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Equilíbrio é "dever de casa"
Foto de Daniela Nogueira
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Equilíbrio é "dever de casa"

Tipo Opinião

Lidar com o jornalismo esportivo não é das tarefas mais fáceis no cotidiano da imprensa. Por vezes, as marcas linguísticas deixadas são rastros de parcialidade ou da "imparcialidade" velada. Em outras vezes, a paixão do leitorado não deixa ver um trabalho profissional. Os últimos meses, especialmente, foram mais fatigantes para quem atua com o esporte, já que Ceará e Fortaleza (por ordem alfabética) viviam momentos bem diferentes na Série A do Campeonato Brasileiro.

Enquanto o Fortaleza garantiu a permanência no Brasileirão a três rodadas do fim dos jogos, o Ceará cada vez mais brigava para permanecer na elite do Campeonato. Além disso, o Tricolor assegurou vaga na Copa Sul-Americana 2020 e chegou a disputar vaga para a Copa Libertadores. Foi uma ótima campanha, fruto de planejamento e investimento.

Todos esses assuntos foram manchete da capa do jornal e do portal no O POVO. Também estavam nas redes sociais. No dia 2/12, o impresso trouxe na capa: "Fortaleza vence e garante vaga na Sul-Americana". Uma foto de três jogadores se abraçando ilustrava o feito. Em 29/11, outra manchete: "Fortaleza está garantido na Série A em 2020". Acima dos dizeres, a imagem do jogador Osvaldo celebrava.

Uma capa mais recente, no entanto, desagradou aos leitores. Foi a primeira página do impresso da segunda passada, 9/12. Com a manchete "Ceará garante mais um ano na elite do futebol", meia página mostrava o jogador Thiago Galhardo de braços abertos. Sobre o Fortaleza, uma chamada, bem menor, informava: "Em meio à festa, Fortaleza termina Série A com vitória sobre o Bahia".

Sem favoritismo

A mim, chegaram queixas de leitores. Uma ligou, bastante chateada com o espaço bem menor dedicado ao Fortaleza: "Era pra ser metade do Ceará e metade do Fortaleza. Teve uma festa linda no Castelão, com mosaico, a coisa mais linda do mundo! Foi só o Ceará que se garantiu na Série A? É um absurdo uma capa dessas".

Dentre as várias mensagens ao longo da semana, li: "Os jornais não deveriam ser imparciais? A capa do jornal deveria ser: 'Timesss cearensesss garantem mais um ano na elite do futebol'. Por que destacar só o Ceará, jornal O Povo?" (sic) Além de: "No Castelão teve uma festa linda do Fortaleza. Aí, vocês botam na capa um time que escapou pra ficar na Série A!" (sic).

E também: "Uma manchete de torcedor explícita. Nada demais que um jornal torça por um time, desde que o declare. A pequena manchete sobre o outro clube e a chamada para a coluna do jornalista não deixaram patente que o jornal é torcedor?".

É fato que o destaque ao Ceará foi nitidamente maior na capa, dada a permanência do time na Série A. Mas, por ser o último jogo da Série nesta temporada e pelo fato de ambos os times festejarem a continuação, a ênfase para o Fortaleza deveria ter sido maior. As manchetes anteriores para o Fortaleza, publicadas em dias diferentes, em outras capas e em situações distintas, não excluiriam uma relevância mais significativa desta vez.

Inegável é reconhecer o feito do Ceará ao garantir sua permanência no Brasileirão. Também era dia de festa alvinegra após tantos momentos de ansiedade e sufoco; por isso, é justificável o foco. Porém havia celebração dos dois lados. No Castelão, a torcida tricolor fez uma bonita festa, como boa parte dos leitores citou. O impresso não destaca isso em imagens nem dá a dimensão desse feito em sua capa.

É interessante perceber que, mesmo que toda essa cobertura tenha sido feita no dia anterior (domingo) no portal e nas redes sociais, ainda houve reclamação porque ela não estava representada no jornal impresso. Cabem reflexões diversas acerca da pluralidade e dos anseios do leitor de esportes que - felizmente - ainda procura no papel a materialização daquilo que viu no dia anterior no digital/online.

O POVO hoje dedica, em seu conteúdo digital/online, além das matérias de notícia, conteúdo de análises sobre futebol, sem ser clubista e sem apelar para o populismo ou para um sensacionalismo barato. Nas poucas páginas que dedica ao esporte no impresso - e predominantemente ao futebol -, sempre há espaço para um e outro time, numa clara tentativa de manter o equilíbrio e agradar aos leitores alvinegros e tricolores. Ter maximizado apenas um dos times, quando ambos estavam em êxtase pelas suas proezas, desequilibrou os ânimos e a cobertura.

Foto do Daniela Nogueira

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