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Editorial: Copa América: entre o lucro e a vida
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Editorial: Copa América: entre o lucro e a vida

Em 2020, Argentina e Colômbia receberiam a Copa América. Prudentemente, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) seguiu os exemplos da Olimpíada de Tóquio-2020 e da Eurocopa e anunciou o adiamento da competição para evitar os enormes riscos de uma competição continental em plena pandemia do coronavírus. No mesmo dia, 17 de março de 2020, o Brasil confirmava a primeira morte decorrente da Covid-19. A realização ficou afixada para 11 de julho de 2021, quando se acreditava que a crise sanitária estaria controlada.

Em 20 de março deste ano, a Colômbia, em meio a protestos contra o Governo Federal, pediu novo adiamento. Como a Conmebol negou, a Argentina surgiu como sede única. Dias depois foi a vez de os argentinos rejeitarem o torneio diante dos riscos de um evento internacional em plena crise sanitária. Lá, eram, até ontem, quase 4 milhões de casos de Covid-19, mais de 80 mil mortes.

Foi, então, na terça-feira passada, 1º, que o Brasil surgiu para salvar a Conmebol. País este que, como a Colômbia, viu protestos recentes contra as gestões política e sanitária do presidente da República. País este que, até ontem, tinha quase 17 milhões de casos e mais de 470 mil mortes decorrentes da Covid-19.

Torneios continentais de futebol movimentam cifras milionárias. O adiamento e a realização da competição com portões fechados já afetam os lucros astronômicos que a Conmebol previa. A federação tenta dirimir o prejuízo. A que preço?

O interesse brasileiro é político. Pressionado por acusações gravíssimas de assédio sexual e moral, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, apostou na proximidade ao Governo Federal para dar uma mostra de força. O problema é que comissão técnica e jogadores da seleção não abraçaram o projeto político de poder e a insatisfação está pública. Na maioria moradores de países europeus, os atletas preferem férias na segurança das próprias casas ao risco num país que convida uma terceira onda da pandemia.

Por mais que se cumpram todos os protocolos recomendados com disciplina, o futebol brasileiro foi, durante todo o ano passado, foco recorrente de infecções. Só na principal divisão nacional foram 320 casos entre atletas e técnicos. Ainda assim, as competições foram autorizadas. É meio de subsistência de centenas de clubes e milhares de profissionais. A Copa América tem pouco efeito nesse cenários. É investimento sazonal e mercadológico, sem grande efeito na cadeia de produção.

O futebol brasileiro é enorme, mas não é maior que a vida de qualquer pessoa. A economia é importante. Ela, porém, depende da sobrevivência da população. A Copa América não devia sonhar com lucros milionários enquanto a segurança para quem recebe os jogos não puder ser garantida.

 

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