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Tédio visual
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Daniel Maia é professor doutor de Direito Penal da Universidade Federal do Ceará (UFC), sendo também advogado criminalista e colunista semanal do O POVO

Daniel Maia opinião

Tédio visual

Tipo Opinião

Você já sentiu tédio? Geralmente é uma falta de vontade de fazer, de participar ou mesmo simplesmente de ver alguma coisa que é muito chata, desestimulante e banal.
Pois é, tédio é um estado emocional ou psicológico que todos, em algum momento da vida, sentimos. Alguns de nós sentem quando a noite de domingo se aproxima e a ideia de um trabalho chato na segunda-feira já entedia o restinho do fim de semana; outros sentem tédio com a vida de casado e a rotina que ela traz; já há pessoas que sentem até ao assistir programas de televisão.
A lista de situações entediantes é infinita, creio eu. Passa desde aulas monótonas de assuntos que os alunos não estão interessados; leituras superficiais e que nada agregam e depois da décima quinta página o leitor nem se lembra do começo da história, e por aí vai...
Atualmente, eu confesso que o que tem me deixado entediado é o Instagram, com todos aqueles corpos definidos e eu com minha barriguinha de cerveja; aquelas legendas profundas sobre Deus, volta por cima ou sofrência e eu achando que todas são do Caio Fernando Abreu; com aquelas mulheres que mais parecem deusas envoltas por uma beleza profana, recheadas de botox e silicone, embaladas em biquínis implícitos em seus corpos modelados pela natureza e também pela cirurgia plástica e eu ainda me encantando com a beleza que encontro no cérebro das pobres mortais que conheço.
Há um quê de nostalgia nesse meu texto, deve ser a idade que avança com rapidez, e com ela a falta de paciência para pessoas sem conteúdo, ou a simples conclusão de que nada, ou quase nada, do que se vê no Instagram pode ser real sem que também seja ao mesmo tempo banal.
Há um tédio visual em quase tudo o que se posta na rede e o que fazer para curar esse tédio?
Quem sabe esperar a próxima rede social que traga alguma novidade que viralize e nos anime, mesmo que isso nos mantenha em um ciclo vicioso de bobagens, ou então se conformar em ser feliz com as pessoas de verdade que temos acesso e vemos com suas tão apaixonantes imperfeições.
Mas não parece ser esse o caminho que a humanidade tem seguido, uma vez que cada vez mais se prefere viver na viciante ilusão da expectativa daquilo que se vê no mundo virtual, ao invés do provar do cálice, por vezes amargo, da vida real.
Respeito quem segue esse caminho cyberilusório, mas prefiro ficar com Woody Alen, que certa vez disse: “A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife”.

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