A saída do delegado André Costa, 3 anos e 8 meses depois de assumir a Secretaria da Segurança Pública do Ceará, já era fato consumado para Camilo Santana (PT). Depois da condução desastrosa, sem interlocução, do motim de PMs, em fevereiro deste ano, o governador havia declarado publicamente que faria mudanças na área.
Nos bastidores, segundo uma fonte, Camilo teria chegado a cogitar a substituição de André Costa por Mauro Albuquerque, secretário da Administração Penitenciária.
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Mauro, do ponto de vista da estratégia e da liderança, ganhou pontos quando botou um torniquete no sistema penitenciário cearense e segurou o tranco quando as facções responderam nas ruas com a segunda onda de ataques, em setembro do ano passado. Ele passou a ser voz mais influente na segurança, naquele momento.
Camilo e os poucos estrategistas que o cercam teriam se encantado com a "marra" de Mauro Albuquerque. Quando chegou, foi ele quem bancou a retirada dos telefones celulares das cadeias e não aceitou dividir presídio por facção. Uma imposição feita pelos chefes de quadrilhas presos e aceito pela secretária Socorro França, quando esteve à frente da pasta.
André Costa não foi escanteado, mas teria perdido prestígio. Mesmo sendo importante na condução da implementação de várias estratégias tecnológicas para combater o crime e com parcerias eficientes vindas da Universidade Federal do Ceará (UFC), Funcap, Uece e Polícia Rodoviária Federal.
Após a retomada dos presídios e o enfrentamento de "guerra" contra chefes das facções, depois de setembro de 2019, a pasta de André Costa teve até um refresco com índices de homicídios apresentando uma leve tendência de queda. Mas aí, veio o motim politiqueiro da PM, a reorganização dos faccionados na periferia e estouro, novamente, dos homicídios. O desgaste estava posto e sem reconciliação.
Quando André Costa assumiu a SSPDS, ele surpreendeu Camilo Santana. De pronto, o delegado federal angariou a confiança da tropa e causou prejuízo à influencia que o deputado capitão Wagner tinha entre as praças, oficiais subalternos e intermediários.
Com uma postura paternalista, mas com o aval do governador, empoderou grupos violentos da PM com a política do "justiça ou cemitério" para criminosos. Um contrassenso em relação ao desidratado Ceará Pacífico. Em duas conversas, ele me disse que foi mal interpretado. Justiça era o caminho para quem não resistia. E "cemitério" o destino possível para quem recebia a polícia à bala.
O problema é que na tropa a recepção do discurso soou como retaguarda, em várias ocasiões, para o arrepio. A matança em Milagres, o caso Mizael Fernandes (Chorozinho), Juan dos Santos (Vicente Pinzón) e centenas que passaram ou estão na Controladoria Geral de Disciplina dos Órgão de Segurança Pública e Sistema Penitenciários (CGD) são exemplos do empoderamento às avessas da PM.
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O secretário chegou a "institucionalizar" na SSPDS, também com o silêncio de Camilo, um grupo de advogados voluntários para defender PMs acusados de extrapolar a lei. Prerrogativa, antes, exercida apenas pelas associações de policiais.
André Costa não foi um secretário ruim do ponto de vista administrativo e serviu na hora em que Camilo sofria maior rejeição por parte da tropa. Comparado a Moroni Torgan, Wilson Nascimento, coronel Bezerra, Téo Bastos e outros, o delegado André teve uma boa atuação.
O problema para André Costa, Sandro Caron (substituto) ou outro que assumir a SSPDS, é sempre chegar sozinho à periferia precariamente assistida e dominada pelo crime. A polícia, solitária nos bairros, não é
o Estado.