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Editorial: Agro: investidores ameaçam boicotar o Brasil
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Editorial: Agro: investidores ameaçam boicotar o Brasil

Tipo Opinião

A repercussão de uma carta assinada por um grupo de 29 grandes investidores internacionais - responsáveis pela gerência de US$ 3,75 trilhões (cerca de R$ 20 trilhões) - em ativos, pedindo ao governo brasileiro o fim do desmatamento na Amazônia e a defesa dos povos originários, sob pena de deixarem de investir no Brasil, ganha dimensão cada vez maior. Os assinantes já vetaram, nos últimos meses, a compra de ações brasileiras ou mesmo de títulos da dívida pública do país e participaram de mobilizações coletivas para criticar a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro.

"É com grande preocupação que observamos a tendência de crescimento do desmatamento no Brasil. (…) Estamos preocupados com o impacto financeiro que o desmatamento e a violação dos direitos de povos indígenas podem ter sobre nossos clientes e companhias investidas, por potencialmente elevarem os riscos de reputação, operacional e regulatório", escreveram os gestores. Os signatários entregaram o documento nas embaixadas brasileiras situadas em cada um dos oito países que sediam os fundos de investimentos: Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, França, Holanda, Japão e EUA.

No grupo, destacam-se o KLP, maior fundo de pensão da Noruega, a holandesa Robeco e até o braço financeiro da Igreja Anglicana. A maioria faz parte da Iniciativa de Investidores por Florestas Sustentáveis, ligada à ONG Ceres e à rede Princípios para o Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês), associada à Organização das Nações Unidas (ONU). No texto, demonstram preocupação com a tramitação do projeto de regularização fundiária, apelidado de "PL da Grilagem", com os planos de abrir reservas indígenas à mineração, e com os comentários do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na reunião ministerial de 22 de abril passado, sobre como aproveitar a pandemia para "passar a boiada".

Como apontou matéria publicada no jornal britânico Financial Times, a ofensiva de investidores adquiriu grande impulso no fim de 2019, depois que uma série de queimadas destruiu 42 mil quilômetros quadrados da Amazônia. Parlamentares brasileiros, igualmente, receberam outro documento de varejistas e investidores estrangeiros, manifestando a mesma preocupação.

Na verdade, a advertência não ficou apenas no ar: boicotes a produtos brasileiros já ocorreram este ano em redes britânicas de supermercados e filiais de empresas alemãs no Reino Unido. E isso reforçou o alerta em setores financeiros do próprio Brasil, convencidos de que, caso não haja melhora nos índices ambientais, o País pode perder mercado lá fora. Com isso, poderão vir abaixo, de um momento para o outro, mais de 20 anos de esforços para tornar o agronegócio brasileiro um dos mais atrativos chamarizes para os investidores internacionais. 

 

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