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Caso Jamile: entre o furo e o sensacionalismo
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Caso Jamile: entre o furo e o sensacionalismo

Furo, no jargão jornalístico, é uma notícia exclusiva publicada pelos veículos de comunicação. É uma forma até de prestígio para os jornalistas e os veículos serem os primeiros a contar uma notícia de algo prestes a acontecer ou mesmo de algo que tenha ocorrido recentemente e ainda não divulgado. As colunas, especialmente, publicam muitas notas exclusivas.

Nos últimos tempos, as redes sociais têm sido um canal de divulgação forte dos furos, principalmente porque não se pode mais esperar pelo jornal impresso do dia seguinte para publicar uma informação exclusiva. A hegemonia clássica da notícia factual exclusiva do dia seguinte não faz mais sentido há tempos.

Essa ansiedade afobada pela publicação do furo é o que tem levado muitos veículos a correrem em busca de informações novas que atraiam a atenção do leitor. É importante para todo jornal ser reconhecido como publicador de matérias inéditas e assuntos novos, além daquilo que todos publicam. O problema é como o veículo concorrente trata aquela notícia exclusiva publicada pelo outro jornal. Vale a pena dar repercussão ao caso? Isso não seria produzir mais visibilidade para o concorrente, já que o assunto foi publicado inicialmente por ele?

No meio dessa batalha de concorrentes, por visibilidade, cliques e audiência, há um elemento que não deve ser esquecido em todo esse processo - o público. Como o leitor de jornal e usuário das plataformas digitais e online saberá do caso se o veículo que ele lê não publicar? Precisará acessar o concorrente.

Repercussão

Na última terça-feira, 17, o jornal Diário do Nordeste publicou, em manchete que tomou quase toda a capa, a chamada "Feminicídio?", sobre o caso da empresária Jamile de Oliveira Correia, que morreu no fim de agosto. Pela matéria, o namorado da mulher era apontado como suspeito da morte, antes tratada como suicídio.

O caso continuou a ter uma cobertura constante do concorrente, inclusive nos outros veículos que fazem parte do Sistema Verdes Mares. Na quinta, 19, foi publicada matéria sobre missa pelo aniversário da mulher, com chamada na capa. E na sexta, 20, o assunto virou novamente manchete do jornal.

Em todos esses dias, o "Caso Jamile", como vem sendo tratado pela imprensa cearense, teve uma repercussão tamanha que é motivo de comentários por todos os lados. Outros veículos de comunicação passaram a cobrir episódio. É certo que os eventos relacionados à morte da empresária, que se deu no dia 31 de agosto, só tiveram cobertura da mídia na semana passada, após o alarde do concorrente.

No O POVO, o caso chegou tarde e quase passa despercebido. Na quarta, 18, o portal publicou a matéria "Médicos e familiar prestam depoimento 18 dias após morte de empresária", em que se foca nos depoimentos, mas contextualiza rapidamente o caso. Na sexta, 20, à tarde, outra matéria foi publicada no O POVO Online: "Caso Jamile: Polícia Civil já ouviu mais de 30 pessoas nas investigações". Essa, que listou perguntas e respostas sobre o caso, teve mais evidência na página inicial do portal. No jornal impresso e nas redes sociais, não houve destaque.

Basta um olhar mais acurado e um pouco mais de tempo para percebermos que há um apelo emocional exacerbado em torno de todo esse evento. De terça a sexta, em quase todos os jornais televisivos e programas policiais, houve matéria sobre esse assunto, acrescida de análises e suposições - por profissionais não ligados à investigação policial - esmiuçando o caso. É a junção deplorável da falta de um jornalismo humanizado com o sensacionalismo ansioso por divulgar notícias ruins.

Por outro lado, quando se opta por ignorar o caso ou tratá-lo com aparente apatia, tão somente pelo destaque inicial dado pelo concorrente, deixa-se de informar ao nosso leitor uma notícia que está circulando ativamente pela Cidade. Também pelo mistério que o envolve e pela repercussão que tem tido, o fato poderia ter sido mais bem discutido pelo O POVO, em uma forma de abordar a violência em várias instâncias. Sem sensacionalismos e em prol do direito à comunicação.ATENDIMENTO AO LEITOR

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