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O suicídio em pauta
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O suicídio em pauta

Tipo Opinião

Se já era difícil abordar o assunto em tempos regulares, com a intensidade da pandemia do novo coronavírus, ficou mais complexa essa abordagem pela imprensa. Falar sobre suicídio exige técnica jornalística, mas também sensibilidade, atenção ampla e cuidados maiores do que os corriqueiros.

O distanciamento social e o consequente isolamento das pessoas entre si, para a prevenção contra o vírus, demandaram da mídia pautas relacionadas à saúde mental, como forma de aliviar o momento de tensão e ansiedade, além de orientar o público.

Isso deveria exigir da imprensa uma prudência ainda maior na cobertura. Às vésperas de iniciarmos o mês de setembro, em que a campanha Setembro Amarelo promove uma série de ações para a prevenção do suicídio, a imprensa reflete sobre o assunto, mais um na lista dos temas sensíveis. A discussão, no entanto, deveria ser rigorosa durante todo o ano, a cada vez que se aborda o tema. Não é um assunto como qualquer outro. É um tópico delicado capaz de acirrar traumas e causar consequências nefastas.

Nesta pandemia, O POVO tem publicado muito conteúdo relacionado à saúde mental. Há uma preocupação explícita quanto ao assunto.

No entanto, precisa discutir a conduta jornalística quando trata da cobertura do suicídio e, mais do que isso, pôr em prática as orientações da OMS quando noticiar os casos, com toda a vigilância que a situação exige.

Proteção

No dia 13 de julho, O POVO publica: "Neto de Elvis Presley é achado morto em casa; polícia investiga suicídio". A palavra "suicídio" está no título, no abre (aquela frase com um resumo da matéria logo após o título) e em todas as chamadas das redes sociais. No dia 24 de julho, foi a vez de: "Padre Fábio de Melo fala sobre suicídio: 'Não pensava em outra coisa'".

É um procedimento inapropriado fazer essa exposição no título. A regra no O POVO, como em muitos veículos, é não divulgar notícias de suicídio, mas há exceções. Quando o caso ocorre com uma pessoa muito conhecida, a divulgação é feita. É necessário, porém, que essa veiculação obedeça às normas recomendadas pela OMS.

Segundo as orientações, deve-se evitar a palavra "suicídio" em títulos, chamadas e tudo o que seja destaque quando houver referência à cobertura de morte, e não forem matérias de prevenção, por exemplo. Notícias desse tipo não precisam ter destaque nem se deve fazer divulgação de casos específicos.

No dia 14 deste mês, coluna do jornal publica: "Policial feminino usa redes sociais para anunciar suicídio em Fortaleza". Além do "suicídio" no título, texto informa o meio que foi utilizado para a morte e divulga a mensagem deixada pela mulher.

Dias depois, em 22 de agosto, publicamos em notícia: "Homem comete feminicídio e tenta suicídio no Bom Jardim". Na matéria, citamos que houve a morte e ainda citamos a forma como ocorreu - o meio utilizado.

Também é orientação da OMS e do Ministério da Saúde aos jornalistas e demais profissionais da imprensa não divulgar mensagens deixadas nem métodos utilizados. É uma iniciativa que parece simples e satisfaz a curiosidade de muitos, ávidos por saberem de que forma aquilo ocorreu e desejosos por lerem as últimas palavras escritas por alguém.

A responsabilidade do Jornalismo precisa proteger quem está em situação de vulnerabilidade, e não servir à mera bisbilhotice funesta do público.

Em nenhum desses textos, havia um número de telefone ou qualquer outro canal, indicando um serviço de ajuda a quem precisasse.

O assunto não se esgotará em mais um setembro, mas é um período propício, agravado pela pandemia, para rediscutirmos o modo como comunicamos o suicídio. Silenciar, pelo efeito contágio, não é o melhor método. Tratar o caso com espetacularização ou com sensacionalismo só piora o apelo emocional que o assunto chocante em si já traz.

O assunto ainda é incômodo e polêmico. Tabu em muitas comunidades, deve ser constante pauta para aprofundamento das reflexões e debate. Envolve famílias, crenças e questionamentos de muitos matizes. O compromisso da imprensa é refletir se o acesso àquela informação é realmente relevante ao público e, se for, o que o público precisa saber daquele evento.

Além disso, é oportuno promover diálogos, com fontes especializadas, para que se mostre o problema como uma situação de saúde pública, e não como um caso de polícia. Não é apenas sobre os termos usados, é sobre uma cobertura mais responsável.

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