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Edifício Andréa: o jornalismo nas tragédias
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Edifício Andréa: o jornalismo nas tragédias

Tipo Opinião

O desabamento do Edifício Andréa, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, chocou a capital cearense na manhã da última terça-feira, 15. O POVO e os demais veículos locais logo repercutiram o fato, que foi noticiado em âmbito nacional. Desde então, o assunto tem dominado grande parte do noticiário. Nos perfis das redes sociais, no portal e no jornal impresso, O POVO tem dedicado espaço significativo à tragédia.

Não poderia ser diferente com um tema que abalou a Cidade, emocionou os cearenses e tem feito Fortaleza viver sob um "luto coletivo", como bem constataram os dizeres da manchete desta quinta, 17. A propósito, além de toda a constante cobertura online, as capas do jornal impresso, desde quarta, têm sido dominadas pelos desdobramentos da tragédia - resgate das vítimas, rede de solidariedade montada, situação precária do prédio, alterações no trânsito, enfim.

Como na cobertura da maioria das tragédias, a imprensa não se planeja para cobrir um determinado fato, simplesmente porque, em alguns casos, não se espera que aquilo aconteça. Por mais que se tenha alardeado como uma "tragédia anunciada", devido às condições arriscadas em que estava a estrutura do Edifício Andréa, a imprensa não estava lá no dia anterior, por exemplo, para prevenir quanto ao possível risco. Assim, quando o fato acontece, o limite entre o que é notícia e o que é informado com sensacionalismo é muito sutil. É preciso que o jornalista, em um misto de profissionalismo, respeito e sensibilidade, não estimule uma ansiosa e mórbida curiosidade aguçada pela comoção natural que casos do tipo sempre geram.

Respeito

Momentos logo depois à notícia do desabamento, já circulavam pelos aplicativos de mensagens vídeos e fotos do prédio no chão e do cenário do horror no entorno - pessoas ao redor correndo em desespero e poeira por todos os lados. Sempre havia alguém com um celular na mão a filmar. Essas imagens rapidamente foram parar na imprensa, que não perdeu a oportunidade de divulgar com um "confira as imagens do momento do desabamento", por todos os ângulos. É claro, havia toda uma ansiedade inicial pela busca por informações, visto que era algo inesperado e dramático. Mas, como tudo no jornalismo, a situação precisa de equilíbrio, principalmente nas situações trágicas.

Na imprensa cearense, foram publicadas no jornal, divulgadas na TV e postadas no online, repetidas vezes, imagens do prédio desabando e gente correndo em fuga, desesperada. No O POVO, inclusive. Para que o público não perdesse o foco, houve veículo que sinalizou, marcando com setas, as pessoas no vídeo, explicitando a agonia das vítimas. Não satisfeitos, ainda houve divulgação de fotos com as vítimas sendo resgatadas, em imagens de drones e outros registros aéreos. É de interesse público a satisfação de sua curiosidade em detrimento da privacidade invadida do outro?

A conduta do jornalista ao abordar vítimas e demais envolvidos em casos do tipo deve ser eivada de sensibilidade, sobretudo. Trata-se de um caso atípico para o qual ninguém sai de casa preparado. Nem o mais experiente jornalista. Afinal, não existe jornalista especialista em cobertura de tragédias. Deparar com a situação, estar presente nos ambientes da ocorrência e conversar com as pessoas relacionadas ao caso provocam um desgaste físico e emocional incomparável ao profissional.

No entanto, isso não significa querer, a todo custo, causar uma repercussão emocionada no público, já bastante impressionado pelo drama. Há gente procurando por familiares. Há demais profissionais tentando resgatar vítimas. Assistir aos colegas jornalistas invadindo esses limites e apelando para um sensacionalismo à custa do protocolar registro dos acontecimentos é, para a instituição jornalismo, mais um momento de reflexão.

Precisamos saber qual é o momento de manter a distância, de respeitar o limite das fontes (vítimas, parentes das vítimas e demais profissionais envolvidos) e de se aproximar quando houver abertura. Há manual para isso? Ensina-se isso nas faculdades? Não. Isso é uma percepção que, atiçados tão somente pela emoção, não teremos. Entretanto, ao explorar a dor do outro, reportando choros das vítimas, tentando entrevistas com gente desesperada à procura de notícias de familiares e divulgando imagens que em nada contribuem para o interesse público, não deixamos nosso público mais informado. A ideia de transformar a narrativa mais trágica e emocionar cada vez mais a audiência, em troca do clique e das visualizações, é invasiva e, por vezes, desumana.

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