A melhor notícia de 2020 chegou pelo zap. Depois de um ano assombroso desde 2019, uma amiga me escreveu para contar que um câncer que existia nela foi curado. Dancei no corpo eufórico de felicitância. Antônia Coutinho ou Neném do Iapi é dessas mulheres que não precisam de homens para atrapalhar a existência.

Companheira de Redação e de bancada, espirituosa, foi um baque quando soubemos que algo sério arriscava seus dias. Um inesperado nos seios a colocaria em prova. E aí, todo aquele calvário que muita gente enfrenta quando descobre algo que entorta o viver.

Acompanhei alguns lances e, com algumas pessoas, tentamos ser auxiliadores. Se eu fosse o Deus evangélico dela, ela tem uma fé de montanha, não havia submetido a moça à provação.

 

Se eu fosse o Deus evangélico dela, ela tem uma fé de montanha, não havia submetido a moça à provação.

 

Digo isso porque há um fraquejo idiota, comigo, na sustentação do acreditar. Fui criado na Teologia da Libertação e com uma mãe extremamente franciscana e, ao mesmo tempo, pentecostal. Oração, fé, política e ação guerreando no corpo espiritual.

Na Bíblia há um conto perturbador para mim, a peleja do Jó feito infeliz. Deus e o Cão frescando com a vida dele, jogando um jogo escroto, tocando fogo em tudo que nele era próspero, matando o que ele amava, destruindo até a possibilidade avoenga do homem... e ele ali, na fé.

Definitivamente, não tenho o naipe de Jó. Tanto que não compreendo os incêndios devastadores na Amazônia nem a matança de indígenas por causa de garimpo e de pasto...

Também não me conformo com o assassinato de crianças e adolescente pobres (a maioria negra) nas periferias do Brasil nem tenho paciência para achar que a volta do autoritarismo, as rachadinhas e a vontade demoníaca de estapear um repórter são provações e é do jogo...

 

Não divaguei, cara leitora e leitor. É isso mesmo. A fé de Neném (com o tratamento médico), a disputa idiota pela alma de Jó e o atual momento de trevas no Brasil têm relações. Entrançam até no desejo, na vontade e na necessidade de cura e humanidade.

 

Fiquei numa felicidade sanfoneira por ela, por Jó e até pelo País... Chovi pra ela uma infinidade de figurinhas fofas! Não é loucura. É algo que andamos carecendo nos amanheceres: da cura para tantas dores e palavras brutas, para tanta morte e desmatamento

 

Daí a alegria, melhor notícia para um repórter, ler o zap enviado por Neném. "Oi, Demi lindo!! Ontem foi tão lindo!!! Toda quarta-feira vou tomar a infusão, eu passo mal. Tenho uma reação alérgica terrível. Aí, haja tomar antialérgico pra poder passar...".

E continuou: "Hoje, antes da aplicação, orei especificamente por isso e Deus deu sabedoria pra enfermeira mudar o tempo e o gotejamento e eu não senti nada. Glória a Deus! O médico, hoje, falou que estou curada e que o tratamento é só prevenção pro futuro. Eu já sabia, mas teve uma alegria ele dizer".

Fiquei numa felicidade sanfoneira por ela, por Jó e até pelo País... Chovi pra ela uma infinidade de figurinhas fofas! Não é loucura. É algo que andamos carecendo nos amanheceres: da cura para tantas dores e palavras brutas, para tanta morte e desmatamento, tanta apologia às armas e a torturadores, cura para tanta ira contra a boca de um repórter e tanto ódio de um PM à banca de frutas de um vendedor...

Neném não deve ter sido a única curada de 2019 para cá. Não. Vários passaram pelo câncer ou pela Covid-19 (eu, Fátima, minha mãe, minha filha). Outros tantos mil não tiveram a mesma sorte ou sei lá o quê. Porém, a cura da moça do Iapi, que acho não ser Jó, teve algo de lamparinoso. Luz! Curemos e livremos do mal esse País!