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A banca viciou-se nos juros altos

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O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, fez uma estranha associação entre os juros altos da banca e a situação da economia:

"O aumento da inadimplência, a queda lenta do desemprego e o baixo crescimento da renda criam alguma cautela do ponto de vista de quem está concedendo o crédito".

A cautela poderia levar a uma menor oferta de crédito, não a uma subida nas taxas de alguns empréstimos. A Selic está em 5,5% ao ano, algumas taxas caíram, mas a mordida anual dos juros do cartão de crédito parcelado foi de 163,1% para 177,3%.

Indo-se ao livro "Uma chance de lutar", a autobiografia da senadora Elizabeth Warren, candidata a presidente dos Estados Unidos pelo partido Democrata, vê-se a seguinte cena:

Pouco antes da crise de 2007 ela deu uma palestra para executivos do Citibank e disse que eles poderiam conter as inadimplências (e as bancarrotas familiares) parando de emprestar a quem estava em dificuldade.

Ao que um dos caciques presentes tomou a palavra:

"Professora Warren, gostamos muito de sua exposição, mas não temos a intenção de parar de emprestar a essas pessoas. São eles quem garantem a maior parte de nosso lucro."

Cobrando juros altos para quem parcela as dívidas do cartão de crédito, a banca lucra tanto com quem paga que isso compensa os calotes que toma.

O Citi continuou apostando e nunca mais convidou a professora Warren. Em 2008 o banco foi às cordas, salvou-se com um socorro de US$ 20 bilhões da Viúva e hoje é uma sombra do que foi. Já a professora, elegeu-se senadora e lidera (por pouco) algumas pesquisas de preferências entre os candidatos do partido Democrata.

Os 'Tempos difíceis'
de Vargas Llosa

Mario Vargas Llosa acaba de publicar seu 19º romance, "Tiempos Recios", ("Tempos difíceis"). Conta os caminhos de Marta, a "miss Guatemala", uma bonita mulher que atravessa a História da América Latina na segunda metade do século passado. Prêmio Nobel de Literatura em 2010, e candidato derrotado à presidência do Peru em 1990, Vargas Llosa conhece a política e a escrita. Ele sustenta que seu livro "é um romance e não um livro de história, mas digamos que pesquiso para mentir com conhecimento de causa". Assim como fez com Canudos em "A guerra do fim do mundo" e com a ditadura da República Dominicana do Generalíssimo Rafael Trujillo em "A festa do bode", Vargas Llosa move seus personagens dentro de uma moldura histórica.

Ele sustenta que se o governo dos Estados Unidos não tivessem manipulado o fantasma do comunismo em 1954 para derrubar o presidente reformista Jacobo Arbenz, da Guatemala, Fidel Castro não teria sido o que foi. Por coincidência, quando Arbenz caiu, um jovem médico argentino estava na Cidade da Guatemala. Chamava-se Ernesto Guevara.

Vargas Llosa mente, mas pesquisa, pois identifica um homem da CIA, "El Invisible", no golpe da Guatemala e quando vai-se ver, o cidadão passou pelo Brasil em 1970 e chefiou as operações clandestinas na América Latina até o golpe chileno de 1973.

"Miss Guatemala" havia sido amante do coronel que a Central Intelligence Agency empreitou para derrubar Arbenz. Passou-se para a vida do chefe da polícia de Trujillo e, em todos os casos, foge espetacularmente quando seus protetores são assassinados ou caem em desgraça. Nisso, sempre tem a ajuda da CIA. Na velhice, persistia na obsessão anticomunista.

À primeira vista, os "Tempos difíceis" tomaram conta da segunda metade do século passado, mas olhando-se bem, continuam. O anticomunismo era apenas o disfarce de algo mais velho, duradouro e profundo.

Não sou o Macri

Bolsonaro tem repetido um bordão sempre que um çábio da ekipekonômica pretende ensinar-lhe o que fazer:

"Eu não sou o Macri".

O presidente argentino Mauricio Macri fez o que os çábios recomendavam e está terminando o mandato com falta de votos e excesso de apupos.

Por mais que o bordão pareça categórico, resta saber quem é Jair Bolsonaro.

Os çábios liberais garantem que Macri fritou-se por não ter feito tudo o que propunham, mas é possível que eles estejam tomados pela Síndrome de Minoru Genda.

Genda foi o oficial da Marinha japonesa que em 1941 planejou o ataque à base americana de Pearl Harbor e forçou sua entrada na Segunda Guerra Mundial.

Até morrer, em 1989, o almirante Genda garantia que o ataque foi uma boa ideia, que só deu errado porque faltou completá-lo com um segundo bombardeio.

Quem sofre da Síndrome de Minoru Genda nunca admite que teve um má ideia. Sempre atribui a derrota a quem decidiu não radicalizar uma iniciativa que, desde o início, daria errado.

Aras em Roma

Aproveitando sua passagem por Roma, o procurador-geral Augusto Aras precisa pedir a proteção de Santa Dulce dos Pobres e aos santos de todos os altares da basílica de São Pedro.

O doutor ainda não teve tempo de mostrar a que veio e já pegou duas lombadas.

Faltou pouco para que sua romaria fosse paga pela Viúva. Nomeou um general para sua assessoria especial de assuntos estratégicos (ganha uma viagem a Caracas quem souber para que serve isso numa procuradoria-geral) e exonerou-o oito dias depois.

A PGR informou que a exoneração deu-se porque em uma semana ele cumpriu a sua missão. Fica combinado assim.

O poderoso Nabhan

Apesar de sua tumultuada passagem pelo Exército, o capitão Jair Bolsonaro aprendeu as lições da hierarquia.

O presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antônio Nabhan Garcia, foi um dos seus primeiros aliados, defendeu a saída do Acordo de Paris e a fusão do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente e poderia ter sido nomeado para o cargo. Não o foi, e ficou com a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários.

Em dez meses, detonou os generais que haviam sido colocados na Funai e no Incra. O general da Funai disse que ele "odeia os indígenas", e o do Incra disse que havia se tornado uma "pedra no sapato" de "verdadeiras organizações criminosas".

Nabhan é um litigante por temperamento, mas a ministra da Agricultura é a doutora Tereza Cristina. Se a hierarquia prevalecer, ele acabará entendendo isso.

Monstrengo

Quem acompanha as negociações do projeto da reforma tributária, garante:

"Vamos desmentir a lei de Tiririca. O palhaço dizia que 'pior do que está não fica'. Do jeito que vamos, ficará."

O governo, perplexo, não tem um projeto. Enquanto isso, a Câmara e o Senado correm com seus próprios pacotes, em direção ao nada.

Sem chanceler

A falta que um chanceler faz:

Depois de um vexame autoinflingido na questão do apoio americano à entrada imediata do Brasil na OCDE, Jair Bolsonaro aprendeu:

"Não depende só dele". Referia-se ao seu colega Donald Trump.

Se Bolsonaro ouvisse a experiência dos diplomatas saberia que, como ele, o presidente dos Estados Unidos não manda em tudo.

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