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Editorial, comercial e interesse público
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Editorial, comercial e interesse público

Tipo Opinião

A relação entre o comercial e a Redação (a parte editorial no todo) de um veículo jornalístico não deve ser motivo de questionamento por parte do público. As consequências das relações comerciais sobre as pautas editoriais precisam ser objeto de reflexão constante, pois a venda dos anúncios, por mais necessária que seja à sobrevivência de todo jornal, não deve se sobrepor à independência editorial do veículo.

Alguns exemplos: nos últimos meses, anunciantes usaram espaço publicitário no O POVO para comentar conteúdo editorial. Na semana que passou, uma empresa publicou um "informe publicitário" para responder a nota de uma coluna do jornal. Alegou que havia enviado e-mail para o colunista contando sua versão e o colunista não publicou. Enquanto isso, o colunista alega que não recebeu o e-mail. O resultado foi um anúncio publicado nas páginas do O POVO com a versão da empresa.

No mês passado, outras duas empresas utilizaram espaços publicitários do jornal, os "publieditoriais", inclusive nas redes sociais, para comentar suas relações com a construção do loteamento imobiliário nas dunas da Sabiaguaba. Enquanto uma construtora afirmava que reforçava o "cumprimento de todas as leis do Plano de Manejo da Sabiaguaba", outra informava, também em anúncio, não ter "qualquer relação com o loteamento".

Foi em julho quando o jornal passou a publicar, mais frequentemente, matérias relacionadas aos estudos sobre as construções imobiliárias nas dunas da Sabiaguaba. Ora, era necessário recorrer aos espaços pagos para que as empresas dessem suas versões sobre o caso?

No caso do anúncio em resposta à coluna, há problema editorial. O "outro lado" precisa ser ouvido no espaço em que é citado nas seções editoriais do jornal - princípio basilar do Jornalismo. E ao outro lado é sempre dada voz, quando ele é citado, acusado, quando ele sente essa necessidade e a Redação avalia que é preciso. Não precisa pagar por um anúncio para dar sua versão.

Influências

Desse modo, cria-se suspeição sobre o jornal, na medida em que se questiona por qual motivo alguém precisa recorrer a um espaço pago. O jornal não teria dado o espaço editorial para o outro lado se manifestar? É uma desconfiança que O POVO precisa evitar. Além disso, abre-se brecha para que o "outro lado" apresente os fatos à sua maneira, sem uma contextualização necessariamente jornalística, como seria se estivesse em um espaço editorial - numa notícia, por exemplo. O jornal explicaria o contexto.

O fato serviu para mostrar que faltava uma etapa na checagem dos anúncios, conta Marcus Soares, diretor-geral de Negócios do O POVO. Segundo ele, a partir do episódio, houve uma mudança de procedimentos. Qualquer nota, que cite o editorial (uma matéria, nota ou jornalista, por exemplo), será submetida a uma avaliação da Diretoria Comercial e da Diretoria da Redação. "Faremos isso para atender ao ponto de vista editorial primeiro. Vamos inserir uma etapa de checagem para perceber se é uma necessidade do cliente ter sua opinião publicada ali, sempre priorizando a abordagem editorial, ao dar o direito ao contraponto", comenta.

De acordo com Marcus, a ideia não é censurar previamente o texto do anúncio, mas mostrar para o anunciante que é um direito, no Jornalismo, que "o outro lado" seja ouvido.

A Chefia da Redação comenta: "Entendemos que os anunciantes têm o direito ao livre comunicar. E não cabe ao conteúdo jornalístico dizer ou determinar o que deve conter em espaços não editoriais. O contrário também se aplica. Editorialmente nosso procedimento determina que a parte citada seja procurada e ofereça sua versão ao fato narrado. Quando não quer falar, ou não responde, é dever nosso sinalizar isso em nossas coberturas. Não entendemos que eventuais críticas feitas em espaços não editoriais coloquem sob suspeita nosso trabalho". Complementa que a relação entre comercial e editorial é de "absoluto respeito", com planejamento conjunto.

Merece reconhecimento o fato de a área de negócios incluir uma etapa de verificação no seu processo de trabalho e priorizar o editorial. Afinal, a atenção com a informação e a independência editorial afetam significativamente a credibilidade de um jornal. Ademais, deve-se tratar como espaços diferentes os textos editoriais e os anúncios. Seria preocupante que um mantivesse interferência direta no outro.

No entanto, o editorial não deve descuidar do conteúdo que é publicado nos anúncios, sob pena de ter seus conteúdos desmentidos de qualquer maneira, sem um cuidado jornalístico, e seus profissionais expostos ao constrangimento. O editorial não deve desconsiderar o texto dos anunciantes. Se a venda da publicidade é relevante para o lucro e a sobrevivência dos jornais, o interesse do público é crucial para a continuidade do bom jornalismo. Tratemos de minimizar as influências.

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