Em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, seria natural que uma grande parcela da população aceitasse a ideia de uma vacina contra a Covid-19. A doença, até sexta-feira, infectou mais de 4 milhões de pessoas no Brasil e matou mais de 125 mil no País, segundo dados do Ministério da Saúde. Com números que têm aumentado dia a dia, é assustador que a discussão sobre a vacina que previne a doença tenha repercutido e se transformado em um movimento politizado.
A vacina ainda não existe. Enquanto a russa é apontada como a mais viável, há mais de uma centena de pesquisas de candidatas a vacina em desenvolvimento. A jornada é longa até a aprovação pelas agências regulatórias nacionais.
Mas como a imprensa tem noticiado toda essa polêmica? Tem se preocupado em explicar os trâmites da comunidade científica internacional, a relevância da imunização para a saúde pública e a prevenção como um cuidado consigo e com os outros? Ou tem contribuído para reforçar o discurso de ódio, insuflando os embates, por vezes, ideológicos?
Na semana que passou, o canal da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) publicou nas redes sociais uma postagem sobre a vacina, informando que "impor obrigações definitivamente não está nos planos" do Governo. Na imagem que acompanha a publicação, uma frase do presidente Bolsonaro dita dias antes: "Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina".
A Secom também escreve que o "Governo do Brasil preza pelas liberdades dos brasileiros".
Pesquisas
O que cabe à imprensa? Mostrar que não é tão somente uma questão de "liberdade" individual, de escolher tomar ou não a vacina produzida por este ou aquele país. À imprensa cabe explicar por que se defender contra um vírus mortal é importante (para quem ainda não sabe) e como a vacina age contra ele.
Números divulgados recentemente expõem como a população tem entendido a imunização. Conforme pesquisa do Datafolha, divulgada em agosto passado, 89% dos entrevistados disseram que tomariam a vacina contra o novo coronavírus, 9% dos entrevistados não tomariam e 3% não souberam responder. A pesquisa, realizada em todas as regiões do País, ouviu 2.065 pessoas adultas por telefone.
Na semana que passou, a pesquisa "Global Attitudes on a Covid-19 Vaccine" mostrou resultado semelhante. De acordo com o estudo, executado pela Ipsos, 88% dos brasileiros se vacinariam contra a covid se já houvesse vacina disponível. No ranking do estudo, realizado com 27 países para o Fórum Econômico Mundial, o Brasil está empatado com a Austrália na segunda posição. Na primeira está a China, onde 97% dos entrevistados afirmam que tomariam a vacina.
Os estudos ressaltam que a maioria se vacinaria caso a imunização já existisse. No entanto, o que levaria ainda tanta gente ir de encontro à prevenção? A vacina que chegará será totalmente segura? E mais: é uma questão mesmo de "liberdades", como preconiza a campanha institucional?
O Jornalismo profissional, tão necessário como tem-se mostrado nestes tempos, precisa responder às dúvidas e informar, em vez de dar vazão a teorias contrárias à proteção sanitária.
Ora, o papel do Jornalismo é elucidar o que é uma vacina, como ela é produzida, quais são as fases até sua validação, por quais motivos ela precisa ser tomada, por que ela é necessária agora, quais os riscos para o indivíduo, quais as possibilidades de efeitos colaterais, em suma. Diante de informações, é mais provável que o público aja de forma mais prática.
Há uma disputa ideológica em curso, catalisada pela pandemia e reacendida a cada novo evento neste surto. Mas ao jornalismo não compete entrar no discurso de ódio e da intolerância.
Dia desses recebi de um leitor, educador, exatamente isto: "A pandemia já foi esquecida mesmo na mídia?". Questiono-me qual é a impressão que estamos causando no público em geral, mas ainda temos um bom combate. Ainda há boatos, como o do termômetro digital que causa doenças neurológicas, que precisamos desmentir. Ainda precisamos explicar que participar de uma campanha de vacinação não é questão de "liberdades", mas é algo previsto na legislação brasileira.
Promover o confronto das ideias é crucial para o debate de opiniões. Em situações de saúde pública, nos momentos de atenção à coletividade, o desafio é intensificar a informação, não confundir ainda mais o público.
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