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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Artista no plural

Parceiro de Tavito em "Casa no Campo", Zé Rodrix é um dos muitos heróis que a memória brasileira vai esquecendo aos poucos. Como instrumentista, cantor ou compositor, ele usou músicas para provocar reflexões e questionar a própria música
Tipo Análise
Zé Rodrix (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Zé Rodrix

Em março de 2021, a Universal Music lançou uma versão nova do disco "Elis", lançado originalmente em 1972. Ponto alto - entre tantos - da discografia de Elis Regina, o álbum marca o início da parceria da cantora gaúcha com o pianista, arranjador e futuro marido César Camargo Mariano. Na versão remasterizada, lançada em CD, streaming e LP, estão alguns cacos de estúdio que foram cortados da versão original.

Se não é um "best of", bem que "Elis" se aproxima disso. Entre as 10 faixas, tem "Águas de março", "Mucuripe", "Nada será como antes", "Atrás da porta" e outras joias desse quilate. Entre elas, tem "Casa no campo". A parceria de Zé Rodrix e Tavito havia vencido, um ano antes, o Festival de Música de Juiz de Fora e cumpriu o importante papel de dar nome a uma espécie de movimento que ficou conhecido como "rock rural".

É exagero chamar o "rock rural" de movimento, mas nenhum elogio que se fizer a Zé Rodrix será exagero. Carioca nascido em 25 de novembro de 1947 como José Rodrigues Trindade, ele participou de alguns dos mais importantes momentos da MPB. Se fosse pra ficar só em um exemplo, é ele quem toca teclados em "Fala", última faixa do disco "Secos&Molhados" (1973). Só por isso, já merecia entrar pra história, mas Rodrix também acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha na apresentação de "Ponteio", no Festival da Record de 1967. Também é dele a versão jazzística de "California dreamin'", gravada pela cantora Rosa Maria, que nasceu como um jingle.

Sua história segue no Som Imaginário, com quem gravou uma inspirada versão de "Feira Moderna". Ainda com a banda, ele acompanhou Milton Nascimento no disco de 1970, que tem, entre outras, "Para Lennon e McCartney". Um dos trabalhos mais reconhecidos dele é o trio formado com Sá e Guarabyra. Entre muitos desentendimentos e discordâncias, eles renderam dois discos impecáveis lançados em 1972 e 1973, que misturam de folk, rock, MPB - ou seja, o tal "rock rural". E, como se não bastasse, ele integrou o combo anárquico Joelho de Porco, parte menos glamourosa do rock nacional.

Seja como compositor, cantor, instrumentista, escritor ou provocador, o currículo de Zé Rodrix está espalhado por uma infinidade de discos brasileiros. E algo que ele gostava de fazer era música sobre música. "Chamada geral", por exemplo, convoca nomes como Rita Lee, Raul Seixas, Mutantes e Jorge Mautner pra um debate sobre os rumos do rock nacional. "Eu vou comprar esse disco" é um apelo para que o público entenda sua importância para a sobrevivência do compositor. E "Eu não sei falar de amor" narra o drama que se atravessa para criar uma canção.

As faixas citadas acima são do disco "Soy latino americano" (1976), raro trabalho solo de Rodrix a atingir sucesso comercial. As letras são tão diretas, tão sem arrodeio, que soam como deboche. Em certos momentos, ele abandona métrica e rima, sem perder a condução do discurso. As ideias libertárias do rock rural também aparecem em faixas como "Boa viagem" e "Ilha deserta". E é "Casa no Campo" que encerra o disco, em uma versão, intensa, forte e original, como era o próprio Zé Rodrix. Inclusive, naquele mesmo disco de 1972, Elis gravou outra dele, "Olhos abertos". A parceria com Guarabyra diz: "Eu preciso encontrar as pessoas, ficar de mãos dadas com elas. Conversar com a boca e os olhos do coração". Atual como se fosse feita hoje.

Mais sobre Zé Rodrix

Falecido em 22 de maio de 2009, Zé Rodrix teve sua vida contada no livro "O fabuloso Zé Rodrix", escrito por Toninho Vaz. A biografia deu origem a um filme, lançado em 2017, com direção de Léo Cortêz.

A lista de intérpretes de Zé Rodrix vai de Cauby Peixoto a Cida Moreira, de Vanusa a Bruna Caram, de Elza Soares a Roupa Nova. Nasi, vocalista do Ira!, batizou seu primeiro disco solo com o nome de uma música de Rodrix: "Onde os anjos não ousam pisar". E o próprio Ira! gravou "Por amor" no "Acústico MTV".

Como membro da maçonaria, Rodrix lançou em 2000 um trabalho gigantesco chamado "Trilogia do templo". A série é composta pelos livros "Johaben: Diário de um Construtor do Templo", "Zorobabel: reconstruindo o templo" e "Esquin de Floyrac: O fim do Templo".

No início dos anos 2000, Rodrix se aproximou do Clube Caiubi de Compositores, de São Paulo. Ali ele conheceu diversos novos artistas, como a cearense Aparecida Silvino. No disco "Sinal de Cais", Aparecida gravou duas composições inéditas dele, incluindo "Quando é amor", parceria dela com Zé e Bárbara Rodrix.

Zé Rodrix também participou de trilhas sonoras para TV e cinema. Na rede Globo, ele participa das trilhas das novelas "Corrida do ouro", "Anjo mau", "O espigão" e outras. No especial infantil "Plunct plact zum", ele interpreta "A ilha da higiene". A propósito, no cinema, ele também fez a trilha do clássico pornográfico nacional "Oh Rebuceteio".

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