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O ideal de imparcialidade
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O ideal de imparcialidade

Tipo Análise

Com o avanço e a consolidação do jornalismo analítico, o público continua a ler matérias e reportagens, e exige que sejam bem produzidas, mas cada vez mais consome textos que tragam uma opinião, uma avaliação sobre o fato, algo que o ajude a entender aquele contexto ou que trace perspectivas. Assim, colunistas e articulistas têm ganhado expressivo destaque nos veículos, com maior quantidade de análises, sob a alegação de apresentar ao leitor um retrato mais plural da realidade.

Colunas e artigos são alguns dos espaços mais explícitos de expressão de opinião em um veículo jornalístico. Tidos como um lugar de significante valor crítico, estão normalmente dentro da área exclusiva a assinantes, aquele espaço pago no muro de cobrança.

Normalmente, há muitas reclamações de leitores em relação à "parcialidade" existente ali, com o questionamento de que o autor apresentou nitidamente a sua opinião. Mas o que se quer ver (ou ouvir) num espaço como esse é isto mesmo - a opinião de quem o faz. E segue o risco de ainda cairmos na confusão entre o que é fato/notícia e o que é análise/opinião.

A imparcialidade que precisa ser discutida com mais profundidade vai além das colunas e dos artigos. É preciso, antes de tudo, lembrar que, quando um veículo jornalístico se assume imparcial, ele demonstra uma forma de seguir a verdade, a justiça. Imparcialidade, no entanto, é um ideal. Estamos sempre perseguindo essa utopia, mas com os pés no chão.

Ao escolhermos as palavras para os títulos e para o trecho inicial das matérias (o lide), a forma de contar uma história e até uma imagem que completa um texto, somos influenciados por nossas vivências de mundo, preferências vocabulares e conhecimento. Por isso, vemos o relato de um mesmo fato sob diferente foco, com termos variados, em veículos diferentes.

Pesquisas

Com o veículo jornalístico, a questão é ainda mais profunda, porque há interesses envolvidos sobre o que noticiar e como noticiar. Há mudança de foco, há omissão. O que não deve haver é mentira.

Um exemplo recente e muito recorrente nas eleições se materializa na divulgação dos resultados das pesquisas de intenção de votos, geralmente encomendadas por um dos veículos de comunicação.

Na semana que passou, O POVO divulgou as intenções de voto à Prefeitura de Fortaleza a partir de mais uma pesquisa realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Grupo. Chamada aqui de "pesquisa O POVO/Datafolha" nas matérias, colunas e outros conteúdos do OP, o levantamento tem tido desdobramento ao longo dos dias, com a exposição dos outros números, leitura de cenários, análise e comparação com pesquisa anterior.

Esses números são praticamente ignorados no concorrente Sistema Verdes Mares, que não divulga os dados em seus canais institucionais nem produz matérias expressivas a partir deles.

Sob forma análoga, a pesquisa Ibope, encomendada pela TV Verdes Mares, recebe generoso cuidado do concorrente, com dedicada divulgação em todas as plataformas do veículo.

No O POVO, houve divulgação, mas sem tanta evidência quanto a do Datafolha. Além disso, no início dos textos é citada como "pesquisa do Instituto Ibope". A informação de quem encomendou geralmente está no fim dos textos: "A pesquisa foi contratada pela TV Verdes Mares". Os dados foram divulgados na primeira quinzena de outubro.

Se o interesse público deve se sobrepor às preferências individuais, por que a diferença no tratamento da divulgação das pesquisas? Um veículo não quer enfatizar o concorrente ao mesmo tempo em que realça com excelência o levantamento que encomendou. O prejuízo fica para o público, que só passa a ter a informação do veículo que consome com mais predominância.

Assim, falar em imparcialidade como um bastião do bom jornalismo exige prudência. Falar que jornalistas se norteiam por suas paixões, sem método algum, também não é coerente. Se alguma opinião vai de encontro ao ponto de vista do leitor, há uma divergência, naturalmente aceita no ambiente democrático. O que não deve haver é manipulação de informações.

Queixas de que o jornal só fala mal do presidente, de que os veículos atacam o presidente sem motivos, de que não ressaltam pauta positiva, de que toda imprensa tende para um lado ideológico, de que todo jornalista é esquerdista e deixa isso claro nos seus textos (notícias e artigos) são algumas que persistem. Parece que tendem a serem reforçadas com a informação mais fragmentada pelas redes sociais.

Exige uma leitura crítica do cenário por parte do público, sem o mito da imparcialidade, e um equilíbrio constante por parte do jornalismo, sem contorcionismos semânticos para fazer o básico - informar.

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