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Artigo - Direita sabe que só pode ganhar no tapetão
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - Direita sabe que só pode ganhar no tapetão

"A direita apela ao tapetão, para que o Brasil não volte a ter governos como os do PT, para que o Lula não volte a ser presidente do Brasil. A direita sabe que não consegue disputar democraticamente com o Lula", aponta em artigo o sociólogo Emir Sader
Tipo Opinião
Emir Sader é sociólogo e cientista político (Foto: REPRODUÇÃO)
Foto: REPRODUÇÃO Emir Sader é sociólogo e cientista político

O genocida tem a melhor oportunidade de provar que ele não é genocida na CPI. Ele tem certeza que é inocente. É só ir ao Senado, onde ele tem maioria de apoiadores, e apresentar as provas. Provar o que ele diz sem provas todo dia: no cercadinho do Planalto, nas lives da quintas, nas reuniões com os empresários puxa-sacos, em todo lugar: que o governo faz tudo o que pode para combater a pandemia, que ele sempre foi a favor das vacinas, que ficar em casa não resolve nada, ao contrário, mata as pessoas de depressão, que qualquer restrição de circulação gera recessão, que acaba matando mais do que o vírus. E outras “verdades” dele, que são mentiras. É só ir, argumentar, responder as questões e recolocar as coisas no seu devido lugar. Quem sabe ninguém mais o chamará de genocida.

O Lula também foi acusado de coisas que ele julgava improcedentes. Mas não teve a possibilidade de ir, livre, ao Senado, para desmascarar as acusações. Ele teria adorado ter uma CPI contra ele. O Lula teve que ser preso, condenado, impedido de ser candidato – se não seria ele e não o genocida a ser presidente do Brasil agora e teríamos poupado de milhares de mortes de brasileiros. Ele teve que passar por tudo isto, argumentando que as acusações eram mentirosas, que os acusadores é que cometiam crimes contra ele, até que, alguns anos depois, o STF concordou com o Lula, classificou o juiz que o condenou como não isento para julgá-lo e lhe devolveu todos os direitos.

Mas o genocida – e com ele toda a direita - sabe que a transparência é inimiga da mentira. Por isso ele não participou de nenhum debate na campanha eleitoral, com a conivência da mídia e do Judiciário, quando teria que justificar porque gosta da tortura, porque faz a apologia do golpe e da ditadura contra a democracia. A direita sabe que só ganha no tapetão. Por isso tiraram a Dilma sem nenhuma razão constitucional, só conseguiram tirar porque conseguiram a maioria no Congresso, comprando o MDB pela entrega da presidência ao canalha do Temer.

Prenderam, condenaram e impediram o Lula de se candidatar e ganhar as eleições de 2018 sem nenhum argumento jurídico, como o STF reconhece agora. (Deveria anular aquelas eleições, mas não tem coragem para isso.) Elegeu, com operação monstruosa de manipulação, o genocida, com a cumplicidade da mídia e do Judiciário. Tudo no tapetão.

Quando se deram eleições democráticas no Brasil, o PT ganhou quatro vezes seguidas. Depois, prevaleceu o tapetão. Tinham se acostumado a ter o Lula fora da jogada pelo tapetão. Quando as regras legais foram restabelecidas, o Lula recuperou os direitos que nunca deveria ter perdido e voltou a ser favorito nas pesquisas para ser eleito presidente do Brasil, bateu de novo o pânico na direita. O mesmo pânico que tinham em cada véspera de eleição que o PT ia ganhar, e ganhou, enquanto houve democracia. Só que agora sabem que, se não for no tapetão, vão perder. Basta restabelecerem-se algumas normas do Estado de direito.

Merval expressa esse desespero de forma mais aberta. A direita volta a colocar todas suas fichas no STF, no restabelecimento da isenção do Moro – seu ídolo caído e desmoralizado -, para tentar tirar o Lula da disputa eleitoral. Sem o que, o PT voltaria a governar. E se reimporiam as condições de governo que fariam com que a economia voltasse a crescer com distribuição de renda. O Brasil voltaria ser respeitado no mundo. Aqui dentro ninguém seria perseguido pelas divergências que tenha com o governo. A democracia seria recuperada. O Estado de direito voltaria a ser respeitado. A educação e a saúde públicas voltariam a ser prioridades. A cultura e a intelectualidade voltariam a ter um espaço importante no país. As universidades voltariam a ser espaços respeitados e promovidos.

Em suma, a direita apela ao tapetão, para que o Brasil não volte a ter governos como os do PT, para que o Lula não volte a ser presidente do Brasil. A direita sabe que não consegue disputar democraticamente com o Lula. Talvez tenha, de novo, que render-se ao genocida, seu candidato ainda com maior apoio, mas desta vez para perder, talvez até no primeiro turno.

O tapetão é inimigo da democracia e da transparência, é a judicialização da política. Em democracia, a direita perde. Antes de tudo porque seu modelo econômico neoliberal só atende aos interesses do capital financeiro, dos bancos privados. Enquanto os governos do PT adotam uma política econômica antineoliberal, que atende a massa da população.

Em segundo lugar, porque os brasileiros agora podem comparar os governos do PT e os governos produzidos pelo golpe, pela ruptura da democracia – os do Temer e do genocida -, em que o Brasil passou do melhor momento da sua história ao seu pior momento. E podem valorizar mais ainda a democracia, na qual a maioria decide, e se dar conta que as tragédias que o país vive hoje vem da ruptura da democracia. Que a direita quer se perpetuar, tentando de novo impor o tapetão. Mas não conseguirão impedir a candidatura do Lula.

Emir Sader é sociólogo e cientista político

Foto do Eliomar de Lima

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