São constantes as queixas do público quanto às charges que o jornal publica. Muitos leitores reclamam que o material critica os governos, as ações e os ocupantes dos cargos de quem está na situação. É verdade que o presidente Bolsonaro, por exemplo, é assunto constante na seção - que, antes, era publicada na editoria de Opinião, o que reforçava o caráter subjetivo desse gênero jornalístico. Atualmente, a charge do O POVO é publicada, no jornal impresso, na página 2. Além disso, a mesma charge é reproduzida nas redes sociais.
Faz-se necessário sempre lembrar que a charge deve carregar a assinatura de quem a produz, o chargista. Assim, o material não reflete obrigatoriamente a opinião do veículo que a publica. Explico porque não são poucas as vezes que recebo críticas de leitores atribuindo ao jornal a característica de "partidário" e ou "parcial" devido à veiculação de determinada charge.
Na semana passada, alguns dos comentários dos leitores acerca das charges foram: "Ainda bem que o jornal não é tendencioso, né?", ironizou Matheus Osterne. Thayson julgou: "Jornaleco nem entende a situação ou é mau caráter mesmo". E Moura Cavalcante atribuiu o conteúdo a um possível "contingenciamento" para os veículos da imprensa: "Vocês vão morrer de fome, mídia suja, a verba do governo para vocês está acabando, podem chorar, vermes (sic)".
Nem sempre é agradável ler uma charge com um conteúdo do qual se discorda. Por isso talvez a existência dos comentários violentos com que alguns reagem quando deparam com a ilustração.
Oposição
A propósito, as charges são muito mais que uma ilustração. São um gênero jornalístico que retratam cenários da atualidade e situações do cotidiano. Como parte desses eventos do dia a dia, a política é um fornecedor de pautas constante para a charge. Como nos lembra o jornalista Ricardo Jorge, professor de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da Oficina de Quadrinhos da instituição, a charge é feita sob o humor, o sarcasmo e a ironia. "Charge é sempre oposição. Caso contrário, é publicidade", atesta o professor.
Há alguns dias, recebi a seguinte mensagem de um leitor: "É notável, de forma bastante explícita, o partidarismo do chargista, que faz questão de amargar o universo político contrário às suas ideias petistas. Lamentável!". Outro já havia me escrito: "Por que o chargista nunca critica o PT em suas charges?". Ora, sabe-se que, em âmbito nacional, o PT não ocupa a Presidência da República. O atual presidente é personagem constante na charge (do O POVO e de qualquer outro veículo jornalístico) por ocupar o cargo em que está e por protagonizar situações e fala que demandem uma leitura do chargista. Há alguns anos, quando Lula e Dilma (para citar ex-presidentes petistas) estavam nesse cargo, também eram alvo frequente da sátira do chargista (e as charges também eram criticadas pela respectiva militância). E é claro que, quando estão envolvidos em circunstâncias atuais, podem ser assunto das charges, que vivem, sobretudo, de ocorrências factuais.
Acerca disso, Ricardo Jorge ressalta que "os fatos políticos interessantes para a sociedade são a matéria-prima da charge". É por isso que os casos do dia anterior que têm uma reverberação relevante e de interesse público são, normalmente, tema da charge do dia seguinte. O gênero tem uma característica hipertextual, lembra Ricardo, que é pesquisador da área de quadrinhos. Ou seja, há a remissão a outros textos, necessária para a interpretação. Se não se sabe o acontecimento político que originou a charge ou não se conhece o personagem ilustrado, ela não fará sentido para aquele leitor.
Como se percebe, a charge mescla diferentes discursos, do jornalístico ao político, passando pelo artístico. É inegável que não é um ambiente neutro de ver, dizer ou representar o mundo. A ideologia exerce forte influência naquele espaço, que, a partir das questões sociais e políticas que retrata, não deve mesmo ter um ideal de neutralidade. Pode-se criticar o traço ou o bom e o mau gosto de uma situação apresentada, mas deve-se sempre ter em mente de que ali é um espaço opinativo.
"Historicamente, os chargistas sempre foram criticados. Isso aconteceu com Millôr Fernandes, Angeli, Laerte. Mostra também que eles estão sendo lidos", afirma o professor Ricardo Jorge.
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