O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Qual o cenário mais provável para um possível segundo turno em Fortaleza? Zebras à parte, é difícil imaginar hoje qualquer situação diferente da polarização entre os dois principais grupos políticos do Estado: um representado pelo governismo, ligado ao prefeito Roberto Cláudio (PDT), o governador Camilo Santana (PT) e os irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT), e outro pela oposição do Pros, fortemente atrelada às corporações militares do Estado. Este último já possui candidato definido, o deputado federal Capitão Wagner (Pros), enquanto a base aliada ainda trava disputa interna para definição da chapa.
Mas é impossível, a preço de hoje, "dar zebra" - termo pelo qual se convencionou chamar, na política e no futebol, resultados inesperados - em Fortaleza? De forma alguma. Como os próprios candidatos menores fazem sempre questão de lembrar, a Capital cearense gosta de ser rebelde e "surpreender" no quesito eleições. O exemplo mais lembrado é o da primeira vitória de Luizianne Lins (PT) em 2004, quando a então deputada saiu de um percentual minúsculo nas pesquisas para uma eleição totalmente fora do script.
Agora, se uma disputa fora do cenário previsível não é impossível, há de se dizer que ela é, pelo menos, difícil e muito pouco provável. Desde os anos que culminaram nas muitas surpresas de 2018, o Brasil tem aprofundado processo de polarização que transformou quase todos os palanques locais do País em uma disputa entre continuísmo - o "tudo isso que está aí" - e uma oposição radicalizada. Na maioria do País, essa relação está expressa na disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o PT do ex-presidente Lula. O Ceará, no entanto, tem caso sui generis, onde Ciro Gomes e seu grupo político ainda mantém a frente.
É difícil imaginar, portanto, que prospere justamente agora - ano em que Cid Gomes avançou com uma retroescavadeira sobre PMs que realizavam motins e fechavam comércio - qualquer candidatura de fora dessas duas forças. Ainda que Capitão Wagner tente negar ser candidato de Bolsonaro, é mais que óbvio que a pecha será colada nele por seus adversários. Isso sem nem entrar no mérito do recall que o deputado já possui, por ter ido ao 2º turno em 2016, e da força que as máquinas da Prefeitura e do Estado emprestarão ao candidato apoiado pelo PDT.
Ainda que se leve em conta o peso dos pré-candidatos no páreo, como o sempre surpreendente Célio Studart (PV) e os experientes Heitor Férrer (SD) e Renato Roseno (Psol), além da própria Luizianne, o cenário parece bem menos provável. Repito: Nada é impossível. Mas é importante destacar o que é fato. O cenário não é nada favorável.
Até mesmo o argumento dos candidatos menores, da tal "rebeldia" de Fortaleza, não encontra tanta sustentação fática no histórico da cidade. Quando Luizianne venceu em 2004, ainda que a então deputada fosse "pequena" e não contasse com apoio da cúpula do PT Nacional - que apoiou Inácio Arruda (PCdoB) na disputa -, ela ainda representava junto à população tanto o partido quanto a mudança de postura que levou Lula à Presidência da República. Ainda que sem o aval da burocracia petista, Luizianne fazia parte de uma lógica que já vinha crescendo em todo o Nordeste. Não era, portanto, uma completa "outsider".
O próprio Heitor Férrer, quando ficou a 2,3% dos votos de tirar Roberto Cláudio do segundo turno em 2012, não era de forma alguma um neófito. Ex-vereador da Capital e deputado por vários mandatos, Férrer era também o principal opositor do então governador Cid Gomes na Assembleia Legislativa, onde se notabilizou por um estilo sempre em alta entre o eleitorado: o do oposicionista denuncista e anticorrupção. Difícil falar, portanto, em zebra.
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