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A palavra mentira no governo Bolsonaro
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Editorial opinião

A palavra mentira no governo Bolsonaro

O governo do presidente Jair Bolsonaro fez com que os jornais abandonassem uma tradição de não usar diretamente o substantivo "mentira" para confrontar declarações que contrariassem a realidade dos fatos. Normalmente, a declaração da autoridade era exposta sem nenhum julgamento de valor, enquanto se atribuía a uma outra fonte a tarefa de dar um depoimento confrontante ou explicativo.

No entanto, a quantidade de embustes que passaram a ser pronunciados pelo presidente e seus seguidores, no governo ou fora dele — e a velocidade com que circulam nos meios digitais —, exigiram que os jornais fossem mais diretos em favor da precisão da notícia, de modo a repor a verdade dos fatos rapidamente e sem rodeios.

Foi o que aconteceu, mais uma vez, com a visita do presidente a Goiás, na quarta-feira, onde circulou sem máscara e provocou aglomerações. E, novamente, abusou do cargo para espalhar informações distorcidas.

Quando a fatalidade da Covid aproxima-se tragicamente de meio milhão de mortos, o chefe do Executivo, em vez de apontar soluções, preferiu questionar os números da doença, afirmando que haver supernotificação; questionou as vacinas, dizendo que são "experimentais"; e voltou a defender o "tratamento precoce" para evitar a doença.

Qual a palavra, senão "mentira", poderia ser usada para qualificar as duas primeiras afirmações? Quanto ao tratamento precoce", é comprovadamente ineficaz, conforme consenso científico. Entretanto, justiça seja feita, ainda há quem defenda essa medida, porém, entre os crédulos não se encontra nenhum dirigente sério e nem cientistas de ponta.

Nem mesmo a Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, que transcorre no Senado, mostrando que, no mínimo, houve desídia do governo federal no enfrentamento ao novo coronavírus, consegue deter o presidente, fazendo-o tomar pé da trágica realidade sanitária na qual o País está afundado.

Porém, como se isso não bastasse, Bolsonaro parece se comprazer em ampliar os conflitos que hoje permeiam os três Poderes. Mesmo uma das instituições mais sólidas, a Justiça Eleitoral, com suas urnas eletrônicas utilizadas em eleições há 25 anos, é desancada por Bolsonaro. Ele continua a afirmar, como fez novamente nessa viagem, que a eleição, na qual ele foi eleito presidente em 2018, teria sido fraudada.

Sem apresentar um mísero resquício de evidência, insiste em dizer que teria vencido a eleição no primeiro turno. Faz tempo que ele repete ter "provas materiais" para apresentar, mas nunca as mostra, pois está mentindo, e não há como usar outra palavra, pois nenhuma outra comportaria a dimensão da manobra perpetrada pelo presidente.

Na verdade, o que Bolsonaro mira é a eleição de 2022, a qual, sem dúvida, questionará, com brutalidade previsível, se das urnas não sair exatamente o resultado que ele ambiciona. n

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