Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Responsável por legar ao mundo riquezas como "A noite do meu bem" e "Por causa de você", Dolores Duran viveu entre a boemia, o reconhecimento, o "se achar feia", a vontade de ser reconhecida como compositora e a urgência de deixar uma obra de respeito. A vida foi curta, mas ela conseguiu
Assistindo a série "Coisa mais linda", um personagem que me chama atenção é Lígia. Vivida por Fernanda Vasconcellos, ela mistura (com liberdade poética) um pouco de Maysa com Dolores Duran, no visual, na personalidade ou nos fatos reais.
Dolores e Maysa são expoentes da cena musical brasileira dos anos 1940 e 50. Em comum, tinham o apreço pelo amargo da vida e pelos dissabores dos amores mal vindos. Mas elas tinham suas diferenças. Maysa era triste de verdade, convivendo com alcoolismo e relacionamentos conturbados, matéria prima para sua música.
Dolores não era menos atraída às noitadas, doses de whisky, maços de cigarros (dois a três por dia) e relacionamentos - namorou João Donato, foi casada por cerca de um ano com um compositor (Macedo Neto), e recebeu muitos flertes, inclusive de João Gilberto e do empresário Alberico Campana. Mas ela não dava muito tempo para tristeza. Entre um sarau na Tijuca, um show em Copacabana e um encontro com amigos, ela estava sempre ocupada.
É verdade que a música de Dolores Duran tinha tristeza, mas essa era a tônica do samba-canção. Em uma curta e pouco representativa carreira fonográfica, ela privilegiou o ecletismo da crooner disputada (cantava samba, boleros, forrós e xotes), o bom humor (um dos seus sucessos foi "A Fia do Chico Brito", de Chico Anísio) e a facilidade de cantar em muitas línguas (inglês francês, alemão, esperanto). Maysa também dominava outras línguas, fez fama com "Ne me quitte pas" e até gravou "A noite do meu bem", de Dolores, em inglês.
Maysa foi muito fiel às próprias lágrimas. Dolores olhou pra frente, tinha sotaque moderno e deu alguns passos na bossa nova. Maysa até gravou o disco "O Barquinho", mas o canto pesado nunca a largou e ela seguia entre mundos caindo e felicidades infelizes. Até a própria imagem à incomodava. Se os olhos verdes e a beleza da maturidade inspiraram poetas depois, antes ela sofreu com as mudanças de peso. Dolores não se achava bonita, fez cirurgia pra diminuir a silhueta e incomodava ser chamada de gordinha.
"Vou pra cama e não quero ser incomodada. Quero dormir até morrer", disse Dolores à empregada Rita, ao chegar depois de uma noitada. Horas depois foi encontrada morta, vítima de um infarto fulminante. Era 24 de outubro de 1959 e a notícia se espalhou pelas boates cariocas. Uma das primeiras a largar o microfone e sair correndo, a pé, pra confirmar a notícia foi Maysa, que cantava no Au Bon Gourmet. Ela já havia combinado de ir ver Dolores Duran cantando no Little Club, no Beco das Garrafas, naquela mesma noite. Ontem, 6 de junho, Maysa completaria 84 anos. Hoje, 7 de junho, Dolores completaria 90 anos.
Notas
Jorge Drexler lançou esta semana "Salvando la distancia", single do seu novo disco, "Aire". O músico uruguaio compôs a faixa no Brasil, pensando numa conexão com as filhas que estavam dormindo em casa. "Ainda que a tecnologia ajude a mitigar a solidão e as distâncias, não há nada que possa substituir um bom abraço", afirma o músico.
O músico cearense Caike Falcão está com um novo projeto para driblar o isolamento. Ele vai iniciar uma turnê nacional online. A ideia é montar lives adaptadas ao gosto cada cidade e transmitir em perfis de bares de cada uma delas. Inicialmente, o plano é "viajar" por 15 estados, e ele já começa na próxima semana tocando no A Autêntica (Belo Horizonte), Distrito BrewPub (Porto Alegre) e Jai Club (São Paulo).
Amanhã, 8, às 21 horas, o Canal Curta! apresenta o documentário "Maria Callas - Vida e Obra", de Alan Lewens e Alastair Mitchell. Lançado em 1987, o filme conta a história da soprano grega que foi um dos nomes mais importantes da cena erudita. Com imagens raras, o documentário traz depoimentos de Franco Zeffirelli, Giuseppe di Stefano (tenor), Carlo Maria Giulini (regente) e Robert Sutherland (pianista).
O compositor Wado planeja o lançamento do seu novo disco, "A Beleza Que Deriva do Mundo, Mas a Ele Escapa", para os próximos meses pelo selo Lab344. No novo trabalho deixa de lado bateria e percussão, dando destaque às harmonias. O segundo single que ele apresenta do álbum é "Nina", com participação de Lucas Santtana.
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