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Editorial: Eleições municipais: jogo volta a ser jogado
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Editorial: Eleições municipais: jogo volta a ser jogado

Tipo Opinião

O balanço das eleições municipais prossegue em todo o País, objetivando compreender os vários aspectos do pronunciamento popular. Uma dessas percepções é de que houve um pequeno avanço na representação de minorias - gays, lésbicas e transexuais - além de negros. As mulheres triplicaram sua representação como vereadoras, embora pudessem ter avançado mais. Persiste a resistência das estruturas partidárias machistas. Mas, um fenômeno bastante curioso é o dos mandatos coletivos, uma inovação muito promissora, que dará o que falar.

No que diz respeito a Fortaleza, mais da metade dos vereadores não conseguiu renovar o mandato. Como foi proibida a prática de coligações eleitorais para o Legislativo (Câmara Municipal) a não ser para o Executivo (Prefeito), talvez aí esteja a resposta para a dificuldade de se renovar alguns mandatos, conseguidos anteriormente por meio de coligações. Evidentemente, quem está no poder tem maiores recursos para atrair correligionários. Assim o PDT fez a maior bancada (10 vereadores).

A grande novidade da Câmara Municipal de Fortaleza (como de resto em algumas cidades importantes do País) é o mandato coletivo. Na capital cearense, foi traduzido por três mulheres da periferia, eleitas numa única chapa, ("Nossa Cara") pelo Psol: obtendo 9.824 votos. Trata-se de uma dessas experiências institucionais que só o espaço municipal - um laboratório por excelência para inovações desse tipo - pode proporcionar e assim injetar novo sangue democrático nos mecanismos de representação política. Para os segmentos progressistas é uma das maneiras possíveis de "navegar" no oceano conservador que inundou o território nacional.

A verdade é que a paisagem política brasileira agora é que parece ter chegado ao ponto almejado pelas forças envolvidas no projeto de "desbancamento" da esquerda do poder e da própria cena política nacional - iniciado pelo impeachment de 2016 e atropelado pela ascensão inesperada de Bolsonaro. Este se erigiu em orientação própria, ultra-radicalizada que, em um primeiro momento, tentou isolar as forças da direita tradicional e estabelecer um parâmetro ideológico extremado, próprio, que não pôde se sustentar e, agora, volta a se compor com esses mesmos segmentos tradicionais. Estes sempre demonstraram temor todas as vezes que as forças progressistas se autonomizaram, lastreadas no voto popular e no seguimento estrito das regras do jogo estipuladas pela Constituição.

Desta vez, para afastar os progressistas e desarrumar o jogo, não foi preciso uma ruptura institucional clássica, com tanques na rua, apenas se serviram de uma "interpretação" formal "heterodoxa" das regras do jogo - facilitada por deslizes dos governos progressistas - e assim alcançar os mesmos resultados pretéritos, sem precisar colocar tanques nas ruas. A esperança é que permitam, mais uma vez, o jogo ser jogado sem interrupção. n

 

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