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O jornalismo das urgências
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O jornalismo das urgências

Tipo Opinião

Convencionou-se no jornalismo que é preciso enfatizar, em algumas matérias e publicações nas redes sociais e nos portais de notícias, quando algo é imediato, quase instantâneo. Em suma: urgente. Vez por outra, então, vimos a expressão em destaque, normalmente acima do título e em letras maiúsculas: URGENTE.

Alguns veículos de comunicação usam um selo sob um fundo preto. Outros padronizaram a cor vermelha. É relevante perceber a inserção da tonalidade no contexto da semiótica. Cor quente que é, o vermelho chama a atenção do leitor para a frase que virá. O POVO é um dos veículos que usam o vermelho com o "urgente".

É necessário, pois, refletir sobre o conceito contemporâneo de urgente. Está claro que ele não faz sentido algum para os veículos impressos, visto que as notícias publicadas no jornal que você tem em mão certamente não são mais imediatas como seriam no momento em que foram escritas. Até no jornalismo digital/online esse sentido pode ser esvaziado se levarmos em conta a efemeridade de alguns fatos e, consequentemente, a velocidade com que ocorreram.

Na TV e demais mídias que atuam diretamente com áudio, esse senso de urgência é bem mais vigoroso. Basta ouvir a famigerada vinheta "do plantão" que alguns já se emocionam, acreditando que algo do campo do extraordinário será noticiado. Em casos assim, espera-se quase sempre tragédia, morte, acontecimento excepcional na conjuntura política ou econômica, por exemplo.

Critérios

A marca do urgente, seja em qual plataforma for veiculada, é para chamar a atenção do público mesmo. A questão sobre a qual se deve refletir é: qual é o sentido atual do "urgente" no jornalismo?

As urgências são uma condição que sempre acompanharam a instituição jornalística. Ajudam a divulgar os eventos, dando-lhes a devida importância; a enfatizar fatos memoráveis; a informar de modo mais preciso - como tem de ser.

O que não se deve é banalizar o senso de urgência, atribuindo a tarja a qualquer publicação que seja importante, mas que não seja necessariamente um acontecimento que faça jus ao extraordinário. É preciso critério.

O POVO faz uso regular da expressão "Urgente" em suas publicações - seja no portal, seja em seu perfil nas redes sociais. Em janeiro deste ano, usou seis vezes a tarja em publicações nas redes sociais. Em fevereiro, foram 10 vezes. Em março, até a última sexta, uma. Sabe-se que no mês passado houve períodos de tensão, principalmente devido à paralisação de policiais militares, o que rendeu boa parte das matérias que carregam o selo.

São exemplos: "Bolsonaro decreta Garantia da Lei e da Ordem e Exército atuará no Ceará" (20/2/2020), "Governo Federal envia equipes da PF e PRF a Sobral, diz nota" (19/2/2020) e "Cid Gomes é baleado em Sobral" (19/2/2020).

Pode-se justificar a "urgência" nas notícias pela combinação da relevância dos fatos para a região, do imediatismo dos eventos ("acabaram de ocorrer") e da importância dos agentes envolvidos para o contexto em que estamos.

Para outras situações, no entanto, cabem reflexão: "Ceará tem seis casos suspeitos de Coronavírus" (28/2/2020), "Cid Gomes recebe alta após ter levado tiro em cima de escavadeira" (23/2/2020) e "Suspeita de infecção por Coronavírus é descartada no Ceará" (3/2/2020).

Vivemos tempos em que as instituições críveis do jornalismo de qualidade precisam bem informar, principalmente em relação à saúde, e isso inclui não fomentar a sensação de terror, suspense e medo. Alardear para casos então suspeitos no Estado (sem confirmação) não contribui para a função social de bem informar, estabelecendo antes critérios rígidos de seleção de informação.

No O POVO, há uma avaliação editorial para se decidir quando é usada a expressão "urgente".

A sociedade está cada vez mais ansiosa. Estamos angustiados por não conseguirmos consumir a grande quantidade de informações com a qual deparamos cotidianamente. Assim, promover o "urgente" tão somente em busca de audiência não é uma estratégia verdadeira, além de já obsoleta, que deixa parte do público mais apreensiva.

Devemos ser coerentes com o interesse público, a relevância e a atualidade ao qualificarmos uma informação e oferecê-la ao leitor diante de todos os critérios de hierarquização de notícias que tão bem conhecemos.

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