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Por que não se publica notícia boa?
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

Por que não se publica notícia boa?

O título desta coluna também poderia ter sido: por que vocês não publicam o número total de pacientes recuperados da Covid-19? Essa tem sido uma das perguntas mais recebidas pelo O POVO nos últimos dias. O público tem estado cansado das notícias envolvendo os números alarmantes de casos e de mortes, as histórias comoventes e as imagens impactantes. Por isso se dá a cobrança como se houvesse uma omissão nesse dado.

Durante semanas, foi predominante nas manchetes dos portais, dos perfis nas redes sociais e do jornal impresso o número de casos e de mortes que só crescia. Agora parece se estabilizar (ou há uma tendência a isso). A razão é muito simples: estamos na cobertura da maior crise de saúde da história do País, uma tragédia sem precedentes na história moderna. O tema, por si só, sem acréscimo algum, já se apresenta com uma carga emocional intensa.

Apresentar os cruéis dados de uma tragédia, dia a dia, é a parte mais sensível da cobertura, porém necessária. Exige delicadeza para não parecer sensacionalismo. Demanda cuidado para não sugestionar apelação. Nem sempre se consegue o ideal, é verdade.

Há um exagero desmedido na veiculação das notícias "urgentes", que parecem perder o sentido e falta mais rigor na veiculação frequente de imagens com caixões, valas e ambulâncias, por exemplo.

O que o Jornalismo não deve fazer, sob pena de omitir um cenário existente, é negar os fatos de uma realidade, por mais dolorosa que seja. É por esse motivo que se tenta equilibrar a divulgação de informações tão violentas com a publicação de atenção à saúde mental, por exemplo, um tema tão discutido neste período.

Reabertura

As "notícias boas" começaram a ganhar mais fôlego na imprensa cearense no fim da semana retrasada. O POVO noticiou no dia 22 de maio que o Ceará começara a registrar redução nos atendimentos de emergência em UPAs e hospitais públicos e privados (https://is.gd/HM3ktY). Não era o ideal ainda, nem é, mas já tempera a esperança após dias jorrando notícias tão lúgubres. Nestes casos, o meio é sempre atacado pela mensagem.

Desde então, de acordo com o discurso do governador do Estado, parece estar havendo uma estabilização do número de casos da Covid-19 na Capital, o que ainda demonstra uma situação grave, mas - novamente - já abre uma possibilidade de boa expectativa para os próximos dias.

A imprensa, no entanto, precisa ter mais parcimônia ainda quando estamos às vésperas da reabertura gradual dos estabelecimentos. Precisa mostrar as "notícias boas", a diminuição do número de casos quando houver, as histórias de cura. Tudo isso é um rompante de alívio durante a tensão. Não pode ser, entretanto, justificativa para que a população reduza as medidas sanitárias de segurança.

Ainda há um forte sentimento de insegurança por parte de uns quanto à reabertura do comércio a partir desta segunda, 1º. Sob outro ponto de vista, há uma sensação de cansaço de outros, que clamam por esse retorno.

A necessidade por notícias boas, a todo custo, pode ter vários vieses. Um deles é mascarar a realidade, talvez negando os fatos por razões políticas ou ideológicas. Outro é se abster do consumo de informações tão violentas. O assunto pandemia pelo novo coronavírus não é um tema fácil.

Assim, essa ansiedade por querer ver a publicação de algo positivo, leve, que alivie essa realidade densa pode ajudar a dissipar essas angústias. Agora, principalmente, pode servir de subterfúgio para a saída às ruas e o consumo no comércio. Não é isso o que se deve fazer por ora.

As notícias boas existem e devem ser noticiadas. O Jornalismo cumpre com muita responsabilidade seu papel social quando publica histórias positivas, usando o interesse público como um dos critérios. Aquelas máximas importadas do jornalismo norte-americano do "se sangrar, vai para a manchete" ou do "bad news, good news" ("más notícias, boas notícias") já não são mais levadas em conta nas Redações há anos. É claro que o extraordinário chama a atenção: a tragédia, os crimes, os acidentes, o escândalo. Porém não se deve cobrir uma pandemia excluindo números ou dissimulando dados.

As boas notícias ajudam o público a ter melhor qualidade de vida. De volta: o pico do número de casos pode estar passando, mas o vírus continua a circular. O alerta precisa continuar na imprensa. O Jornalismo responsável vive desse equilíbrio.

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