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Editorial: Extermínio: jovens e adolescentes pretos e pobres
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Editorial: Extermínio: jovens e adolescentes pretos e pobres

Tipo Opinião

O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) do Ceará , o Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará (FPSP) e a Plataforma de Direitos Humanos - Dhesca acabam de publicar um documento no qual denunciam o assassinato de 798 adolescentes e jovens, de 12 a 24 anos, ocorridos entre janeiro a maio deste ano de 2020. A faixa atingida abrange, sobretudo, adolescentes e jovens negros e pobres, numa percentagem de 42,29% do total de mortes violentas do período no Ceará.

É singular que isso ocorra no período da pandemia e durante o isolamento social. Não conseguem manter-se dentro de casa. Se o fizessem, seus executores não deixariam de buscá-los lá. A violência não dorme e continua ceifando quem está na flor da idade e já está excluído por uma sociedade que os rejeita. Ao todo, somam uma média de quase 160 mortes por mês.

Não existe guerra em andamento, no mundo, com esses números. Poucos se demoram na busca das causas desse quadro sinistro. Que, certamente, vai se agravar com a derrocada de um modelo econômico para o qual já são praticamente "inexistentes". O retrato de uma sociedade insensível, que se recusa em resgatar a hipoteca social cobrada pela Constituição de 1988. Ao contrário, a Carta é considerada um "estorvo" para quem quer vê-los fora da paisagem.

Porém, o Cedeca não pretende calar-se: "São meninos e meninas, em sua grande maioria negras que moram nas periferias das mais diversas cidades do Ceará. O problema, embora mais grave do que nunca, é continuidade de um processo que percorre a nossa história e pode ser descrito como verdadeiro genocídio da população negra". Herança de uma injustiça que não aceita mais ser colocada debaixo do tapete. Foram 300 anos de escravidão - revogada no papel - e deixando os pretos ao relento, pois não lhes deram nenhum pedaço de terra para se sustentarem. Foram amontoar-se nas periferias das cidades, que continuam os rejeitando e matando. "Melhor que morram na flor da idade - talvez seja o que seus algozes pensam -, para "não darem despesa" à sociedade" quando, na verdade, deveriam ser vistos como ativos a garantir o futuro desta.

Vitimados, tornam-se carrascos de seus próprios pares, entrematando-se em busca de um lugar ao sol, presas de uma máquina infernal que os tritura de todos os lados. Às vezes, com a ajuda adicional da violência policial. É o que se vê, de uma ponta a outra do País.

Enquanto isso, o Governo Federal libera armas e munições, o que facilita o trabalho de quem pretenda extirpá-los sem deixar rastros (abolem-se registros de armas e cartuchos). E se espantam com o ódio e a crueza da resposta. Mutilados em sua humanidade, nem sequer sabem identificar seus algozes verdadeiros e terminam esfolando seus próprios pares, como piranhas ensandecidas que devoram a própria cauda. 

 

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