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Ataques no Ceará: informar e não apavorar
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Ataques no Ceará: informar e não apavorar

Tipo Opinião

A cobertura jornalística da área de segurança tem tido notórios avanços ao longo dos últimos anos. É inegável que as mudanças ocorridas nos veículos de comunicação, em decorrência da formação de seus profissionais, têm contribuído para um jornalismo mais responsável e atento aos demais fatores relacionados à violência. No entanto, há muitos desafios a serem discutidos e ultrapassados no "jornalismo policial".

A editoria de Polícia não existe mais em muitos jornais; no O POVO, inclusive. O assunto é tratado como "segurança". Lugares-comuns e chavões policialescos perdem espaço. É uma tendência já consolidada. Não é apenas uma mudança de terminologia, mas de postura no acompanhamento das políticas que envolvem a segurança pública, nos possíveis fatores desencadeantes da criminalidade e na própria investigação policial. Isso ajuda também a não confundir repórter com policial, por exemplo - o que acontecia, especialmente até a década de 1990.

Jornalista, como profissional qualificado para investigação que é, característica própria do jornalismo, deve se preocupar em informar os fatos com a qualidade de que a notícia precisa; em fazer análises acuradas em certas situações; em mediar um diálogo da sociedade com o poder público; e em cobrar dos poderes ações eficazes no enfrentamento da violência.

Ao longo da semana que passou, em que uma série de ações criminosas foi noticiada pela imprensa cearense, não faltaram especulações acerca dos ataques nem divulgação das imagens de fogo em ônibus.

Cuidados

Os "ataques no Ceará" foram noticiados pelos jornais do Estado, em suas versões impressa e online, desde o início da semana. No O POVO, o assunto foi manchete do jornal impresso três vezes, tendo destaque em várias chamadas no portal todo o dia. No papel, a palavra "ataques" esteve nas três manchetes. No concorrente Diário do Nordeste, também foram três manchetes, com "ataques" em todas elas. A repetição do termo, para além do limite de caracteres, mostra a tentativa da imprensa de mostrar à população o caráter agressivo das investidas.

Devido à factualidade do assunto, que é de interesse público, e, portanto, importa a todos nós, é impensável ignorar a cobertura dessas ações e suas consequências para a população (circulação da frota de ônibus e funcionamento dos estabelecimentos em geral, por exemplo). Cabe a reflexão, porém: não estamos contribuindo para aumentar a sensação de insegurança, reforçar o medo e ajudar a intensificar o pânico local?

A divulgação de imagens de ônibus sendo queimados, veículos incendiados em pátio de concessionária e fogo ateado em transporte escolar coopera para o debate público e a análise do contexto da criminalidade? Ou, sobretudo, fornece subsídios para apavorar a população, já acuada pelo temor de mais atos criminosos?

As redes sociais e os aplicativos de mensagens colaboram bastante para amedrontar a população, servindo de canais de transmissão dessas imagens e áudios apavorantes, muitas vezes compartilhados sem o cuidado da verificação. Não precisamos nem devemos fazer parte desse circuito.

Hoje em dia, não se veem mais fotos de corpos estendidos no chão, pessoas extremamente feridas, resultante de violência, ou poças de sangue na imprensa, como eram publicadas há algumas décadas. Além disso, existe uma atenção quanto à divulgação de nomes e imagens dos envolvidos, a fim de também não atrapalhar as investigações. Recursos apelativos e expedientes sensacionalistas não atraem mais o leitor. E se atraem uma parte, que encontre esse material em outra fonte que não a imprensa responsável com a qualidade do produto que publica.

É louvável que o diálogo entre jornalistas e estudiosos especialistas em segurança pública esteja sendo mais constante e qualificado ultimamente. Há mais vozes sendo ouvidas além do discurso oficial, importante e necessário, mas não o único. Esse diálogo mais frequente demonstra que a temática da violência faz parte de um todo intersetorial que inclui saúde, educação, desigualdade social etc. A cobertura policial, da área de segurança, não deve focar nos atos de criminalidade ou na divulgação de imagens que aterrorizam. A imprensa tem um papel mais profundo, parte de uma agenda que investiga, influencia e exige.

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