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Artigo - "A condenação do sucesso"
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - "A condenação do sucesso"

Com o título "A condenação do sucesso", eis artigo de Rui Martinho Rodrigues, historiador e professor da Faculdade de Educação da UFC. "A cultura medieval condenava a riqueza (dos outros). A ideia de que o lucro é evidência de comportamento suspeito ainda é muito forte", diz o articulista. Confira:
Tipo Opinião
Rui Martinho Rodrigues 
rui.martinho@terra.com.brHistoriador
Historiador  (Foto: Geórgia Santiago, em 01/06/2010)
Foto: Geórgia Santiago, em 01/06/2010 Rui Martinho Rodrigues rui.martinho@terra.com.brHistoriador Historiador

Fernand Braudel (1902 - 1985) percebeu três ritmos da história: curta, média e longa duração. O corte de cabelo pode ter transformação rápida (folkways). Práticas ligadas aos processos produtivos podem ter duração rápida ou média, conforme a inovação tecnológica ou a disponibilidade de recursos. A longa duração guarda relação com os valores mais sensíveis de uma cultura, associada às virtudes ou à respeitabilidade (more). Vilfredo Pareto (1848 - 1923) discorreu sobre resíduos e derivações de conceitos e valores que sobrevivem às transformações culturais, permanecendo de modo nem sempre ostensivo, formulação compatível como a longa duração de Braudel.

A cultura medieval condenava a riqueza (dos outros). A ideia de que o lucro é evidência de comportamento suspeito ainda é muito forte, demonstrando a presença de resíduos e derivações medievais. Vigorosa e abundante crítica demonstra o equívoco do repúdio medieval ao lucro.

Friedrich A. Hayek (1999 - 1992) é um dos críticos mais recentes cujas formulações podem ser lidas pelo público letrado em geral. Bastaria, todavia, considerar os fatos. Todos os países que se desenvolveram o fizeram tendo como uma de suas pilastras o lucro, estimulando a redução de custos, eficiência e eficácia, reduzindo o custo unitário do produto e facilitando o acesso aos bens que representam conforto, além de criar riqueza e emprego. O fordismo, ao seu tempo, foi um exemplo da dos benefícios do lucro.

Os resíduos medievais consideram imorais ganhos honestos acima de algum limite arbitrado por quem se acha legitimado para tanto. A epistemologia falibilista, de John Locke (1632 -1704) a Karl Raymond Popper (1902 - 1994) é incompatível com o dogmatismo moralista. A estatização da solidariedade (o ônus de ser solidário que fique com os outros) contraria a parábola dos talentos (Lucas, 19; 12-27) que estimula o empreendedorismo e recompensa o lucro, revelando a dissonância cognitiva de quem invoca o cristianismo e esposa tais ideias.

*Rui Martinho Rodrigues,

Historiador e professor da Faculdade de Educação da UFC.

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