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Amilton Godoy, do Zimbo Trio, celebra 80 anos de vida com novo disco
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Amilton Godoy, do Zimbo Trio, celebra 80 anos de vida com novo disco

Dono de uma trajetória única como propagador da música brasileira pelo exterior, o pianista Amilton Godoy completa 80 anos revendo sua história em novo disco
Amilton Godoy celebra seus 80 anos com disco inédito (Foto: Dany Godoy/ Divulgação)
Foto: Dany Godoy/ Divulgação Amilton Godoy celebra seus 80 anos com disco inédito

Qualquer tentativa de resumir a história de Amilton Godoy dentro da música popular brasileira vai passar por uma série de ausências e evidentes esquecimentos. Em mais de 60 anos de carreira, esse paulista de Bauru tocou com estrelas, como Elizeth Cardoso, Claudya e Elis Regina. Com esta última, dividiu o palco do programa "Fino da Bossa". Como fundador do Zimbo Trio, criou uma formação instrumental que excursionou por todos os continentes e gravou mais de 50 discos - fora do trio, essa discografia cresce mais. Como se não bastasse tudo que fez com e sem o Zimbo, Amilton ainda fundou o Centro Livre de Aprendizagem Musical (CLAM), responsável pela formação de uma geração de músicos que tomaram para si o bastão de apresentar a MPB ao mundo.

Apesar de imenso, o parágrafo acima é uma gota diante das contribuições de Amilton Godoy para a nossa cultura. No entanto, ouvindo-o falar do outro lado do telefone, não há o menor sinal de cansaço. "A primeira viagem que fiz como pianista erudito, o prêmio era uma excursão pelo Nordeste e uma das cidades que conheci foi Fortaleza. Isso foi em 1959, mais ou menos. Acho que fiquei hospedado na casa do (compositor) Paurilo Barroso, uma figura cultural importantíssima, super gentil", lembra o maestro, aos 80 anos. Essa data, fechada no dia 2 de março de 2021, foi celebrada do jeito que ele gosta: tocando e gravando novo disco.

"Amilton Godoy - 80 Anos" é um apanhado de histórias desse músico que viveu nas interseções do jazz, do clássico e do popular. Um bom exemplo desse cruzamento é a série "Opus Pop", que o Zimbo criou dando nova bossa a peças de Beethoven, Ravel e Vivaldi. Foi do álbum de 1972 que ele repescou o poema sinfônico "Scheherazade", do compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov, para o novo disco. "A faixa que abre o primeiro disco (da série) é essa, mas eu quis fazer uns improvisos. Representa essa série que deu uma repercussão muito grande", explica Godoy que também pegou uma peça de francês Maurice Ravel. "'Pavane pour une infante défunte' já foi objeto de muitos músicos. Ele influenciou tantos músicos de jazz que eu queria que ele estivesse aqui".

Chegando na música brasileira, Amilton Godoy lembra seus tempos de TV Record com "Frevo rasgado", de Gilberto Gil (e Leonardo Ferreira). "Logo que ele (Gil) apareceu no 'Fino da Bossa', a Elis começou a gravar com ele. Eu também estava no júri quando ele lançou o 'Domingo no parque' no Festival (de 1967)", conta ele que também celebra sua longa parceria com Elizeth Cardoso regravando "Canção de amor". "Elizeth tinha que estar porque foi uma pessoa maravilhosa, uma pessoa muito leal. Todos os títulos que ela recebeu são pouco pra ela como pessoa, como gente, como cantora".

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Acompanhado de Sidiel Vieira (contrabaixo), Edu Ribeiro (bateria), Gabriel Grossi (gaita) e Tico d'Godoy (sax), Amilton ainda aproveita seu novo disco para quitar algumas dívidas antigas. Uma delas é com o compositor Mozart Camargo Guarnieri, que havia sugerido há muitos anos que ele gravasse "Ponteio 49". "Ele gostava de dizer como ele gostaria que a música dele fosse interpretada", lembra o músico que também acertou suas contas com Tom Jobim. O maestro, que já foi tema de dois tributos do Zimbo Trio, há tempos sugeriu que Amilton gravasse "Bebel", faixa lançada no álbum "Passarim". "Eu fiquei devedor com ele. Eu tinha gravado o segundo disco em homenagem ao Tom e ele vinha a São Paulo pra fazer uma foto. Um dia antes de vir, ele liga dizendo que iria pra Nova York pra receber um prêmio. Aí, quando ele fez o 'Passarim', ele fez a 'Bebel' e disse que eu tinha que gravar. Mas eu disse que não dava por que o disco estava pronto. Agora eu tenho que pagar a dívida". E a dívida foi paga em dobro, porque "Passarim" também entra no novo repertório. "O Gabriel Grossi gosta muito de tocar essa que é inspirada no segundo movimento da 'Bachiana Nº 5' do Villa-Lobos. Aqui é só piano e gaita, e eu deixei o Gabriel improvisar. Ele até chorou".

Celebrar 80 anos com um disco 100% instrumental é algo que remonta ao início da história do Zimbo Trio, provavelmente o projeto mais famoso da obra de Amilton Godoy. "Nós começamos a nossa carreira com a ideia de ser um grupo instrumental, sem ser acompanhante. Aí surgiram alguns cantores diferenciados e uma delas foi Elis", lembra ele que ficou ao lado da cantora até o momento em que ela não aceitou mais que eles tivessem como prioridade a carreira solo do trio. "Ela queria que a gente continuasse como acompanhante e a gente queria ser independente. O Zimbo pegou o caminho dele e seguiu. Ele teve uma carreira voltado pra músicos, pra música. Se a gente tivesse sido um grupo de acompanhantes, teria se acomodado".

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O professor Amilton

Das boates esfumaçadas dos primeiros anos da bossa nova aos palcos internacionais, onde pisou como artista solo, acompanhante ou com o Zimbo, Amilton Godoy acumulou diferentes experiências e referências. Foi aí que chegou o momento de compartilhar, formando o Clam. "Como o Zimbo estava muito famoso, as pessoas nos procuravam pra aprender a tocar. Se nós fossemos dar aulas, teríamos um número muito limitado de alunos por que temos nossos shows, nossa carreira. Então vamos formar a escola", lembra.

Capa do disco 'Amilton Godoy - 80 anos', do pianista Amilton Godoy
Capa do disco 'Amilton Godoy - 80 anos', do pianista Amilton Godoy

Amilton Godoy - 80 anos

9 faixas
Independente
Arranjos de Amilton Godoy
Disponível nas plataformas de Streaming

Para conhecer Amilton Godoy

Box Zimbo Trio - reunião dos 6 primeiros discos do trio, lançados entre 1964 e 1969. Lançamento do selo Discobertas.

Entre amigos - de 1994, o disco registra o encontro do Zimbo Trio com a cantora Claudya. O repertório passeia por clássicos da MPB.

Zimbo Trio interpreta Milton Nascimento - de 1986, uma homenagem instrumental ao compositor de alma mineira.

Novos Caminhos - disco autoral do San-São Trio, formado por Amilton e os músicos Lea Freire (flautas) e Harvey Wainapel (sax e clarinete)

É de manhã - entre os muitos projetos que o Zimbo dividiu com Elizeth Cardoso, esse traz faixas de Johnny Alf ("Ilusão à toa"), Jorge Ben ("Zazueira") e da dupla Evaldo Gouveia e Jair Amorim ("O conde")

O Fino do Fino - único registro oficial da parceria do Zimbo com Elis Regina é esse álbum gravado ao vivo em 1965.

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