O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), "comemorou" recente guinada na postura de alguns opositores do governo com relação a vacinas contra a Covid-19. Nas últimas semanas, deputados e vereadores que antes questionavam a necessidade de aplicação dos imunizantes agora têm celebrado a chegada de lotes das vacinas nas redes sociais. "Eu fico feliz que essa turma, que por vezes debochava da vacina, negava a ciência, agora está mudando o discurso e se rendendo às evidências", diz.
Mesmo sem citar nomes, o prefeito se refere a parte da oposição no Estado, como o deputado André Fernandes (Republicanos) e o vereador Carmelo Neto (Republicanos), que chegaram a publicar conteúdos questionando a eficácia de vacinas, em discurso semelhante ao que era usado por Jair Bolsonaro até o início do ano. Carmelo, por exemplo, chegou a chamar a vacina chinesa CoronaVac, com eficácia geral de pouco mais de 50%, de "roleta russa" nas redes sociais.
"Quero mesmo que todos compreendam que a vacina é importante. É só uma pena que essa mudança deles ainda não chegou lá fora (em referência ao Governo Federal)", diz Sarto sobre a mudança. Assim como ocorreu no caso do próprio Bolsonaro, "ex-críticos" das vacinas tentam agora dizer que não estavam questionando a vacinação em si, mas sim a aplicação de imunizantes sem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de uma possível aplicação compulsória e vacinas.
O argumento faz pouco caso da memória e da inteligência das pessoas: Dado o fator reiterado das críticas e o contexto da época, é mais que óbvio que o interesse era questionar e minimizar o pioneirismo do governo João Doria (PSDB-SP), adversário de Bolsonaro, na campanha de vacinação. Nas redes sociais, o presidente chegou ao ponto de contabilizar como vitória pessoal uma suspensão da análise da CoronaVac pela Anvisa. "Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou Bolsonaro.
Um exemplo muito claro da guinada de postura da oposição é a análise de dois projetos sobre vacinação apresentados pelo vereador Inspetor Alberto (Pros) - bolsonarista "puro sangue" e ex-assessor de André Fernandes.
O primeiro, de 22 de janeiro, fala da "faculdade" do fortalezense se submeter à vacinação contra a Covid-19. Se somando ao coro dos que faziam terrorismo sobre possíveis efeitos colaterais de imunizantes, o projeto tentava proibir uma "vacinação compulsória" - coisa que nunca esteve sequer em pauta - em Fortaleza. À época, já era bastante claro que o município iria viver o problema contrário, da falta de vacinas para atender a demanda da população.
Escrevi sobre isso inclusive na coluna de 25 de janeiro: "Propostas do tipo supõem a existência de um movimento no sentido contrário, como se a Prefeitura ou o Governo do Estado quisessem forçar as pessoas a serem imunizadas. A realidade, infelizmente, é a oposta: Não teremos vacinas para todos que procuram. Os vereadores podem ficar tranquilos". Mais uma vez, relembrar o contexto da época - com a base bolsonarista voltada contra a campanha de vacinação de São Paulo - é fundamental.
Já o segundo projeto de Inspetor Alberto, apresentado em 5 de abril, obriga a Prefeitura a garantir vacinação vinte e quatro horas por dia para garantir maior velocidade à campanha de vacinação. Uma mudança e tanto.
Política é imprevisível, mas um texto sobre política que conta o que você precisa saber, não. Então, Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.