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Os milhões que sentem fome
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Editorial opinião

Os milhões que sentem fome

Tipo Opinião

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que, em cinco anos, entre 2013 e 2018, aumentou em 43,7% o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave. Traduzindo o dado da forma mais clara possível: atingiu-se o patamar de 10,3 milhões de idosos, adultos ou crianças que passaram fome em algum ponto do biênio 2017/2018, ao qual se refere a pesquisa.

Essa é a situação mais grave de um cenário cheio de notícias duras. Ao todo, mais de um terço da população do Brasil enfrentou algum grau de insegurança alimentar — incerteza sobre acesso à alimentação no futuro ou redução da quantidade de comida consumida diariamente —, com um cenário ainda mais difícil para famílias nas regiões Norte e Nordeste, onde o índice chega a 50% das pessoas.

Matéria do O POVO no dia 17 de setembro aponta que 590 mil cearenses vivenciaram fome no biênio. A insegurança alimentar atingiu 46,9% das famílias no Estado — dado pouco abaixo do que o geral do Nordeste, que foi de 50,3%, mas ainda assim bem grave. São 4,55 milhões de pessoas que não têm certeza se terão comida no prato num futuro próximo. É um cenário assustador para um percentual enorme da população e de desamparo completo para os 590 mil.

Desde 2004, ano da primeira Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), este é o primeiro registro negativo nos níveis de segurança alimentar da população nacional. O ápice foi 77,4% dos brasileiros em situação segura. Atualmente, o índice é 14,1 pontos percentuais mais baixo, em 63,3%, segundo os dados do IBGE.

O golpe de tais dados ganha ainda maior peso por tratarem de 2017/2018. Ou seja, sem ainda a influência negativa da pandemia do novo coronavírus e da recessão resultante da crise sanitária. O cenário recente tem ainda outro fator. Famílias em cenário de insegurança alimentar tendem a abrir mão de hortaliças, frutas, carnes, ovos e vários itens que garantem uma dieta equilibrada, optando por cereais e leguminosas. Na prática, significa que quem tem pouco dinheiro para comprar comida, opta pelo tradicional feijão com arroz. De acordo com o Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (Ipea), desde março deste ano tais alimentos acumulam alta de 35,9% e 19,2%, respectivamente.

O combate à extrema pobreza deve ser o passo inicial de qualquer governo, seja em nível municipal, estadual ou federal. É quem mais precisa do Estado — e os números escancaram que necessitam no que há de mais básico: sobreviver, ter comida no prato.

A pandemia mostrou que a distribuição de renda pode ser um freio no avanço — ou retorno — do desolador cenário de fome da população. Não fossem os R$ 600 aprovados pelo Congresso Nacional e assinados pelo presidente da República, poderíamos ter a certeza de uma próxima POF com números ainda mais alarmantes.

Uma pessoa com fome não se preocupa com política, economia, meio ambiente, família, religião. Ela só consegue se importar com um prato de comida. 

 

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