na Assembleia Legislativa, onde se notabilizou por um estilo sempre em alta entre o eleitorado: o do oposicionista denuncista e anticorrupção. Difícil falar, portanto, em zebra.

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