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Transposição e dia histórico: para quem?
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Transposição e dia histórico: para quem?

Tipo Opinião

Parte da obra importante para a região local, um trecho do Eixo Norte das águas do Rio São Francisco foi inaugurado na última sexta-feira, 26/6. A relevância se dá pelo fato de a obra trazer água do Velho Chico, como é conhecido o rio, para o Ceará. A solenidade que marca a chegada das águas da transposição é histórica para o Estado. No entanto, não houve destaque algum na edição impressa do O POVO no dia da inauguração.

A manchete da capa aborda o pacote de incentivos à economia anunciado pelo governador Camilo Santana, que fora destaque no dia anterior no portal e nas redes sociais. O tema também foi manchete no concorrente Diário do Nordeste, que publicou a chamada: "Águas do S. Francisco chegam ao Estado". Em matéria de quatro páginas, o Diário apresentou o tema, abordando a factualidade da inauguração, o contexto histórico e imbróglios políticos.

Na capa do impresso do O POVO, uma chamada para algo relacionado à obra: "No Ceará, ministro desconversa sobre paternidade da Transposição". Na matéria, o ministro do Desenvolvimento Regional afirma que a obra não é do atual presidente, mas do "Estado brasileiro".

É, de fato, surpreendente que, pela grandiosidade da obra, pela expressividade para a região e pelo valor que O POVO dá a fatos regionais, a Transposição tenha passado intacta, em um dia histórico, pelo jornal. Leitores reclamaram e associaram a ausência à presença do presidente Bolsonaro à inauguração.

Alegam que a falta de destaque se deve a uma postura ideológica velada da mídia, mais preocupada com aspectos político-partidários do que com a notoriedade da obra, tão necessária à região.

Ausência

"Passei a vida ouvindo falar na chegada dessa água, ela chegou hoje e ninguém falou!", escreveu Marcos Brito. "E as águas do São Francisco? Onde estão na capa do jornal? Enquanto imprensa, vocês deveriam noticiar e não ter lado político", anotou Rodrigo Benevides. Nivaldo Bezerra também sentiu falta: "Chega o dia de hoje, 26/6/20, uma data importante para o Nordeste e principalmente para o Ceará, e vejo esta imprensa se apequenar escondida, fazendo papel ideológico ou econômico, quando deixa seus leitores sem conhecimento de um fato histórico, que é a chegada das águas do São Francisco ao Ceará".

Não se pode dizer que o assunto passou incólume à cobertura do O POVO ao longo dos anos. A transposição das águas do São Francisco é tema recorrente por aqui. Seja no acompanhamento das obras, seja na cobertura de paralisações, retomadas e anúncio de verbas, seja na cobrança pela continuidade dos serviços, o jornal sempre noticiou. Abordou o assunto, inclusive, em seus editoriais, como prova da preocupação institucional com o tema. Pelo menos oito reportagens especiais escancaram a inquietação urgente com a espera pelas águas.

Os anos se passaram e, no dia da inauguração, O POVO não deu o devido destaque. Houve motivo para a queixa dos leitores, que aguardavam uma cobertura mais robusta. É preciso ressaltar que a notícia da inauguração esteve durante o dia no portal e nas redes sociais do jornal.

O editor de Política, Gualter George, reconhece o erro na falta de destaque: "É uma reflexão que fazemos internamente e que, sim, nos leva a concluir que merecia mais do que oferecemos. A falha que há, e admitimos que há, tem a ver com a ausência na edição de material complementar que apontasse melhor a importância histórica do que aconteceria nesta sexta no Ceará, de como a obra nasceu, de tudo o que foi necessário enfrentar para que fosse avançando, das compreensões que se foi tendo governo após governo de que ela precisava ser tocada e, enfim, do gesto final que seria protagonizado, para felicidade de todos, do presidente Jair Bolsonaro. Também parece um erro não ter sinalizado para o farto material de que dispomos nas nossas plataformas acerca do acompanhamento atento e presente do O POVO sobre o pari passu da obra."

Gualter lembra que apenas um trecho foi entregue e que o tema continuará na pauta.

O assunto é muito maior do que partido, é muito mais grandioso do que qualquer gestor que participe da inauguração. É um marco. Documento histórico que é, o jornal não deve ignorar fatos relevantes para o seu registro. O POVO, que tem entre seus valores a preocupação com o regionalismo, ignorou a importância do assunto que ele merecia ao mesmo tempo em que deu margem a ilações fantasiosas.

Não se pode colocar sob questionamento uma cobertura tão vigorosa, que aborda uma pauta que atravessou décadas, viu crises políticas e econômicas e costurou narrativas. Contamos tanto da peleja da seca e nos esquecemos de contar da alegria da água por vir. A pauta está acima de quaisquer motivações - sejam de governos, sejam de governantes.

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