Há cinco eleições tentando uma vaga à Câmara Municipal de Sobral, Francisco de Assis Lopes, o Sapateiro Lopes, 56, todos os dias percorre as ruas do município da Região Norte do Ceará, na busca por votos. Os passos lentos, o olhar tímido e a fala mansa contrastam o grande sonho, agora anunciado por uma espécie de radiadora na garupa de uma bicicleta.

O andar arrastado é consequência da deficiência no pé direito, após vítima de paralisia infantil. Mas, isso, segundo o sapateiro, somente aumentou a sua missão de cuidar dos pés saudáveis dos clientes, por meio de ajustes dos calçados e variados consertos.

O homem que muitas vezes é motivo de piadas nas ruas de Sobral, quando em eleições anteriores montava o seu próprio "santinho" com cópias em preto e branco de foto do álbum da família, carrega no exausto corpo uma grande história.

Casado há 37 anos, Sapateiro Lopes formou as quatro filhas professoras, além do filho concursado na função de agente de endemias. O estudo e a honestidade levam o homem a importantes missões, repetia o sapateiro, enquanto os filhos cresciam. Ele mesmo retomou os estudos para incentivar os filhos. Concluiu o ensino médio. A faculdade, no entanto, lhe cobrou as dificuldades de uma precária alfabetização.

Sapateiro Lopes admite que não possui discursos bonitos para o convencimento do eleitor, tampouco promete o que não poderia cumprir, principalmente quando os pedidos fogem ao papel de um vereador, como asfaltamento, construção de praças e escolas ou emprego no serviço público.

Nesta eleição, pela primeira vez, recebeu de presente santinhos coloridos, impresso em bom papel. Só aceitou a doação porque se identifica com o doador, o candidato a prefeito Oscar Rodrigues, professor igual às filhas, disse orgulhoso. Recusou mais benefícios, pois, muita facilidade, deixa o homem preguiçoso, assegura. Até a ajuda dos filhos foi recusada, pois entende que a criação dada foi para melhorar a sociedade, não para garantir benefício próprio.

Facilidade recusada de um lado, dificuldade imposta do outro. Esta semana, Sapateiro Lopes foi notificado pelo juiz eleitoral de Sobral, pelo uso de veículo com equipamento sonoro, quando "somente pode ser utilizado em carreatas, caminhadas e passeatas", aponta a decisão do meritíssimo.

Sem conhecimento jurídico, tampouco com assessoria de advogados, Sapateiro Lopes não tem noção de como recorrer de uma decisão judicial, mas aponta os calos como testemunhas de suas caminhadas.

Ele se sente incomodado por ter tomado tempo da Justiça, após ser denunciado de forma anônima por morador do bairro Dom Expedito. Compreende que uma decisão judicial poderá prejudicar o seu desejo de levar à Câmara Municipal de Sobral os princípios e educação que deu aos filhos.

Mas ainda acredita que a honestidade e o trabalho levam o homem a importantes missões.