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Notícia de morte não é "furo"
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Notícia de morte não é "furo"

Tipo Opinião

No Jornalismo, usa-se o termo "barrigada" para se referir a uma informação falsa, equivocada e imprecisa, que precisará ser corrigida depois. Ocorre por falta de checagem, problemas na apuração ou desatenção durante o processo de produção da notícia. Inevitavelmente o leitor receberá a informação errada. Por isso, há a necessidade da retificação. Nenhum jornalista publica uma barrigada porque quer. Se aconteceu, é porque houve falha principalmente ao verificar a informação.

Na última quinta-feira, 21, espalhou-se o boato de que o apresentador Gugu Liberato havia morrido. Ele havia sofrido um acidente doméstico em sua casa, nos Estados Unidos, e estava internado na UTI. Na noite de quinta, o portal do O POVO publicou em uma de suas chamadas na capa: "Apresentador Gugu Liberato tem morte cerebral após acidente doméstico, informa BandNews".

A matéria foi baseada na informação divulgada pelo jornalista Reinaldo Azevedo, em um programa ao vivo. Àquele momento, nenhum outro portal de notícias divulgava essa informação que já chocava boa parte dos leitores. A notícia também estava nas redes sociais. Com tarja vermelha de "Urgente", o perfil do O POVO no Instagram informava: "Gugu tem morte cerebral confirmada, informa emissora".

A única fonte usada para a matéria era o jornalista Reinaldo Azevedo, comentarista, conhecidíssimo na imprensa nacional e também colunista de Opinião do O POVO. Mas não era uma fonte oficial. Hospital, família, assessores, nenhum deles havia se pronunciado sobre isso até então. Publicamos baseados tão somente na fala do jornalista que foi ao ar. Não esperamos por um comunicado oficial nem informamos se checamos a informação com outras fontes.

Respeito

Minutos depois, no portal o título da matéria foi mudado para "Jornalista que anunciou morte de Gugu Liberato volta atrás". E depois: "Jornalista que anunciou a morte de Gugu Liberato diz que não teve a intenção de dar um 'furo' e pede desculpas à Record e à família do apresentador". Em ambos os casos, o jornalista a que o título se referia era o Reinaldo Azevedo, que havia noticiado, equivocadamente, a morte do apresentador.

Na rede social, a publicação foi excluída. Outra foi publicada, com a tarja azul de "Correção", foi publicada, com o título: "Jornalista que anunciou morte de Gugu Liberato volta atrás".

O POVO acerta ao corrigir a informação assim que percebe que não havia uma confirmação daquilo. Entretanto, melhor teria sido evitar aquele erro. É sabido que não é fácil, muitas vezes, verificar algo em âmbito nacional. Dependemos de agências de notícias, de outros portais, de demais jornalistas, de diversas fontes. Discuti isso em avaliação interna com o editor do portal. Mas as informações, graves principalmente como a notícia de uma morte, precisam de uma fonte oficial ou de mais uma fonte.

Todo veículo que compartilha a informação é também responsável por ela. Não importa se a informação veio de agência ou de outro jornalista ou de qualquer outra fonte. Se o veículo é meio daquilo que divulga, ele também deve responder por isso. Atribuir as correções apenas ao jornalista que divulgou a notícia inicialmente soa isenção do erro publicado.

Além disso, notícias de morte não devem ser tratadas no Jornalismo, por qualquer veículo de comunicação, como um "furo", uma informação exclusiva, numa batalha agitada na qual o vencedor é quem publica primeiro. Notícias de morte devem ser tratadas com respeito. Não se faz Jornalismo tendo a satisfação, a vaidade ou a afobação de ser o primeiro a noticiar que alguém morreu. Há familiares enlutados.

Se a gente não sabe se alguém morreu, a gente não divulga. Se não há informação oficial, a gente não informa. Não existe futuro do pretérito em morte, como "teria tido morte cerebral". "Suposta morte" também não existe. Isso é especulação.

A notícia da morte do apresentador Gugu Liberato foi confirmada na noite da sexta-feira, 22, em comunicado oficial divulgado pela assessoria de imprensa dele. O POVO publicou: "Gugu Liberato tem morte confirmada após acidente doméstico".

Que a tragédia com o apresentador tenha nos ensinado, a todos, também a fazer um Jornalismo mais reto, responsável e humanizado. Quando a ânsia em divulgar em primeira mão é maior do que o zelo em confirmar com cuidado, o Jornalismo esmorece. E todos perdemos com isso.

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