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O jornalismo em tempos de promoção
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O jornalismo em tempos de promoção

Tipo Opinião

Neste período após as festas, em que o consumidor tenta equilibrar os gastos, pagando o que deve do ano passado enquanto começa a pagar as primeiras despesas do novo ano, têm início as promoções, os saldões e toda tentativa de atração do cliente para o varejo. É típico do comércio. Os veículos da mídia são usados como ferramenta para disseminar a informação, divulgando as "oportunidades imperdíveis".

É válido que isso ocorra. Afinal, são informações de interesse de boa parte do público, que pode estar empenhada em participar desse processo de consumo dos bens e serviços divulgados. Da parte do jornalismo, é preciso um cuidado mais atento para que isso não se torne um estímulo à compra desregulada numa sociedade cada vez mais ansiosa pelo consumo desmedido.

Na semana que passou, alguns exemplos do que foi publicado no O POVO: "Gol realiza promoção de passagens aéreas para comemorar aniversário" (17/1/2020), "Shoppings fazem saldão com descontos de até 90% em Fortaleza" (16/1/2020) e "Seis bancos isentam clientes da nova tarifa do cheque especial" (15/1/2010). Antes, havia sido publicada também: "Comércio abre temporada de saldão com descontos até 70%" (4/1/2020).

Todas são matérias que claramente fazem um apelo ao consumo. Não se trata tão somente de deixar a responsabilidade com o leitor - de assumir ou não a dívida. É uma responsabilidade que o jornal precisa também assumir ao se lembrar que cumpre uma função social de promover a educação financeira toda vez que publica assuntos com essa temática.

Consumo

A matéria que estampou a manchete do jornal impresso de quarta, 15/1, "Seis bancos isentam clientes da nova tarifa do cheque especial", tinha um viés positivo - o da isenção da taxa. Não deixa de ser benéfica qualquer retirada de taxa em instituições financeiras, mas é necessária muita prudência ao se elevar a assunto mais importante do dia, como a manchete do jornal, um tema que mexe com o orçamento do consumidor.

Afinal, para quem estamos escrevendo? Quem é o nosso público? Trabalhadores assalariados, que vivem em regime de trabalho intermitente, na informalidade, à mercê da modernização das leis trabalhistas, conseguem se animar com uma manchete dessas, a partir da isenção da taxa de juros do cheque especial? Ou será que não estamos incentivando o endividamento da população em vez de promover matérias de educação financeira?

É inegável que é preciso informar. Promoções, feirões, saldões (perceba que o aumentativo não é à toa) existem para que bons negócios sejam feitos, e é saudável para todos que isso aconteça. Do lado de quem vende, porque "a roda da economia precisa girar", não é mesmo? E do lado de quem compra, porque conseguiu economizar, aproveitando a oportunidade. É aquela relação ganha-ganha. É aí em que entra o jornalismo para mostrar que essas oportunidades existem.

Mas é aí em que entra o jornalismo também para orientar ao leitor consumidor ao produzir uma matéria voltada a esses temas. Não basta se limitar a narrar o acontecido. Não basta se restringir a publicar a informação. A função social do jornalismo vai mais além. É indissociável a relação com o educar.

É certo que o assunto não passa alheio ao O POVO. No dia 2/1/2020, esteve na manchete: "Contas no azul - Caminhos para uma vida financeira equilibrada". A reportagem detalhava dicas, a partir de conversas com especialistas, para identificação e controle de gastos para o planejamento financeiro. "Os cuidados para evitar o superendividamento" e sugestões para economizar na compra do material escolar também foram temas de matérias recentes.

É sempre louvável quando o jornal aborda o tema de forma educativa apontando caminhos e traçando soluções para a gestão financeira do consumidor. Isso não pode ser feito, porém, de forma pontual, como nos extremos dos anos. É também produtivo quando essas dicas estão pulverizadas nas matérias ao longo das edições - principalmente em matérias que divulgam serviços, orientando um comportamento de consumo, por vezes desenfreado. O leitor não é o mesmo de todos os dias.

O jornalismo não pode se esquecer de que presta serviço, de que orienta, de que norteia a vida (também financeira) de milhares de leitores em todas as plataformas. Em vez de apenas manipular para a aquisição, deve educar para o consumo consciente e responsável.

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