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Regionalizar assuntos distantes
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Regionalizar assuntos distantes

Tipo Opinião

Priorizar o desenvolvimento de temas regionais é marca do O POVO ao selecionar e publicar assuntos de relevância local em suas plataformas. Isso ocorre, em geral, com os veículos de circulação mais maciça em suas regiões de origem que devem aprofundar questões relacionadas ao público-alvo, mas sem se esquecer, claro, de divulgar outros assuntos.

Os jornais locais fazem isso ao optar por colocar na manchete da edição impressa um assunto que é de interesse específico do cearense ou ao publicar, em suas redes sociais, notícias relativas ao Estado e que certamente não teriam destaque algum em qualquer outro veículo de circulação nacional. Isso importa mais significativamente para nós.

Ao desenvolver esse jornalismo regional, os veículos mostram sua preocupação com as questões locais, falam com o público diretamente e assumem a responsabilidade, como mediadores sociais, de pôr luz em nossos conflitos. Afinal, é no jornalismo que, muitas vezes, a população encontra ponte para solucionar contendas com os governos.

O jornalismo regional deve ser o mote em veículos regionais. Isso não significa, porém, ignorar todo o cenário nacional e internacional. Assuntos que têm marcado a conjuntura e, principalmente, feito parte de momentos históricos não devem ser excluídos da cobertura. É preciso, no entanto, cuidado e equilíbrio para bem informar ao leitor tanto no uso das terminologias quanto na seleção do que é publicado.

Equilíbrio

O mais atual conflito que domina grande parte da cobertura midiática em todo o País envolve Estados Unidos e Irã. A morte do poderoso general iraniano Qasem Soleimani a partir do bombardeio dos Estados Unidos, nos primeiros dias do ano, surpreendeu o mundo.

Pelas proporções que o tema abrange, a matéria tem dominado ainda o noticiário - por mais que tenha perdido força nos últimos dias após o ataque a bases norte-americanas. O assunto, entretanto, não deve deixar de estar nas publicações de um veículo regional. E não apenas com material de agência.

Dias depois do assassinato do general iraniano, a procura por "Terceira Guerra Mundial" cresceu consideravelmente nos sites de busca. É compreensível que tenha havido um aumento nesse rastreio. A grande mídia começou a especular se estaríamos diante de mais guerra em âmbito mundial. A hashtag com o termo passou a ser vista com frequência nas redes sociais. Acadêmicos e demais pesquisadores passaram a falar de modo mais recorrente no tema. Virou pauta.

Mas qual era o ponto de equilíbrio entre o que se tentava entender do conflito que se iniciava e a manipulação que a mídia tentava mostrar? Houve, de fato, o temor mundial por mais uma guerra ou tudo não passou de um suspense midiático?

O POVO tem abordado o assunto várias vezes, com conteúdo produzido por equipe própria. É certo que o tema tem estado mais frequentemente nas redes sociais e no portal, inclusive com vídeos e publicações específicas para as plataformas digitais. No impresso, por mais que tenha havido reportagens acerca do tema, as factualidades são publicadas em notas.

Nas redes sociais, além do noticiário, no meio de toda a tensão, uma publicação no fim da semana destacou o Oriente Médio, abordando as diferenças entre persas, árabes, turcos, curdos, xiitas e sunitas. É positivo, porque, de um lado, acaba por tirar o foco da hegemonia imperialista, além de trazer informações que provavelmente não teriam espaço em outro momento.

Por outro, o jornal institucionalmente assegura todos os dados, porque não há fonte de onde foram retirados - se de alguma publicação oficial, se repassados por algum especialista da área, enfim. Isso também dá credibilidade à informação. De onde vem aquilo que se lê? É preciso sempre ter essa preocupação. O jornalista é o mediador da informação, não a fonte primária.

O leitor precisa entender como um assunto tão denso - um conflito Estados Unidos-Irã - pode influenciar em seu cotidiano, do lado de cá. Para isso, o jornal precisa muito mais do que reproduzir textos de agência e falas de entrevistados especialistas. Investir em conteúdo que seja o diferencial para o seu público - mesmo que o assunto aparentemente seja tão distante. Isso também é regionalizar.

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