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A chance de impeachment de Bolsonaro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A chance de impeachment de Bolsonaro

Tipo Opinião
 Carreata pelo impeachment em Fortaleza, no sábado (Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira  Carreata pelo impeachment em Fortaleza, no sábado

É pequena, aviso de antemão, a chance referida acima de o presidente Jair Bolsonaro sofrer impeachment. Isso é o que acredito hoje. Processos de impeachment são construções. São sempre improváveis no começo. Aliás, no fim de 2005 parecia mais factível Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sofrer impeachment do que Dilma Rousseff (PT) na virada de 2015 para 2016. O conjunto de fatos policiais e políticos envolvidos eram mais intensos contra Lula que contra Dilma. Pesou naquela época para Lula não sofrer impeachment o fato de a eleição estar perto. O PSDB, então principal força de oposição, calculou que era melhor deixar Lula "sangrar". Dilma sofreu impeachment com dois anos e meio de mandato pela frente. O PSDB, naquele momento, não quis esperar o desgaste e, sobretudo, o (P)MDB não quis deixar passar a vez. Formaram um governo de transição para o bolsonarismo.

Conto essa história para dizer que às vezes um impeachment parece próximo, mas não acontece. E às vezes soa improvável e ocorre. Isso se dá pelo seguinte: o impeachment não é o resultado natural dos desvios cometidos por um governante. Precisa de condições políticas para acontecer. E precisa ser construído. Não se dá espontaneamente. Impeachment tem autores, e não falo de quem apresenta a denúncia. Hoje, não vejo as condições dadas para tirar Bolsonaro.

Porém, parece-me claro que o impeachment já esteve mais distante. A popularidade do presidente caiu e não foi pouco. Os protestos ganham as ruas. O governo ficou perplexo com o início da vacinação. Ficou sem discurso. A reação nas redes sociais, essa arena na qual o bolsonarismo tanto se sente à vontade, não foi articulada, não construiu uma resposta coesa. Convenhamos, uma armadilha que o presidente construiu para si, pois qualquer governo do mundo transformaria o início da vacinação num momento de capitalizar popularidade. Bolsonaro apostou num confronto estúpido e deu as condições para João Doria agora surfar. Ontem, estava o presidente agradecendo a sensibilidade do governo chinês. Um gesto que seria natural não fosse a birra ideológica que criou. Assim não tem mesmo como a base ideológica do bolsonarismo defender.

O governo está na defensiva e sem rumo. Não duvido, entretanto, que se recupere. Tem uma base fiel, barulhenta, que seguirá com ele independentemente de qualquer coisa. Qualquer coisa, já ficou claro. Essa base é capaz de influenciar opiniões de terceiros. Não acho improvável que o governo siga trôpego e mesmo assim não sofra impeachment. Que Bolsonaro dispute a reeleição no ano que vem e não vou me admirar em nada se ele for reeleito. Acho, hoje, esse o cenário inclusive mais plausível.

Porém, o governo está vulnerável caso surja uma articulação disposta a encampar um impeachment, e tenha apoiadores nas posições certas para isso.

Condições para um impeachment

Citei acima algumas razões pelas quais Dilma sofreu impeachment e Lula não. Acrescento duas fundamentais: a economia, com Lula em 2005, estava melhor que em 2015, com Dilma. Muito melhor. É muito difícil, se não impossível, impeachment quando a economia vai bem. E Lula nunca ficou tão impopular quanto Dilma esteve. Bolsonaro, mesmo com a queda de popularidade, é muito mais popular do que Dilma ao ser derrubada. Ela chegou a estar com 13% de ótimo e bom e 63% de ruim e péssimo.

Um eventual impeachment de Bolsonaro dependeria de a popularidade do presidente cair bem mais. E do rumo da economia. Precisaria piorar bastante.

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Quem comanda

Outro fator crucial para impeachment: um comandante. Não é algo espontâneo. No de Fernando Collor, foi Ibsen Pinheiro. No de Dilma, Eduardo Cunha. Ambos presidentes da Câmara. O próximo ocupante do cargo será eleito semana que vem. Bolsonaro joga pesado para emplacar um aliado, não por acaso. Hoje, Arthur Lira (PP-AL) é citado como favorito. Situação, a se confirmar, que encerra a discussão sobre impeachment.

 

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