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Ceará: imiscuição do tráfico nas eleições
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Editorial opinião

Ceará: imiscuição do tráfico nas eleições

A suposta presença do tráfico no processo eleitoral acaba de ser motivo de intervenção do Ministério Público Estadual (MPCE) junto à Polícia Federal para a abertura de inquéritos destinados a averiguar eventual apoio de membro de uma fação criminosa - Comando Vermelho (CV) - a políticos, durante as últimas eleições municipais em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. O ensejo para as denúncias surgiu com a prisão de Francisco José dos Santos Freitas, o Zezim da Horta, suposto chefe da facção apontada, flagrado em interceptações telefônicas feitas na operação Guilhotina, a cujas transcrições O POVO teve acesso. A defesa do traficante nega sua associação com a política local. No entanto, se tudo for devidamente comprovado, não se trataria de um fenômeno adstrito à política cearense.

No caso em vista, um candidato a vereador (que foi eleito) teria tido diálogos seus interceptados quando realizava negociações com o tráfico para obtenção de votos nas comunidades controladas pelos criminosos. O suposto chefe de uma fação criminosa relevante no Ceará receberia contribuições financeiras do candidato para beneficiar comunidades controladas por sua organização em troca dos votos requeridos. Mais: afastaria da área - até por meio de ameaças - eventuais concorrentes e seus cabos eleitorais. Em uma das interceptações, o próprio chefão criminoso conta estar procurando candidatos para apoiar. Em outro trecho gravado, Zezim aparece conversando com um homem que promete colocá-lo em contato com um assessor de um dos candidatos a prefeito. Também diz que pretende comprar drogas para "incentivar" os "correrias" dele a atuarem na coação por votos.

Como o processo corre em segredo de justiça, não se tem acesso à íntegra do que foi apurado. A esperança é que tudo venha às claras, evitem-se injustiças e se faça uma intervenção institucional para pôr cobro a qualquer relação espúria desse tipo no processo eleitoral. Quando o crime organizado começa a invadir os espaços da representação política e pô-la sob seu controle, a democracia entra em parafuso, como já se testemunhou em algumas partes do mundo. Essa ameaça tem ganhado contornos em quase todas as regiões brasileiras, com mais destaque em centros urbanos importantes, como o Rio de Janeiro, onde ao lado do tráfico tradicional, perfilam-se outros ramos criminosos, até mais insinuantes, como as milícias. E se estas encontrassem situações favoráveis em que pudessem se introduzir nos escaninhos do Estado seria preciso acender o alerta vermelho em socorro da democracia.

Daí a importância de se estar atento a qualquer relativização do Estado Democrático, pois favoreceria a infecção das instâncias responsáveis pela legitimidade do poder. A resposta a qualquer ameaça dessa espécie (como se presume ter ocorrido no caso apontado neste espaço) não deve ser retardada. n

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