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A imprensa incomoda
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

A imprensa incomoda

Tipo Opinião

Um dos grandes equívocos de quem está, sempre temporariamente, no poder é querer crer, a todo custo, que a imprensa é um inimigo. O papel da imprensa é investigar, questionar e levar a público o que é de interesse da população, mesmo que isso seja desconfortável e constrangedor. Se tudo estiver dentro dos padrões jornalísticos, abrindo espaços para o contraditório, a imprensa, que deve ser livre, cumpre suas funções.

Do ponto de vista dos gestores públicos, independentemente das esferas em que estejam, é preciso que haja uma cobrança de suas responsabilidades. Estão em cargos públicos para serem cobrados por seus deveres. Nada além disso.

Na semana que passou, um episódio envolvendo o deputado estadual André Fernandes (PSL) e O POVO pôs em xeque as relações entre a imprensa e pessoas que ocupam um cargo público. O deputado saía da reunião na qual o Subconselho de Ética acabava de aprovar a suspensão do seu mandato por 30 dias. Aproximava-se de jornalistas quando perguntou: "Tem jornal O POVO?". À resposta afirmativa do seu assessor de comunicação, ele respondeu: "Então, não vou falar". A matéria pode ser lida em: https://bit.ly/2Y4mwvs

Depois, o deputado, talvez numa tentativa de imitação de seus pares, publicou o vídeo em seu perfil em rede social, com a frase: "Minha paciência com o Jornal O Povo acabou!". Não explicou o porquê.

Ora, parlamentares e gestores de toda ordem não são obrigados a conceder entrevista a todo veículo, alguém pode alegar. Além disso, ele deve mesmo estar chateado com alguma matéria do jornal, mais alguém pode argumentar.

Intimidação

O surpreendente de toda essa história é que o deputado, amador na política e o mais votado no Ceará, não tenha aproveitado a oportunidade para fazer uso do próprio veículo e expressar sua queixa. Quando os profissionais que trabalham para uma empresa de comunicação questionam algo em uma entrevista, não é a eles apenas que se responde. É também um público, inclusive seu eleitor, que quer saber.

Se não havia intenção de entrevista, por que deixar os profissionais da imprensa à espera? Por que colocar um assessor à espreita para filmar? Podemos fazer uma série de críticas a matérias e demais textos de qualquer veículo, de forma mais ética e profissional, sem desrespeito.

Sabe-se que a relação do presidente Jair Bolsonaro com a imprensa não é das mais amistosas. Dirige ataques diversos a veículos, impede profissionais de participar das entrevistas coletivas e ameaça "não gastar mais dinheiro" com os jornais. Na última semana, a tensão se agravou com a exclusão da Folha de S.Paulo do processo de licitação da Presidência para fornecimento de acesso digital ao noticiário da imprensa. O veículo se tornou alvo direto das críticas de Bolsonaro.

A depender, porém, de uma visão geral sobre seu governo e a forma como alguns de seus representantes escolhem tratar os profissionais da imprensa, percebe-se que o respeito à liberdade de expressão não é um dos princípios a serem seguidos.

No início de novembro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, protagonizou uma cena da qual pareceu se orgulhar. E fez questão de deixar isso claro ao publicar no seu perfil nas redes sociais com o tom de ironia e sarcasmo que lhe é característico. Recusou-se a conceder entrevista a uma repórter da TV Globo ao sair de um dos locais de aplicação do Enem. Ao ser questionado sobre os problemas com o Inep, o instituto que organiza a aplicação da prova, o ministro saiu-se com: "Você é da Rede Globo? Eu tenho uma frase que é a seguinte: eu podia estar roubando, podia estar matando, mas estou aqui tentando fazer uma reportagem para a Rede Globo (sic)".

O ministro é um dos mandatários mais ativos do Governo nas redes sociais e, claro, não perdeu a oportunidade de publicar sobre o ocorrido à sua maneira.

A imprensa não pode se sentir acuada pela tentativa de intimidação. Instituição forte e legítima de prestação de contas à sociedade que é, precisa continuar a fazer o seu trabalho com equilíbrio e responsabilidade. Qualquer tentativa de tolher todo esse processo é uma ameaça grave aos princípios democráticos e constitucionais - algo que os ocupantes de cargos públicos deveriam conhecer bem.

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