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Queimadas: regionalismo e checagem
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Queimadas: regionalismo e checagem

Tipo Opinião

Seja por perplexidade diante da tragédia, seja por desconhecimento absoluto do assunto, há quem duvide completamente de que as queimadas na Amazônia estejam acontecendo. E mais: duvidam que estejam acontecendo nas proporções grandiosas que vêm sendo mostradas pela imprensa. É aí que entra o papel fundamental da mídia de apurar o que ocorre e trazer a público, tomando o cuidado de apurar as imagens e os fatos, sem se deixar enganar por dados antigos.

Na semana que passou, o contato de alguns leitores, a partir de matérias do O POVO, mostrou como o público tem reagido. Uma amostra pequena, por certo, mas que nos dá uma ideia de como o contraditório, em muitos casos, é visto como desagradável. "Essas notícias de queimadas na Amazônia são antigas. É tudo fake news. Vocês precisam prestar mais atenção no que publicam", disse-me um leitor antigo, crítico atento, mas que insiste em não acreditar que as imagens do fogo se alastrando pela mata sejam atuais.

O POVO tem publicado as informações referentes ao aumento do fogo na Amazônia, tendo intensificado a veiculação desde a semana passada. Em duas situações, o assunto teve considerável destaque na primeira página do jornal impresso. Já esteve em alguns casos também em evidência nas chamadas do portal. Na sexta 23/8, o tema tomou quase toda a capa do impresso sob o título "Queimadas na Amazônia - Brasil sob pressão mundial". Como não tem correspondentes na região nem se enviou equipe para o local, o jornal investe em análise da situação e traça perspectivas, inclusive e sobretudo políticas acerca da conjuntura.

Verificação


Uma leitora, nos últimos dias, elogiou o foco, mas se queixou de uma suposta falta de olhar local. "As matérias têm sido boas, não nego, mas a imprensa brasileira toda está preocupada com a Amazônia. Como estão as nossas florestas, do Ceará? Como estão as queimadas daqui, do nosso Interior?", questiona ela, professora universitária e pesquisadora da causa ambiental.

Sim, o cuidado com o regional, um dos princípios do O POVO, deve ser prioridade. É claro que, quando um fato nacional, por sua relevância e interesse público, tem uma repercussão que merece ser noticiada, o jornal não pode se omitir a veicular. O que falta, em casos assim, é estabelecer também uma conexão com o local. Como isso nos afeta? Além da informação, como aproximar o leitor cearense do impacto ambiental na Amazônia? É um problema tão somente político cujas repercussões chegam à mensuração de critérios de beleza de presidentes e primeiras-damas?

É preciso lembrar também que, no dia 20 de agosto, O POVO publicou a reportagem "Sertão cearense sob risco de queimadas", em que abordava desertificação, áreas cearenses com mais alto risco de incêndios florestais e prevenção. O jornal perde quando não faz essa vinculação entre o nacional e o local, aproximando o leitor do problema e fazendo-o perceber que a matéria está também perto dele. O leitor não é o mesmo de todos os dias. Como ele saberá do contexto local se o próprio jornal não avisar?

Além disso, muitas imagens de animais mortos ou fugindo do fogo foram compartilhadas pelas redes sociais como se fossem da Amazônia atual. Esse é um dos vários casos de notícias mentirosas que se espalharam nos últimos dias. Há números diversos de queimadas dos últimos anos sendo espraiados; imagens que mostrariam integrantes de movimentos sindicais, índios e madeireiros envolvidos nos fogos; aviões estrangeiros sobrevoando áreas como se fossem a Amazônia. O jornal precisa ajudar a combater a mentira. Só se combate o falso com a verdade.

A checagem, que é parte do processo de produção jornalística, virou, de uns tempos para cá, uma atividade extraordinária. Há agências especializadas, departamentos específicos dentro das redações para a verificação, repórteres treinados para averiguar. Se estamos investindo tanto assim nessa ação, é porque algo realmente está falho no processo. O que era para ser um procedimento padrão no ofício se transformou em uma tarefa admirável e exclusiva. No O POVO, a aba "Checagem", disponibilizada no portal, apresenta a comprovação de fatos com alta repercussão local ou nacional. A última checagem publicada data de junho. Há uma série de notícias mais recentes que deveriam passar pelo nosso crivo de verificação na curadoria das notícias.

 

Foto do Daniela Nogueira

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