Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A CPI envolve muitas disputas. Os governistas têm razão em uma coisa: Renan Calheiros como relator não dá. Por outro lado, a finalidade única ou principal não é apenas investigar o uso de dinheiro federal. O mais importante é esclarecer as responsabilidades e irresponsabilidades que levaram a tantas mortes
A CPI da Covid não começou, a base governista articulou para ganhar tempo e já há uma grande disputa transcorrendo. A base de Jair Bolsonaro tem razão em um ponto: Renan Calheiros (MDB-AL) não tem condições de ser relator de CPI. CPI nenhuma. É começar a investigação sem credibilidade. Não fosse o volume de denúncias que o envolve, ele é pai de um governador, de Alagoas, que pode ser alvo da CPI. O relator acaba por ser o principal posto na comissão, quem dá o tom dos trabalhos e apresenta o relatório final. É uma escolha complicada.
O foco da CPI
A base governista de Jair Bolsonaro é minoritária na comissão e pode ter problemas. A desarticulação está grande. O governo conseguiu uma vitória, ao incluir repasses federais a estados e municípios na investigação. Autor do requerimento da ampliação, o senador cearense Luis Eduardo Girão (Podemos) pretende ampliar a investigação para 20 estados nos quais houve operações da Polícia Federal. O Ceará é um deles. Porém, opositores são favoráveis a iniciar a investigação pelos atos do Governo Federal.
O tom da CPI
Já escrevi que uma investigação sobre o Governo Federal e, que sejam, 20 estados é a receita para não chegar a lugar algum. O foco é amplo demais. Vai ouvir 20 secretários da Saúde? Essa condução dos trabalhos e o que será priorizado, e o que deixará de ser, dará o tom da CPI. Essas questões serão resolvidas no voto.
Para além da corrupção
Uma questão fundamental sobre a CPI foi apontada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB): “Não estamos falando de corrupção, estamos falando de vidas perdidas.” Eu diria que não é apenas corrupção. E mais: não é principalmente corrupção. E não se trata de forma alguma, da minha parte, de dizer que a corrupção não é grave, que deve ser varrida para debaixo do tapete. Não. Desviar recursos públicos é uma chaga de muitas consequências. Porém, essa CPI tem um objetivo maior que esse: é apontar a razão pela qual o Brasil tem hoje uma mortandade, no atual estágio da pandemia, sem paralelo no mundo. Inclusive se deve apontar o peso da corrupção nisso. As pessoas morrem mais de Covid-19 no Brasil que em outros lugares por causa da corrupção, que eventualmente tenha desviado o dinheiro que iria para o tratamento? Deve-se apontar isso. Mas, há de se averiguar as outras possíveis causas: corrupção e mais negligência, incompetência, omissão, politização das decisões, tudo aquilo que tem feito do Brasil o antiexemplo de combate à pandemia. Seja essa responsabilidade da parte de presidente, ministros, prefeitos ou governadores.
Nunca concordei com os argumentos de seguidos governos que apontam que determinada denúncia já estava sob investigação do Ministério Público ou da Polícia Federal, para assim argumentar que uma CPI não era necessária. O Legislativo tem papel fiscalizador independente. Porém, de todo o enlarguecido escopo que essa comissão tem para investigar, vários já são alvo do MP, da PF, da Controladoria Geral da União (CGU). E agora serão da CPI. Ótimo.
Ehá outras questões, das responsabilidades e irresponsabilidades na condução da pandemia, que hoje não são investigadas por mais ninguém. Essas são as maiores causas de mortes, o que mais tem feito vítimas. Sem prejuízo de outras frentes, essa deve ser a prioridade da comissão.
Movimentos de Tasso
A propósito de Tasso Jereissati, ele disse ontem à Globonews que não tem projeto de vida de ser presidente. Mas, disse ter ciência de que alguns aliados tem mencionado o nome dele como opção. O que ele acha disso? "Eu faço parte do partido, se me apresentarem como alternativa é uma coisa que a gente tem que amadurecer." Ou seja, não diz que sim, mas também não diz que não. O problema que, nesse negócio de ser candidato a presidente, quem não quer muito e não trabalha de forma quase obsessiva para esse objetivo fica pelo caminho.
Pelo sim e pelo não, o senador cearense teve ontem reunião virtual com o apresentador Luciano Huck e o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. Assunto? Eleições 2022.
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