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Propaganda fora do plano
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Propaganda fora do plano

Com suas ações míopes e autoritárias, a censura calou muitas obras de arte. Mas chegou um ponto em que ela virou contra o feiticeiro e acabou ajudando a quem deveria incomodar. Ter uma obra censurada era uma ótima propaganda
Tipo Análise
Banda Detonautas (Foto: Bruno Kaiuca/ Divulgação)
Foto: Bruno Kaiuca/ Divulgação Banda Detonautas

Vocalista dos Detonautas Roque Clube, Tico Santa Cruz anunciou via Twitter que no dia 6 de novembro a banda carioca vai lançar um novo single e deu uma pista sobre o tema: “Bolsonaro usa muito”. Crítico ferrenho do presidente da república, o músico não precisaria dizer muito mais que isso.

O lançamento vem na sequencia de “Micheque”, música lançada no início de setembro e que deu um grande bafafá por fazer piada com a pergunta que mais se repetia em redes sociais pelo Brasil à época: por que razão Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, teria depositado R$89 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro? Misturando a cantiga de roda “Marcha soldado” com guitarras pesadas e Marcelo Adnet imitando o presidente, “Micheque” é puro deboche, mas a “homenageada” não gostou da brincadeira e ameaçou os Detonautas de processo e censura.

Sim, censura. Michelle Bolsonaro achou que poderia proibir a execução da música numa época em que arquivos são puxados do fundo do baú relembrando aquele comentário ou vídeo no mínimo constrangedor que você achava que seriam esquecido. Se falava da boca pra fora ou se realmente acreditava que seria capaz de sumir com “Micheque” eu não sei, mas o que ela conseguiu foi transformar o single num sucesso e no assunto do momento. E quanto mais ela se indignava, mais plays eram dados.

Curiosamente, no início dos anos 1980, quando o rock ganhou espaço no mercado musical brasileiro e a ditadura caia de velha, ter uma obra censurada chegava a ser um bom negócio. Uma das histórias mais famosas é do disco de estreia da Blitz, que teve as últimas faixas do lado B censuradas - uma delas, "Cruel cruel esquizofrenético blues", por que trazia o verso "Só porque ela pegou no peru do seu marido", um verdadeiro atentado ao pudor. No lugar de regravar o disco, a banda carioca preferiu riscou com um prego cada uma das cópias e colocou um selo capa: “por terem sido vetadas pela censura (DCDP), as duas últimas faixas do lado B foram intencionalmente inutilizadas”. Com o público incomodado por levar uma obra maculada pra casa, a banda acabou vendendo o disco e o protesto juntos. E claro, isso gerou muita curiosidade e ajudou o disco a vender muito mais. Hoje, os discos riscados são troféu nas estantes dos colecionadores. E quando o disco completo foi liberado, mais vendas vieram.

Leo Jaime foi até mais direto e colocou “proibido para menores de 18 anos” na capa de “Phodas C”. Lançado em 1983, seu disco de estreia é uma joia do deboche e teve problemas com a censura por conta dos versos libidinosos de “Sonia”. A resposta veio no disco seguinte, com “Solange”, uma ode a Solange Hernandes chefe da Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP), órgão responsável pela tesoura moral da ditadura brasileira. Em ambas, o deboche abunda.

E a cada corte que o departamento dava – seja por conta de críticas sociais, mensagens políticas ou palavras de baixo calão – mais o público ficava curioso pra ouvir o que era tão proibido. “Veraneio vascaína”, com o Capital Inicial disparando contra a violência policial; “Revoluções por minuto”, do RPM, por conta do verso “aqui na esquina cheiram cola”; “Faroeste Caboclo” e “Conexão amazônica”, da Legião Urbana, pelo todo da letra; e, claro, “Censura”, da Plebe Rude, foi censurada por motivos óbvios. O tempo passa e todas elas viraram grandes sucessos nas rádios e shows, e assim permanecem até hoje.

Notas

Aos 78 anos, Paul McCartney segue incansável. Embora não estivesse nos seus planos, ele aproveitou o isolamento causado pela pandemia e gravou um novo disco. Produzido, composto e tocado 100% - até onde se sabe - pelo ex-beatle, "McCartney III" tem previsão de lançamento para 11 de dezembro e já se encontra em pré-venda nas lojas virtuais. O título faz referência a "McCartney", seu primeiro álbum solo, de 1970, em que o músico assumiu todos os instrumentos e a produção. 50 anos depois, no teaser do lançamento, Paul aparece tocando baixo, piano, guitarra, bateria e tocando. "Eu estava vivendo a vida de lockdown na minha fazenda com a família e eu ia até meu estúdio todo dia. Eu tive que trabalhar um pouco em músicas de filme e isso acabou virando a faixa de abertura, e então quando eu finalizei esse projeto, eu pensei: o que vou fazer a seguir? Eu tinha algumas coisas em que trabalhei ao longo dos anos, mas às vezes acabava e ficava pela metade. Então comecei a pensar no que eu tinha. Cada dia eu começava a gravar com o instrumento em que eu escrevi a música e aí, gradualmente, trabalhava em cima disso. Foi muito divertido. Foi sobre escrever música pra si mesmo, mais do que fazer música como um trabalho", comenta McCartney.

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Já está disponível nas plataformas digitais "Lábios que beijei", novo single de Raimundo Fagner. A faixa faz parte do disco "Serenata", que será todo dedicada aos clássicos da Era do Rádio. O disco tem previsão de lançamento para 20 de novembro, pela Biscoito Fino. "Lábios que beijei" é um dos grandes sucessos de Orlando Silva e já foi regravada por gente Caetano Veloso e Cauby Peixoto. Além desta, Fagner apresenta versões inéditas de "Rosa" (Pixinguinha/ Otávio de Souza), "Deusa da minha rua" (Newton Teixeira/ Jorge Faraj), "Noite cheia de estrelas" (Cândido das Neves) e "As rosas não falam" (Cartola), que, apesar de figurar em muitas serestas, veio depois da era do rádio. Fagner conta que o disco é uma homenagem a seu irmão Fares, um grande seresteiro de Fortaleza, que cantou muito ao lado do saudoso Evaldo Gouveia. "Na minha infância, eu ouvia música de adulto, grandes seresteiros, especialmente Silvio Caldas, a quem eu considerava o maior".


No próximo 30 de outubro, a Sony Music lança o novo disco de Paulinho da Viola. "Sempre se pode sonhar" reúne 22 faixas gravadas em setembro e outubro de 2006, no Teatro Fecap, em São Paulo. A capa é do mestre Elifas Andreato. Entre as faixas do álbum está a inédita "Ela sabe quem eu sou". Segundo o músico e pesquisador Charles Gavin, responsável pelo release, o novo disco do sambista carioca apresenta uma "levada um pouco diferente, uma harmonia que se aproxima da bossa nova". Aos 77 anos, Paulinho segue na mesma velocidade que marcou toda sua história, ou seja, sem pressa. Seu último lançamento foi um sensível "Acústico MTV", de 2007. Antes, o último trabalho de inéditas foi "Bebadosamda", em 1996. Agora é torcer que a esplêndida turnê que ele dividiu com Marisa Monte também ganhe registro.

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