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Inimigos de infância
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

Inimigos de infância

Todo tipo de amizade influencia o processamento cognitivo e afetivo da criança e até mesmo a perda ou afastamento entre amigos acabam compondo seu repertório emocional, capacitando-a a enfrentar possíveis frustrações futuras.
Tipo Crônica
Amigos de infância podem ser para toda a vida; inimigos também (Foto: Eduardo Barrios/Unsplash)
Foto: Eduardo Barrios/Unsplash Amigos de infância podem ser para toda a vida; inimigos também

 

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Já há muito sabemos da importância das amizades na infância, ante o desenvolvimento da empatia, o incremento dos laços sociais, favorecimento do autoconhecimento oriundo da interação e oportunidade para as habilidades interpessoais de convivência, lealdade e confiança ganharem espaço.

Muito se fala do fortalecimento de maior apoio emocional, coleguismo e compartilhamento, além do estímulo a conversas mais elaboradas e profundas, com melhoria da capacidade de comunicação, além da aprendizagem de convivência com diferentes opiniões e até mesmo certa competitividade, descobrindo-se como resolver eventuais desavenças, mantendo-se a autonomia, ao passo que os laços afetivos são conservados.

Na infância, geralmente a mera idade serve para identificarmos o potencial de alguém ser considerado um amigo. “Aquele menino tem 5 anos como eu? Então é só perguntar se quer ser meu amigo”.

Daí, sem necessidades de maiores protocolos, um vínculo é automaticamente realizado, principalmente se houver uma bola, uma gangorra ou um brinquedo qualquer a ser compartilhado.

De forma geral, as amizades nessa fase são formadas em qualquer lugar, seja na escola, cursos de línguas, o pátio do prédio, parques próximos, vizinhança ou até mesmo na sala de espera de dentista ou por entre as mesas de algum restaurante.

Todo tipo de amizade influencia o processamento cognitivo e afetivo da criança e até mesmo a perda ou afastamento entre amigos acabam compondo seu repertório emocional, capacitando-a a enfrentar possíveis frustrações futuras.

Amigos de infância nos conhecem há tanto tempo que representam espelhos de nós mesmos, sendo certo que chegamos a considerar alguns até mais irmãos que os de sangue.

Pois bem, mas e o que falar dos inimigos da infância?

Quase todo mundo já teve um arqui-inimigo que se dedicava a nos atormentar.

Creio que esse rival, principalmente se for um ex-amigo, antes dócil e agora hostil, também colabora para nossa formação e crescimento, mesmo que de maneira não tão saudável assim.

De uma maneira ou de outra, conseguimos identificar, em seu comportamento, o oposto que admiramos, ao tempo em que desprezamos seu caráter e não compartilhamos dos seus valores.

Aprender a reconhecer o mal e antagonizar o comportamento não virtuoso, evitar proximidades com falta de caráter, nos afastar de falsidades e nos apartar de cinismos também é uma maneira de nos elevarmos e seguirmos outros rumos.

Um amigo meu tem o azar de morar no mesmo prédio de um adversário de infância e, pelo que diz, a repulsa permanece a mesma, apesar de há mais de quarenta anos a quinta série ter terminado.

Um dia desses estava com outra pessoa e o elevador parou no andar do rival. Ao vê-lo, o oponente limitou-se a murmurar, fechando a cara: “Espero o próximo”.

Quando chegou na garagem, meu amigo apertou todos os botões do elevador, de cima a baixo.

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