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A PM que atrapalha a PM
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

A PM que atrapalha a PM

Tipo Crônica
2806demitri (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2806demitri

Não é desejo. É constatação. As eleições municipais deste ano no Ceará, principalmente, em Fortaleza tendem a ser mais violentas. Não que já não sejam. Virulência verborrágica, cinismo costumeiro, conteúdos falsos... A faca na caveira para chegar ao Palácio do Bispo deverá vir mais brutal.

E não há santo nem na turma de Roberto Cláudio (PDT), que quer fazer o sucessor, e muito menos no agrupamento do Capitão Wagner (Pros) que tem sede pelo Paço Municipal e, até aqui, se oferece como a principal adversário de quem RC, Camilo e os Ferreira Gomes ungirão.

Mas de onde poderá vir o tom mais autoritário? De parte de uma PM ressentida, bolsonarista e que o governo Camilo perdeu de vez o controle. Depois do motim de janeiro e da derrota para o Estado a PM não é a mesma. Nem nos quartéis nem na rua, me avisou um coronel.

Já não era desde que o desejo de ser eleito político virou possibilidade de meio de vida entre oficiais subalternos e praças. Criou-se a falsa narrativa de uma corporação politizada. E o pior, a casta ególatra de oficiais superiores desdenhou dos movimentos, desde 2011, e tornou o governo refém das revoltas de manadas até aqui.

Nas eleições de dezembro, a PM ressentida virá com maior virulência. Mais do que foi em 2014

 

E policial militar não pode ser vereador, deputado, senador, prefeito, governador? Claro que pode. Desde que, como qualquer cidadão, o projeto particular de poder não falseie ou enterre a extensão coletiva que um mandato exige.

É temerosa a conversa com alguns oficiais, comandantes de unidades, e diálogos com praças. Há, pelo desenho que fazem, uma PM que passou a atrapalhar a própria PM. E, em muitos casos, boicota perigosamente o que deveria ser rotina e essência da atividade policial. Independente do governador de plantão.

O curioso é que o motim de janeiro já havia funcionado como "fogo amigo" dentro da própria PM. A revolta, supostamente, por melhores condições de salários, mesmo com o recuo do governo Camilo e o "aceite" de velhas lideranças fardadas, foi um tiro no pé dos amotinados e, por ricochete, na frágil segurança pública do Ceará.

Dali, daquele circo politiqueiro para ressuscitar atores como o Cabo Sabino e construir (na desorganização e violência) novos líderes, também saiu o impulso para as facções criminosas se reorganizarem onde o Estado, com as forças de segurança e o Ministério Público, vinha retomando territórios.

Havia até um torniquete barrando a subida do número de homicídios no Ceará e, durante o motim e posterior ao movimento, destampou novamente. Torniquete é arranjo. O motim e a greve branca, por extensão nos quartéis, contribuíram com a retomada de fôlego das facções.

Além, óbvio, da permanência de problemas sociais históricos que não se resolveram só porque o governo foi obrigado a gritar mais alto que a GDE, o PCC e o CV dentro e fora do sistema prisional do Ceará.

Nas eleições de dezembro próximo, traçam os oficiais e as praças fora do esquema partidário de um lado e outro, a PM ressentida virá com maior virulência. Mais nociva do que foi na época da disputa entre Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB) pelo governo do Ceará, em 2014.

Quem não lembra de um vídeo de policiais do Raio ameaçando não deixar Camilo Santana assumir o governo se o "petista" ganhasse as eleições? Quem não tem na memória a boca de urna ostensiva feita por quem deveria estar coibindo a ilegalidade? O que se repetiu na última eleição para prefeitura.

Camilo, já governador, investiu nas promoções e noutros agrados para conquistar uma tropa cutucada com vara curta pelos Ferreira Gomes. No começo também, na chegada de André Costa, houve uma lua de mel entre o secretário e a tropa. O que, segundo muitas praças, virou separação litigiosa.

O certo é que a narrativa bolsonariana, bélica e violenta, é dominante no ideário policial militar do Ceará. O candidato de Roberto Cláudio, prefeito unha e carne de Camilo e dos Ferreira Gomes, enfrentará uma PM, principalmente, ressentida e que passou amedronta a própria PM nos quartéis e nas ruas.

 

Foto do Demitri Túlio

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