Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.
O professor Rogério Christofoletti, de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é também pesquisador do CNPq e coordenador do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS). Lançou, neste ano, o livro “A crise do jornalismo tem solução?”. Há alguns dias, ele participou em Fortaleza do Congresso Nacional dos Jornalistas, oportunidade em discutiu o tema. Dias depois, conversei com ele acerca do assunto.
Em seu livro, Rogério Christofoletti deixa claro que o assunto não interessa (nem deveria interessar) tão somente aos jornalistas, mas a toda a sociedade.
O POVO – Professor, o senhor acha que há uma crise no jornalismo ou nas instituições jornalísticas?
Rogério Christofoletti – É muito difícil separarmos o jornalismo dos profissionais e das organizações que se dedicam a fazê-lo. Historicamente, o jornalismo que chega às pessoas é aquele expresso em jornais, revistas, emissoras de TV e rádio, e sites, e isso se dá na forma de veículos controlados por empresas ou instituições. A crise que percebo é ampla, dinâmica, complexa e cheia de nuances. É uma crise que ignora geografia e formato, tamanho da organização ou tipo de veículo. É uma crise sistêmica, que afeta isso que convencionamos chamar de jornalismo porque a natureza da informação mudou muito nos últimos anos, e as expectativas e ansiedades dos públicos também.
OP – Como essa crise se caracteriza no Brasil?
Christofoletti – Ela se caracteriza por extinção de veículos, por enxugamento de postos de trabalho, por sobrecarga de trabalho, por pulverização das verbas publicitárias e também pela explosão de outros provedores de informação, marcadamente nas redes sociais. No País, temos hoje muita gente se informando pelas redes, o que é uma temeridade! As redes sociais são rápidas em espalhar informações, mas não se preocupam e não têm nenhum compromisso em verificá-las; as redes sociais são governadas pelos humores das multidões e por algoritmos opacos, governados por regras que desconhecemos e que vêm do exterior. A crise no jornalismo, portanto, é financeira, mas não só. É também de credibilidade, ética, de governança e de qualidade de produto. Enfrentá-la é não só urgente; é necessário pois a sobrevivência do jornalismo e dos jornalistas depende de pensar e criar novos caminhos.
OP – A difusão das notícias falsas tem sido relacionada à crise de credibilidade nos meios tradicionais de comunicação. A que o senhor atribui essa queda?
Christofoletti – O espalhamento de notícias falsas só piora uma crise de confiança que já estava entre nós há alguns anos. A credibilidade jornalística é questionada sempre quando há uma quebra do pacto entre quem fornece jornalismo e quem o consome. Os públicos alimentam expectativas em relação ao jornalismo e esperam que as notícias sejam atuais, verdadeiras, corretas, precisas, equilibradas, entre outros aspectos. Quando se percebe que as informações não atendem a essas expectativas, há espaço para a desconfiança. De um lado, o jornalismo comete erros, adota práticas lesivas e se distancia das expectativas do público; do outro, o público se ressente disso, olha para os lados e percebe que há outros fornecedores de informação, que podem não ser os mais profissionais ou credíveis, mas se colocam como alternativa. Combinadas, essas condições distanciam o jornalismo do seu público; e some-se ainda a elas o fato de que as audiências se tornaram mais exigentes e, muitas vezes, desejam participar mais do processo de produção jornalística. Culturalmente, os jornalistas são muito territorialistas e tendemos a afastar o público, gerando a impressão de que há um muro que nos separa, prática que realmente alija ainda mais o público.
OP – E como recuperá-la?
Christofoletti – Penso que é necessário investir em qualidade e profissionalismo nos produtos e serviços. O tempo não é elástico: temos todos 24 horas por dia apenas, e delas só podemos contar com dois terços, mais ou menos. Acontece que alternativas de informação, de entretenimento e de diversão surgem a todo momento, gerando uma oferta simplesmente impossível de ser assimilada. Não é possível lermos todos os sites, passarmos horas e horas nas redes sociais, assistirmos todas as séries televisivas que queremos, ouvirmos todas as músicas que baixamos e ler todos os livros que acumulamos na mesinha de cabeceira. Precisaremos escolher. Qualidade ajuda a distinguir o jornalismo de outras práticas informativas menos profissionais, e mais episódicas.
Outra coisa necessária, ouvir mais o público de maneira a ajustar os nossos serviços e produtos às expectativas. Não todas, pois isso também é impossível. Mas captar um sentimento da comunidade é essencial para estar conectado a ela, e a manter essa conexão. Ouvir é se ligar ao público, e talvez avançar para convidá-lo a moldar o jornalismo conforme as suas demandas e necessidades. Horizontalizar as relações entre jornalistas e públicos é outra ação que me parece necessária para resgatarmos parte da credibilidade que vem sendo corroída há tempos.
OP – Fala-se muito na reinvenção do jornalismo. O principal desafio atual é resistir ao enxugamento, à "descontinuidade" das publicações ou ser mais confiável?
Christofoletti – Os desafios são muitos e todos eles são urgentes, pois existe uma interdependência entre mostrar-se confiável e manter o jornalismo como uma atividade perene. A questão da credibilidade está intimamente ligada à subsistência do jornalismo, à sua sustentação. Parece óbvio, mas é central em nossa atividade, como em outras. Sem confiança, não há público e não há, portanto, razões de existência. Sem confiança, não há atenção a ser disputada, não há anunciantes ou atores que queiram investir nesse negócio da informação. Sem credibilidade, não há matéria que ligue públicos e jornalistas numa relação mútua e intensa.
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