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Pátria amada
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Pátria amada

A influência da música da música brasileira no exterior vai dos detalhes ao palco principal. Passa pelos sambas ufanistas de Ary Barroso, pela imagem imortal de Carmen Miranda, chega ao mítico João Gilberto e segue se reinventando em todos os cenários
Tipo Opinião
Simply Red ao vivo no Ziggo Dome, Holanda (Foto: fotos Divulgação)
Foto: fotos Divulgação Simply Red ao vivo no Ziggo Dome, Holanda

O mais recente DVD da banda britânica Simply Red foi gravado em Amsterdã, Holanda, no imponente Ziggo Dome, que figura entre as maiores casas do mundo e já recebeu estrelas como Madonna, Lady Gaga e U2. Nesse projeto, Mick Hucknall e seu combo jazz pop se misturam a uma orquestra de 40 músicos, entre cordas e sopros, para reapresentar alguns dos sucessos acumulados em cerca de quatro décadas de história.

Mas o que mais me chamou atenção foi o final do show, antes do bis. A música escolhida pra fechar o primeiro bloco é “Fairground”, um super hit lançado no álbum “Life”, de 1995. Nessa hora, as muitas luzes azuis do palco são substituídas pelos tons de verde e amarelo. Com Hucknall já ofegante e trazendo o público não mão, entra a batucada capaz de abalar até o inabalável, e que tanto marcou essa faixa.

A mistura de cores e sons desse momento tem um motivo claro: a batida que sustenta e balança “Fairground” é um sampler tirado da música “Fanfarra”, do carioca Sérgio Mendes. De 1992, a faixa original é um misto de bloco afro com escola de samba, filtrado pelo olhar multiétnico de Mendes, um gênio que ajudou a levar a música brasileira ao mundo. Ela está em “Brasileiro”, álbum que deu ao pianista, que há décadas mora em Los Angeles, um Grammy de Melhor Álbum de World Music.

Para o Simply Red, a percussão é o ponto alto. Mesmo que a letra fale de solidão e distância, é ela quem levanta o astral da música. Ao vivo, Hucknall até arrisca um rebolado e se emociona ao apontar pra uma faixa escrita “Brasil”. Quatro anos antes de “Life”, o álbum “A new flame”, além dos hits “You’ve got it” e “If you don’t know me by now”, apresentava o novo guitarrista da banda: o gaúcho Heitor Pereira. E as ligações do Simply Red conosco não param por aí: no disco “Simplified”, que verte sucessos do grupo ao formato acústico, “Holding back the years” vira uma bossa nova.

Fato é que o Brasil exporta uma música de excelente qualidade, muitas vezes melhor do que a que deixa para consumo interno. Não são poucos os brasileiros que construíram uma história de respeito no exterior, mas que são praticamente desconhecidos por aqui. O paulista Laurindo Almeida atuou em dezenas de trilhas de filmes como “O Poderoso Chefão” e “Os dez mandamentos”, sendo indicado ao Oscar várias vezes. O carioca Paulinho da Costa gravou com Michael Jackson em dois dos discos mais vendidos da história – “Thriller” e “Bad” – e é o responsável pelo molho latino de “La isla bonita”, de Madonna. Sivuca nunca deixou de se apresentar em festivais europeus. Flora Purim e Airto Moreira, de tanto atuarem ao lado de lendas do jazz, tornaram-se lendas eles mesmos. E o que dizer de João Gilberto e Tom Jobim?

Curiosamente, foi na mesma Holanda do show do Simply Red que, certa vez, eu comprava um lanche e a vendedora perguntou de onde vinha aquele sotaque por trás do inglês fajuto. “Brasil”, respondi sorrindo. Ela devolveu com outro sorriso e começou a cantar “Aquarela do Brasil”. É esse o Brasil que interessa.

O guitarrista cearense Dionísio Dazul
O guitarrista cearense Dionísio Dazul

Notas musicais

Guitarrista das bandas Forgotten Boys e do Vulgo Vórtex, o músico cearense Dionísio Dazul (foto) lançou um novo single que ele define como "um rock soul de puro ressentimento". "Eles não sacaram nada" conta com bateria de Clayton Martin (Cidadão Instigado), metais de Daniel Brita e masterização de Antônio Neto. Ouça e divirta-se clicando aqui

Lançada como single por Wilson Simonal em 1968, "Correnteza" ganhou uma nova versão esta semana. Lembrando os 20 anos de morte do "rei da pilantragem", a faixa ganhou a voz seu filho Simoninha, acompanhado pelo grande pianista Antônio Adolfo, parceiro de Tibério Gaspar na música. "Correnteza" conta ainda com a gaita de Gabriel Grossi, que se inspirou em Stevie Wonder.

Autora do hit "Luka", Suzanne Vega lança em setembro o álbum "An evening of New York Songs and Stories". Trata-se de uma homenagem à "cidade que não dorme" gravada em tom intimista no Café Carlily. Dois singles do disco já estão disponíveis: "New York is my destination", de Vega e Duncan Sheik, e "Walk in wild side", composição emblemática de Lou Reed.

Quando já se fala em encerrar a quarentena, Milton Nascimento decide fazer sua live. Mesmo assim, o anúncio é bem vindo e a apresentação acontece hoje, às 18h30min, pelo canal oficial do cantor no YouTube. Pelo Instagram, o artista adiantou canções que podem estar no repertório, como "Travessia", "Morro velho" e "Ponta de areia". Pro aquecimento, até lá, vale ouvir a parceria de Milton com Criolo e Amaro Freitas. É soberbo.

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