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Bolsonaro sentiu ou adereços de uma cena patética
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Bolsonaro sentiu ou adereços de uma cena patética

Tipo Opinião
 Mourão acha que Bolsonaro não o chamará para continuar vice e, se chamar, não sabe se aceita (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil  Mourão acha que Bolsonaro não o chamará para continuar vice e, se chamar, não sabe se aceita

Presidente da República, Jair Bolsonaro
Foto: Marcos Corrêa/PR
Presidente da República, Jair Bolsonaro

Dos melhores aos piores governos, há uma coisa invariavelmente ridícula: os áulicos. O entorno do poder, os círculos palacianos, os cortesãos. Pode ser o governo mais qualificado, guiado pelos mais elevados princípios, sempre vai atrair um cordão de oportunistas dispostos a catar migalhas do banquete do poder. São invariavelmente falsos, cínicos, mas se portam como um bando de babões. Com maior ou menor protagonismo, costumam adornar os vexames dos governantes. Não existe absurdo cometido por um poderoso sem ter ao lado um bobalhão para aprovar. Alguns até alçados à glória de ser papagaio de pirata, acenando a cabeça a qualquer despautério.

No vídeo de ontem, não foi Jair Bolsonaro quem me chamou atenção. Um presidente deseducado, chulo. Revoltado por, veja só, ser alvo de críticas, questionamentos e cobranças. Não avisaram a ele que era parte do pacote de governar — sofrer críticas, ter de dar satisfação. Vai ver pensou que era só mandar e ser bajulado. Coitado, dele e dos governados. O que vi ali: Bolsonaro acusou o golpe. Na escalada que une falta de rumo sobre a vacinação, queda de popularidade, protestos e pedido de impeachment, o caso anedótico de gastos milionários com leite condensado se somam num conjunto de desgastes dos quais o presidente não consegue colocar o pescoço para fora. É triste, é incompatível com a função, é um desrespeito à Presidência da República, em um de seus momentos mais minúsculos. Mas, surpresa para mim não é.

O que me chamou atenção em vídeo de momento tão rebaixado de um presidente da República foi a reação dos babões. A apoteose da bajulação. Deve ter havido outros, mas, com o perdão do palavreado, não lembro de outro "vá pra puta que pariu" ser tão aplaudido. De um "enfia no rabo de vocês" provocar tamanha euforia e gargalhadas. Desculpem os termos.

Quanta vergonha alheia. Tem um à direita do presidente que abre o sorriso e chega levanta os braços para aplaudir. Quem vê pensa que ouviu uma frase de grande sabedoria. E do lado dele, gente, está o Ernesto Araújo. O ministro das Relações Exteriores, comandante de uma das tradições diplomáticas mais respeitadas do planeta, ocupante da cadeira de Osvaldo Aranha, Evandro Lins e Silva, do Barão do Rio Branco. Aplaudindo entusiasmado como um colegial que se diverte ao ouvir um colega dizer palavrão. "Nossa, como ele é ousado." Não sei se é maior a vergonha de quem protagoniza um ato patético ou de quem serve de coadjuvante, de adereço do ridículo. Seria trágico se não fosse vexatório.

 Mourão acha que Bolsonaro não o chamará para continuar vice e, se chamar, não sabe se aceita
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Mourão acha que Bolsonaro não o chamará para continuar vice e, se chamar, não sabe se aceita

O vice-presidente está chateado

Na terça-feira, comentei a chance de um eventual impeachment de Jair Bolsonaro. Para ocorrer impeachment, é necessário: 1) A economia estar bastante mal. Pior que hoje. 2) O presidente estar impopular. Pior que hoje. 3) Haver grandes protestos. Maiores do que ocorreram até agora. 4) Insatisfação dos políticos e empresários, maior e mais generalizada do que há hoje. 5) Precisa ter quem comande o impeachment. Rodrigo Maia (DEM-RJ) decidiu não ser e quem for eleito semana que vem não será. Mesmo Baleia Rossi (MDB-SP). Pode até autorizar o processo a prosseguir, o que duvido. Mas, não tem estofo para comandar a derrubada de Bolsonaro, nem parece querer. 6) Quem ficará no lugar precisa agradar. Atendidos esses requisitos, haver motivo ou não para impeachment é detalhe solucionável. Quero hoje me deter um pouco sobre o último item.

Ninguém imagine que um impeachment ocorre porque se considera que um presidente não tem condições de prosseguir, mas não se avalia quem ficará no lugar. O general Hamilton Mourão há longa data dá sinais de que topa ser presidente. Moderou o velho discurso e hoje é mais palatável que Bolsonaro a vários setores. Não empolga em nada quem quer tirar o presidente. Não é muito diferente nisso de Michel Temer (MDB). Porém, ele não parece disposto a articular o impeachment. E, se quiser fazer isso, não tem instrumentos políticos para tanto. Nas duas coisas é diferente de Temer.

Em recente entrevista à CNN, Mourão diz que sente falta de conversar mais com o presidente. Mostrou descontentamento. A entrevista do vice de Bolsonaro parece um ensaio do que foi a carta de Temer para Dilma.

 

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